segunda-feira, 3 de julho de 2023

Reflexão sobre algo

 A vida é injusta ou o ser humano é que não sabe o que quer. O pintor gostaria de ser músico; o músico adoraria ser pintor; o escritor quer ser ator; o ator quer ser escritor; o cineasta é um ser frustrado pois queria ser tudo; o famoso procura o anonimato. 

O vento não arrasta qualquer um. É preciso estar exposto ao vento. Alguns têm a sorte de estar na rua quando um tornado ataca, e morrem. Outros dão o azar de estar em casa, ou protegidos, e nunca morrem mas perdem a grande experiência de voar. A vida é injusta como o bacon. Uns comem até morrer e vivem; outros são vegetarianos e se vão bem cedo. 

O feio é um sujeito feliz que não descobriu que é feliz. Ele se torna bonito quando descobre a própria feiura. O bonito tem que fazer força para não ser medíocre. Não há nada pior que a beleza e a mediocridade juntas. O bonito inteligente inveja o Woody Allen, a barba do Dostoievski, a surdez de Beethoven, a vesguice das mulheres charmosas. 

A felicidade é um sopro de atenção e percepção repentina. Ela vem do nada. Surge de uma porrada que algum dá com a cabeça, e um belo dia acorda. No leito de seu coma de dez dias o sujeito acorda para a vida. A morte traz a vida; a vida traz a morte. É um ciclo sem noção, perdido no mistério do universo nos azuis de uma estrela supernova que mata planetas enquanto semeia paraísos. 

O avesso se descobre inteiro no canto de um banheiro de uma escola, escondido do mundo, matando aula porque é inteligente e sabe que ela não serve para nada. Que não há de o levar para frente. É o inteligente que se esconde, enquanto os medíocres se matam de rir do que não entendem.

A vida às vezes passa incólume, e enquanto passa tudo passa, e isso é muito ruim. A vida só existe quando o sujeito se dá conta de que sua feiúra tem valor. É horrível ser uma beldade vazia sem nem saber que é. É uma merda fazer parte de rede social. A gente não precisa estar, mas ao mesmo tempo precisamos. 

E de tanto pensar uma poesia surge sem saber:


"De tanto carregar cavalos me entreguei aos passos

Sob o Sol do inverno que nada queima apenas a alma

Vou sozinho pelos labirintos do deserto que criei

De tanto não conseguir andar foi em ti que me apoiei

Meu cavalo amado! Meu jumento parvo!

Lanço em vão a minha lança nos meus moinhos imaginários

E espero que este deserto dure para sempre

Pois só assim hei de ter forças para encontrar uma rosa no caminho"









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