terça-feira, 26 de julho de 2011

Amor (?)

O amor é loucura. Mas será louco o amor? Quantos não se perdem nos labirintos de um sentimento inexplicável? Todo inexplicável é rigorosamente algo sem fim. E no meio deste labirinto existe um Minotauro, um monstro decidido a te aplacar.

Conhecem a lenda de Sísifo? Vem da mitologia grega. Para encurtar Sísifo foi penalizado a empurrar uma pedra de mármore ao cume de um monte. E toda vez que concluía o trabalho, a pedra se soltava de suas mãos e rolava de volta ao sopé da montanha. Sísifo então descia e reiniciava o trabalho, até que lá em cima, de novo, a pedra rolava, e rolava, e rolava.... Era uma missão. Missão é algo que não necessariamente acaba, e quando não se acaba se transforma em sacerdócio. E só há uma maneira de excercer o sacerdócio do amor. De acordo com Chico Buarque "Pra ser feliz no amor, há que se esquecer o amor."

Há muito compus uma poesia que nos últimos tempos pensei em modificar o final. Mas hoje compreendo que o final é irretocável. A pedra do Sísifo de cada um de nós vai continuar rolando, e rolando, e rolando,... enquanto o amor for um labirinto indecifrável e houver um Minotauro no meio. E mesmo que o vençamos um dia, há a inexpugnável solidão, tão inexpugnável, que nem Deus, único e solitário, a vence.

Recomeço

Um grande amor
Não se perde
Nem com a morte

Quando se perde
É porque não era
Um grande amor

Já procurei o amor por todos os lugares
Já me perdi na dor, já me enlacei nos sonhos
A felicidade é um labirinto mágico
Onde a trilha de tudo é o acaso
E onde no fim existe apenas o recomeço

Perdão...
Não sei onde me meti...
Quis encontrar o amor no infinito
Mas o amor estava em mim.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

EVERYBODY IS GONE TO THE MOON!

Uma sonda espacial terrestre se diríge aos confins do espaço. Vai em busca de um asteróide conhecido como um exemplo da matéria das mais antigas do universo. 4,5 bilhões de anos de idade. Pesquisa primordial pro bem estar de um planeta caótico chamado Terra. Projeto desenvolvido em conluio de vários países desenvolvidos. Custou trilhões.

Num momento qualquer passeia pelo espaço numa velocidade alta insignificante tamanha imensidão do Universo. Mas segue, trilhando matematicamente o negrume sutíl e imperceptível que é o espaço afora. Trajetória calculada com tanta perícia que só o acaso pode desrtruir. Mas graças à sorte nenhuma bolinha perdida, nenhuma super-nova explode em seu caminho, nenhum objeto se entrepõe em seu caminho fantástico.

A sonda embora vazia é "tripulada" por centenas de técnicos atentos em Terra. Alguns ansiosos por novidades, aparições, vagos sinais de rádio, outros comendo companheiras no banheiro para relaxar. A tensão de um projeto altamente político e que poderia salvar o mundo, mas salva apenas o "futuro" é grande. Ninguém aguenta tanta ansiedade, mas todos dormem bem com seus remedinhos de bolso.

A atenção voltada é de 24 horas. Vários países alinhados e responsáveis. Preocupados. O que será que terá lá? O que será achado naquele solo estranho e antiquíssimo à Terra. Existirá água? Traços de carbono? Puro metal inóspito? Algum novo naterial? VIDA alienígena? Ninguém saberá pelo menos nos próximos 5 anos de viagem ao "vazio" que nos cerca.

A sonda é equipada com os mais modernos instrumentos, telescópios especiais, máquinas fotográficas...
Cinco anos se passam e o assunto é esquecido nas rodas e charutos dos que sabem ler. Só os envolvidos no projeto, dia a dia, monitoram a grande voyage.

Atenção! É chegada a hora. A sonda acaba de adentrar a gravidade do planetóide obscuro. Um misto de incerteza, loucura e ansiedade tomam o ar do observatório principal. A sonda já sugada pela gravidade, espera-se que em menos de uma hora atinja ponto visível e decifravel pelos computadores. Afinal a missão acabará! Algo será visto, identificado. Apenas a sonda não poderá pousar. Pois pelas análises o planeta é muito gasoso e teme-se a destruição total do projeto caso algo aconteça de errado. Uma próxima sonda voltará nos próximos 10 anos, desta vez com a certeza da solidez necessária para um pouso concreto. Esta sonda apenas coletará partículas flutuantes dessa sutil e fina atmosfera gasosa do planetóide.

A sonda se aproxima. Todos em alerta na sala. Radares bipando, rádios emitindo, monitores enlouquecendo, todos esperando o imaginado.... MEU DEUS! Diz o chefe da missão em Terra: O QUE É AQUILO? PARECE UM HOMEM? Sim com certeza é um homem, não há dúvidas. A camera se aproxima, talvez seja um alienígena. Mas não, é um homem. E é identificável! Parece que tem estatura mediana, cabelos muito curto, ralos talvez... pele branca. A tela agora mais aproximada tem certeza. Não é "marciano". Parece bem semelhante ao Homem comum. É UM HOMEM COMUM! Grita o chefe.

O homem agita os braços. Do planeta, anos a olhar o céu, eis que chega a salvação. O homem agita os braços com mais força, com mais ansiedade, já não suporta mais a solidão social de pedras e gás...

Mas a sonda, como era o programado, coleta pedrinhas de chumbo, e em 2 horas se volta ao negrume do caminho e segue seu destino matemático em direção à Terra "home sweet home". CALMA! Pensa o chefe do comando. Voltaremos em 10 anos....

Os braços do homem se relaxam de cansaço, o pensamento do chefe não chegou aos seus ouvidos... quantos anos ainda há de esperar por um pouso? Será que o víram? Será que ele existe????

Uma coisa é certa: tiraram uma foto.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Lá vou eu de novo escrever algo inútil que ninguém vai ler.

O que é o sofrimento? Fiquei pensando nisso hoje. Cheguei à conclusão de que o sofrimento não é nada que se possa denominar. O sofrimento não é um sentimento. Quando você perde dinheiro o que dói não é o sofrimento. Quando você perde um ente querido não é o sofrimento que te machuca. O Sofrimento é o resultado da sensação advinda de um trauma.

Isso parece ser óbvio. É óbvio, agora, quando você tem consciência disso. Mas muitas vezes não é óbvio durante o próprio sofrimento. Porque muitas vezes a pessoa sofre e nem sabe o porquê. Tem gente que também sofre achando que é de uma coisa X, mas sofre de uma coisa Y.

Acho que a Análise pode clarear muito a cabeça da pessoa que sofre apenas do sofrimento em sí. Porquê ele nunca está sozinho. Ele não existe sem o fato ocorrido, ele não existe sem o soco, sem o ente querido que se esvai, sem o outro ser humano, sem o amor que faz sofrer. E é preciso descobrir a causa, que muitas vezes vem disfarçada justamente para nos enganar.

Pessoas sozinhas sofrem de solidão. Esse sofrimeno pra mim advém de uma necessidade de não estar sozinha. Você pode achar isso óbvio, mas não é. A pessoa que sofre de solidão sofre porque ama. Ama tanto que não tem como retibuir. Ou talvez tenha medo de amar (por não saber?). Muita gente que diz ter medo de amar na verdade está justificando a incapacidade de existir em conjunto, ou até justificando a impossibilidade de amar o outro como a si próprio.

Não estou dizendo que pessoas que sofrem são egoístas. Nada disso. Porém o sofrimento induz de fato a um egoísmo latente dos primórdios da existência do homo-sapiens. Afinal, quando alguém taca uma pedrada na sua cabeça, a tendência é você se retirar para um canto e sofrer sozinho. Um bichinho, um animal sofre no canto, sempre. Quem já teve cachorro sabe que quando ele sofre de doença ele se retira. Essa retirada não é uma forma de atrair o próximo, é forma de ficar sozinho, no "egoísmo" que há na própria dor, mesmo quando há a certeza de que o outro pode ajudar.

Sendo o sofrimento uma conjunção de fatores e sentimentos, incluíndo as dores diversas que podem ser sentidas, ele é apenas o resultado, e nunca um sentimento. E é um erro tratar o sofrimento. Como dizia um poeta que por acaso eu não gosto, mas que é muito considerado nas bibliotecas por aí: "A dor é inevitável, o sofrimento não."

Alguém já percebeu, olhando para o próprio corpo, sentindo as veias pulsarem, o coração bater, os músculos agirem e o ar entrar e sair, que existe uma dor, mesmo que pequena, latente no mecanismo de funcionamento do corpo? Bom... eu já. Essa dor se chama VIDA. E se dor pode ser algo expelido em troca do funcionamento de uma máquina - no caso a maquina humana, então chego a conclusão de que dor é energia. É como o calor expelido pela fricção entre partes que se tocam. Se o tal poeta está correto, e eu acredito que está, a energia que nos move é inevitável, porém nos movermos é algo a ser decidido por cada um. Dor = calor; sofrimento = fricção. Portanto é importante não se maltratar de forma alguma (se friccionar).

Existe a lágrima, que também pode ser considerada energia expelida. É o substrato de algo que já foi expelido e que é o sofrimento. A lágrima salgada que é, devia valer muito durante o império romano. Talvez secando-se lágrimas a pessoa pudesse até juntar um salariozinho interessante. Hoje a lágrima não vale nada. Quando você ja não consegue expelir lágrimas há como uma combustão interna no seu ser. Um entupimento. É geralmente assim que ocorre com os sofrimentos por amor. Principalmente àqueles em que você se sente impossibilitado, o coração atado, as mãos presas... E é assim que estou me sentindo agora.



....................................mas há o tempo. Que é o melhor solvente. E o futuro, que ninguém sabe, e é um ótimo óleo lubrificante.



sexta-feira, 8 de julho de 2011

João

João correu, correu, correu, correu. E quando parou para pensar porque estava correndo, João parou. Então João nadou, nadou, nadou, nadou. E quando parou para pensar o porquê de estar nadando, João parou. Então João voou, voou, voou, voou. E quando parou para pensar o porquê de tanto voar, João parou. Então João caiu. E durante a queda João ficou a pensar o porquê de tudo o que ele fez. Correr...nadar...voar... parar... Então sem conseguir maiores explicações para a sua dúvida, João concluiu que se não tivesse corrido alguém teria chegado antes, que se não tivesse nadado teria se afogado, e que se não tivesse voado teria caído. Mas então, João se deu conta de que apesar de todo o esforço João estava mesmo caindo de qualquer maneira. Então João pensou que talvez se ele tivesse começado pela ordem inversa, ou seja: voar, nadar, correr, ele não estaria nesta situação, e não estaria em mal lençóis, pronto para se esborrachar no chão. Aí João percebeu que pelo tempo já deveria ter se esborrachado há muito. Então João decidiu comer. E João comeu, comeu, comeu, comeu. E quando acabou a comida João bebeu, bebeu, bebeu, bebeu, e quando acabou a bebida João fumou, fumou, fumou, fumou. E quando acabou o cigarro João percebeu que havia um problema. João não estava caindo. Porque se afinal não há chão, não há queda, não é verdade? Então João sorriu, sorriu, sorriu. João então se sentiu sorrindo muito sozinho, e achou que a alegria deveria ser compartilhada. Então João deu as mãos para si mesmo e se abraçou. E sentiu seu corpo junto ao seu próprio corpo, e suas mãos sentiram seus próprios calos, e falhas, e rugas e dobras. Então João pensou, pensou, pensou. E chegou à conclusão que mãos devem servir para algo mais do que abraçar, e então João começou a escrever, escrever, escrever, escrever, escrever, escrever, escrever...e escreveu tanto, mas tanto que João pensou. Porque será que ninguém lê o que eu escrevo? Então João pensou que talvez as pessoas lessem mas não gostassem muito de comentar, embaixo de suas escrituras, as suas opiniões. Talvez por medo da exposição, ou por indiferença, ou por que não gostassem dos escritos, ou porque João não era bonito. Então João decidiu falar, pois o som é inexpugnável. Falou, falou, falou... e aí aconteceu uma coisa diferente. João decidiu parar. Pois nada valia a pena. Nem correr, nem nadar, nem voar, nem cair, nem escrever, e nem falar. Então pensou em cantar. Levantou-se da sua cadeirinha de balanço, e pegou seu violão, antigo, antigo. Tão antigo que era mais velho que ele mesmo pois pertencera ao seu avô. Só o violão possuía uns 70 anos. Violão que não era tocado há mil anos. Imagine então a idade de João! Do alto dos seus 98 anos de idade João tocou um acorde maior, que é o som da felicidade mais pura que há. E pelos seus dedos trêmulos soou uma música de felicidade, e também de corrrida, e de nado, e de queda, e de abraço, e de amor. Amor? Há quanto tempo não ouvia essa palavra. Nem pensava nela. Palavra tão antiga quanto o seu violão. Então João se deu conta de que ainda sabia um acorde antigo. Tão antigo que remontava toda a civilização humana. Então João, espalhando seus trêmulos e incertos dedos pelas cordas do instrumento, amou de verdade um sublime amor abstrato... E de dentro desse acorde fluíram lembranças fugazes, que aos poucos iam se tornando plenas e João percebeu que caíra sim. Caíra em algum lugar e que não sentira dor. E lembrou-se de sua avó, que se fora um belo dia sem avisar. E lembrou que naquele momento João realmente não sabia o que era queda, nem nado, nem nada. João não sabia nada. Era um menino. E lembrou de sua infância na Ilha do Governador, quando as águas eram azuis como seus olhos agora embotados de tempo. E João pensou no tempo que passou pensando no tempo, e percebeu que o tempo passara enquanto ele pensava no tempo. E isso deu raiva a João, pois se sentiu enganado, ludibriado pelas suas moléculas, pelas células de sua pele que não avisaram nada. Nenhuma parte de seu corpo gritara: "João, o tempo não há! Mas cuidado, João, que ele passa mesmo assim." Então João lembrou-se de quando brincava com sua irmã numa casa de pano de mentirinha, de esconde-esconde, e dos aniversários onde era convidado, e primeiro a chegar, tímido e com medo na hora da brincadeira da cabra-cega. João lembrou de seu cachorro maluco que um dia falou  (pelo menos proferiu algo) e que apenas João percebeu. E lembrou-se do dia em que colou na parede da casa da sua mãe uma caixa de papel convidando as pessoas a deixarem um trocado por vontade própria. Lembrou-se que deu certo e ficou "rico". Lembrou-se da fazenda onde durante a tenra idade acompanhava sua mãe cavalgar de longe. E lembrou de uma música. Música que ainda sabia tocar no violão. Resquício de épocas endiabradas e ácidas: Dizia assim: "Um dia eu fui nadar / Um dia eu quase me afoguei, / Mas segurei meu fôlego, / Bati as pernas / E mexi meus braços e nadei". João percebra que as memórias so voltam por causa de outras memórias que só voltam por causa de outras memórias e que estas só voltam por mais memórias e que esse é o segredo do pensamento. Que o fez correr, nadar, cair, parar, abraçar e enfim lembrar-se do seu violão, que por fim lembrou-o da música, que por fim (não existe fim) o lembrou da esperança, e do momento em que viveu uma situação em que, ainda bem garoto, sem saber nadar, quase se afogou numa piscina enquanto sua mãe fazia o almoço e tirara os olhos dele por um segundo. E lembrou-se que basta um segundo para se morrer. Mas João não morreu, porque seguiu a letra da música, e bateu seus pés, mexeu seus braços, respirou fundo e se salvou sozinho. E tudo isto antes mesmo de conhecer a tal música! E João pensou "que coisa louca é essa vida!" Que confusão de fatos e acontecimentos e músicas e quedas e violões, todos numa linha de tempo que muitas vezes pareceu a ele falsa, pois do alto dos seus 98 anos João percebeu, pela primeira vez que tudo aconteceu ao mesmo tempo. Sentiu saudades de seu avô... e uma lágrima pousou nos seus olhos. Pousou? Será que a palavra certa não seria "brotou" nos olhos? Sim, mas essa lágrima era como um passarinho. E assim João se foi, segurando firme em suas asas, com ele, num segundo apenas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Noz

Não sei o que me resta desta vida. Ou até mesmo o que resta da vida. Não sei nem o que é a vida, muito menos o que poderia me restar. Meus olhos de formiga conseguem apenas avistar nuvens, que podem nem ser nuvens. Podem ser algodão doce, podem ser abismos de vapor de moléculas, constelações, etc.

Já tenho idade suficiente para constatar a existência de todos os sentimentos tangíveis ao ser humano. Mas sou incapaz de vislumbrar algum sentimento além das minhas possibilidades de formiguinha, sentimentos quiçá divinos.

Sei que de todos os sentimentos a inveja é o que mais incomoda. Acreditaria até ser a inveja o contrário do amor, já que ela é dotada da impossibilidade de ser contida. Mas também tenho a impressão de que o amor não é um sentimento simples, porém composto. Uma reunião de todos os sentimentos juntos trabalhando de forma positiva na vida da gente, e das outras pessoas. O ódio seria a reunião de todos num vetor negativo. Portanto aceito que a inveja exista no amor e no ódio, mas nunca na renúncia.

Já o amor nunca renuncia a nada. Ele sempre está onde gostaria de estar embora muitas vezes não esteja onde tivesse que estar. É como uma janela que avista o Sol por detrás de um vidro a prova de balas.

Sei que sou alvo de muita inveja e conheço pessoas que também sofrem disto. Geralmente quem sofre disso sofre "ainda". Isso quer dizer que quem sofre de inveja já vem sofrendo há muito. Mas este texto não é sobre a inveja. Sobre ela eu posso apenas sentir uma pena profunda de quem a possui ativamente em seus corações.

Para falar a verdade, eu não sei sobre o que é este texto. Na maioria das vezes sento e escrevo sem nem pensar. Fui instigado a escrever por uma moça bonita. E por uma moça bonita é difícil dizer não. Quando a gente diz não é possivelmente porque não sabemos o que é "não".

Mas existe também o medo. Este com certeza o maior dos sentimentos. O que move o mundo não é o amor, nem o dinheiro, nem o tráfico de drogas, nem o rock and roll. O que move o mundo é o medo. Nosso primeiro medo não é o de morrer. Nosso primeiro medo é o de nascer. Mas recebemos um tapa na bunda para respirarmos e não morrermos. O ser humano é um velho automóvel com ignição à manivela. Um bebê não passa de um ser antiquado. Seu primeiro medo é o de viver, e só aprende o medo de morrer quando toma tenência do que é a vida. Irônico isso.

Às vezes acho que a vida não há. Acho que ela faz parte dos sentimentos dos deuses, proibidos aos seres humanos que podem apenas vivenciá-los mas nunca entendê-los. Às vezes acho que somos frutos de uma mangueira tão alta. mas tão alta, que não temos idéia do que é chão. Os conceitos só podem ser imaginados quando dentro de uma realidade visível. O Homem precisa conceber dentro de sua realidade. Como imaginar algo que transcende a imaginação? Talvez por isso as drogas, numa tentativa desesperada de entender e portanto pertencer ao Universo que é Deus.

No conto que se chama "Sonhos" de Tchekov três homens caminham por uma estrada reta e sem fim. Contornada por neblina grossa e intransponível à visão. Somente se pode ver a estrada à frente e mais nada. Dois dos homens são guardas e um é o prisioneiro sendo levado ao seu cárcere em algum lugar. O conto segue em conversações filosóficas e profundas, que não cabem aqui. Mas termina com os homens oferecendo a liberdade ao preso. Este diz não fazer diferença, afinal a estrada é sem fim mesmo...

Este não é pra ser um texto melancólico. Deixemos a melancolia para os russos, que com tanto frio e neblina tinham que fundir a mente mesmo. Nós temos dias mais claros e isso, acredite, salva a alma. Simplesmente porque incita uma saída, mesmo que não sejamos pássaros e não possamos voar. Até para os pássaros há um limíte atmosférico. Dentro deste mundo de possibilidades e sentimentos inimagináveis estamos presos. Somos cárceres do paraíso de Deus.

Eu só queria dizer aqui, neste texto, que sou completamente desprovido do sentimento da inveja, que admiro todos aqueles que lutam pelas suas vidas com a humildade de cães de guarda. Mata-se um leão por dia e é preciso ter fé em alguma coisa. Até o ateu tem fé, eu juro! As pessoas que eu amo são para sempre por mim amadas. E que minha música dói tanto, mesmo quando ela é alegre e faz as pessoas sorrirem. Só sorri quem não entende nada. Quem entende mesmo gargalha, ou chora. Mas não precisa chorar não, meu bem. Que o amor existe, que sabemos contruir pontes e felizmente há pedras para contruí-las. A gente se cura. E não há nada que uma geléia de nozes não resolva.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Elipse

Meu nome é E.. Eu sou um homem que não anda. Não! Não me entendam mal! Não sou paraplégico, nem uso uma daquelas horríveis cadeiras de rodas doadas por tios pederastas. Eu não ando porque não quero. Andar pra quê? Onde vou chegar? Chegar a lugar nenhum? Quem anda, amigo, nunca alcança.

Está provado pela televisão. O planeta Terra um dia colidirá com um enorme asteróide. O Asteróide anda. A Terra não. Gira em círculos que nem uma autista, mas não anda, apenas percorre o mesmo, o lugar-comum dos deuses. E esse asteróide (que anda) vai se chocar com a Terra e dizimar todos os seres que pensam andar para algum lugar, mas que estão nada mais que andando sobre uma superfície autista, que não anda, apenas percorre uma elipse.

Elipse de merda. Odeio elipses. Nunca consegui aprender matematicamente nada sobre elipses. Na minha escola de merda achavam que meu cérebro era uma elipse. Se eu pudesse mandaria a minha antiga professora à merda e enfiar a elispse no cú. Mas ela já morreu, coitada. Coitada nada! Espero que esteja vivendo uma elipse eterna no quinto dos infernos.

Um dia uns meninos malvados a trancaram na sala. Me lembro como se fosse hoje. Era recreio, o sinal havia tocado e todos haviam saído e só restara ela e os três meninos, e eles quizeram fazer o diabo com ela. Um trancou a porta e os outros puxaram sua saia. Apanharam pra caralho. Ela era bem forte. E sua bunda parecia uma elipse. Me perdoe Kepler ou qualquer outro bundão intelectual, mas a elipse é o círculo com Síndrome de Down.

Como já disse antes, meu nome é E.. Minha mãe era matemática e meu pai escultor. Ele vinha de uma família rica. Também, pra ser escultor sem ser mendigo só vindo de família rica. Minha mãe era uma louca que só pensava em elipses e hipotenusas. Meu nome deve ter sido gerado da primeira. Por isso me odeio. Nome é tudo na vida. Tenho uma amiga que se chama Astra. Porra! ASTRA??? Que merda significa ASTRA???? Nome que fica entre estrela e galã de cinema.... Não conseguiu nada na vida. O nome é o nosso prenúncio.  Mas isso não importa. Li num ensaio do Camus sobre o suicídio que a vertigem é na verdade a vontade de cair e não o seu medo. Faz sentido. Mas Camus morreu de cigarro, acho, ou de batida de carro, o que é parecido com se jogar do poste, e se chamava Albert, que é um nome até razoavelmente bonito. Portanto o que falei foi uma enorme bosta.

Sei que esse negócio de literatura é balela. Papo de otário. Porque eu li tanto na minha juventude, mas TANTO, que se não aprendi nada até hoje é porque realmente não vale a pena a tentativa. A gente tem que ter a exata noção das coisas nessa vida. Temos que saber que não importa o que façamos, a Terra gira em sua elipse idiota e autista, e isso nada terá a ver com qualquer música de Noel, qualquer quadro de Michel Ângelo, ou com a vitória do Fitipaldi há décadas atrás. O mundo é uma história de ficção científica, amigo! Você pode construir cidades, ruas, carros, gavetas, trompetes, comer putas na rua, ser assaltado, trabalhar em sua cidadezinha aparentemente normal, mas a verdade é que acima de nós existe uma infinidade de estrelas desconhecidas e que só não batemos nelas porque nossa elipse idiota nem as alcança. Somos objetos do desconhecido, mesmo que façamos toda a força do mundo para significar algo, tudo que significamos é uma merda de elipse.

Acho que minha mãe me chamou de E.. por causa disso... Ela morreu dizendo: "É elipse...  elipse... elipseeee..." Anos mais tarde um primo experto meu usou essa palavra e abriu o cofre onde ela guardava seus trocados no corredor. A puta velha que dizia ser pobre deixou meu primo rico, e no momento ele deve estar fazendo um cruzeiro em formato de elipse pelo pacífico sul. E eu que achava que minah mãe estava clamando por mim...

Moral: eu não fui importante nem para a minha mãe. Ou, quer dizer, pelo menos ela se lembrou do meu nome na hora de inventar um segredo de cofre. Também, quer saber? Foda-se! Esse meu primo se chama Farniseu. FARNISEU! Ouviram? Que especie de nome é esse? Pior que pega todas as gostosas. Elas dizem que o nome remete a pau grande. Mas é mentira, a única coisa que as mulheres olham num homem é a carteira, quem gosta de pirú é bicha, amigo!

Mas pra encerrar esse texto elíptico, quero comunicar que já peguei meu copinho de guaraná da madrugada, e meu biscoitinho de canela e meu cigarro. Espero fumar até morrer, mas como quem espera nunca alcança, nunca consigo morrer dele. Dizem que tem veneno de rato nos cigarros. E daí? Os ratos é que estão bem. Tem mais rato na Terra do que gente. Eles não estão morrendo nem com chumbinho. Estão melhores que os Homens que morrem com qualquer porcaria.

Um minuto... estão batendo na porta. São 5 da manhã. Só pode ser a novalgina da farmácia ou uma puta que eu contratei há uma semana atrás, mas que sempre teima em chegar atrasada. Se for assalto tudo que eu tenho são cinco reais e o cara vai ter que fazer uma trajetória eliptica até o buraco onde se esconde! HUAHUAAU!

Vou atender a porta. Boa noite, otários. Vão dormir sonhando com elipses agora! HUAHUAHUA!



terça-feira, 5 de julho de 2011

Impossibilidades e Rosas

As pessoas acham que sou pedra, quando na verdade sou terra.
Acham que sou vento quando na verdade sou ar.
Acham que sou fogo quando na verdade sou cinzas.
Acham que sou céu, quando na verdade sou um copo d´água.
Elas, as vezes, acham que me podem quando eu mesmo não me posso.

Queria eu também ter a pedra fundamental pra me construir.
Queria eu também ser o vento que encerra as calmarias dos galeões.
Queria eu também renascer de minhas próprias cinzas e voar.
Queria eu também ser o reflexo que dirigisse os destinos de uma flor.
Elas, as flores, às vezes, acham que posso quando na verdade estou podado.

Todo jardim precisa de um regador
Todo regador precisa de água
Toda água precisa de uma rosa que precisa de um vidro protetor e uma raposa
"Tu és eternamente responsável por quem cativas."
Mas lembrem-se:
A responsabilidade é feita de amor
A impossibilidade é feita de solidão.



sábado, 2 de julho de 2011

A Lua

A Lua, que tanto seduz os poetas como eu, só pode ser comentada de dia, pois que à noite é impossível desfocar-se dela. Lua. Tão louca. Não é tão louca quanto os que a admiram. Uma massa cinzenta de terra que deve nos seduzir talvez pela falta de atmosfera mais que pelas marés.

Lua dos que se perderam é guia dos que se acham nos mares. Sua luz de cozinha de refeitório atrai mosquitos a uma viagem eterna. Lua endiabrada, dos fados, das quimeras, é o que ilumina as fogueiras. Se o Sol queima a pele, a Lua queima a alma. Só os poetas a alcançam. Só os bardos a cantam. Possível criadora da arte, abriga a loucura nas suas fases. Face? Só tem uma. É o escuro-brilhante, o espírito galgante, o amargo alento, o cavalheiro galanteador. Uma rosa entregue a uma mulher não significa nada sem a Lua. Uma cerveja só não é brega se estiver sob a Lua. Lua bebível, comível, mal traçada, de circunferência que engana, traça presa no céu, devorando a noite... só não foi considerada buraco pelos antigos, dado o seu sorriso torto, que em milhas e milhas ulrapassa em enigma a Giocconda.

Lua dos mal-trapilhos, dos mendigos, dos errantes, dos judeus. Lua temida porque tráz a loucura em sua poesia. Um Homem deixa de ser normal ao avistá-la à primeira vez. Lua que circuncida a alma. Outro Homem nunca mais será são ao escrevê-la. Entretanto, como escrevê-la com sanidade? Lua...Poste de Deus, primeira parada ao espaço infinito, a Lua é a vertígem ao avesso.

A Lua pertence aos loucos, aos presidiários, das barras físicas e das morais, das barras introspectívas e das fenomenais, das impostas e das facultativas. A Lua é o labirinto onde um príncipe se esconde, e para onde as raposas úivam - Lua... tu és responsável por quem cativas! Sua raiva não existe. Sua dor é desconhecida. Seu amor amargo e doce. Uma vez por mês tímida, vai sair vestida de meretriz a qualquer momento. Lua puta! Se pudesse falar............. e fala! Diga-me então, Lua, responda-me a simples e impossível pergunta: Porque tão amada pelos poetas loucos?

- Porque se existe um preço para se estar na Terra, em mim pode-se estar de graça. Porque sou feita de pesadelos e sonhos bons. Sou o inatingível. Porque só existo de longe, e uma vez pisada perco a graça. Sou dos que precisam, sou dos que sofrem as desordens da mente, sou dos que caem em minha maldição, que é escrever-me e apagar-me. Vai me amar até entender-me, e terá que aguardar pela noite dos tempos! Estar na Terra, em solo firme, à luz do Sol, HÁ! Isso é fácil! É pra qualquer um. É para os medíocres. Só os inúteis, os vagabundos, os artistas, os fugazes, os perdidos me alcançam. Estar em mim é sonhar, é vagar, é sofrer e gozar. Sou de prata e Deus fez o ser humano apenas para me polir.

Já cantei a Lua. Já vivi em suas crateras. Já me perdi em suas cavernas. E volta e meia dou saltos de maizena. Todas as noites tento alcançá-la e me vou. Sou fruto de seu desapego, tornei-me maluco e mais humano por causa dela. Fiz música. Minha primeira música da minha vida. Vou e volto quando quero. Sem foguete. Sem contagem regressiva. Há que se aprender o caminho de volta. Há que se voltar! A Lua é um labirinto, há que se caminhar por ela deixando contas pelo caminho, senão perde-se. Cuidado! Há sempre que se deixar traços! Mas apague-os uma vez que retornar, pois o caminho deve ser secreto, e é de cada um. E nunca se esqueça! A viagem pode ser sem volta uma vez que ela for de queijo.