segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Esperança

Existe alguma coisa de algodão nesse chumbo que eu não sei o que é. Algo de irrespirável que alivia, nuvens de cigarro por onde passam aviões pelo meu céu. Beleza de estátua, beleza querendo se movimentar e ao mesmo tempo presa na pedra de Carrara. Uma pessoa pintada de prateado em cima de um pedestal na Av. Nossa Senhora de Copacabana esperando que um vintém caia e um vento mais forte a derrube.

Existe em você a explosão das super-novas, e a inércia das nebulosas coloridas. A abdução pela própria vida prejudicial à a própria vida. O abuso de si mesmo disfarçado de beijo. O dedo em riste ao mesmo tempo apontando ao horizonte. A falta de noção da luz que reside na treva, e a inteligência dos beduínos que se cobrem de negro para acumular o calor do deserto.

A pinta que na verdade é maquiagem. A vida que na verdade maquia. Os desejos incontidos numa massa de modelar de criança que gruda no tapete e não sai mais. Existe em você uma cauda de elefante maior que a tromba, e uma árvore tão grande, mas tão grande, tão inatingível de alta, que vai além da estratosfera, escapando do oxigênio e sufocando a si própria.



Existe em você um campo de futebol vazio, com um estádio cheio, e os jogadores tentando destrancar a porta do vestiário que ficou presa num cadeado enferrujado. Existe em você um engarrafamento monstruoso e um guarda enlouquecido fumando maconha por detrás de um arbusto.

Há em você os mistérios do ser-humano. Há em você seres humanos misteriosos. Existe em você a vontade de seguir não se sabe pra onde. As catástrofes cobertas de flores. Os abismos cobertos de cores. Os sonhos tão fáceis de não serem atingidos. Há um caminho de labirinto, mas que na verdade é reto e sem fim. Há que se livrar da sua própria kriptonita histórica. Existe em você...

Há um mistério contido nos seus olhos de seda. O mistério dos bichos que tecem seda. Há uma esperança nas mãos. E, por fim, há uma desesperança latente que um dia há de te salvar.

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