quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Somos Cogumelos

Em minha alma não existe um pássaro, existe uma estrada. Em meu peito não existe um pássaro, existe um labirinto. Em meus olhos não existem pássaros, existem aranhas. Em meus cabelos não existem pássaros, existem pincéis. Em meus dedos não existem pássaros, existem bordéis. Em meus pés não existem pássaros, existem fiéis. Em meus sonhos não existem pássaros, existem montanhas.

Sou o que sou, e sou o que sou. Nada mais me ilude. Nem as fogueiras das paixões, nem as flechas dos estúpidos. A vida é feita de pegadas na água. O destino é fluorecente e escondido por cordilheiras impenetráveis. É preciso ser uma broca de chumbo. É preciso ser o vento. É preciso ser a própria erosão do universo para ultrapassar os confins de cérebros alheios.



O Universo é pra mim um vaso de planta. Onde Deus, um dia, plantou um carvalho, e onde o diabo plantou uma orquídea. A noite dos tempos acabará quando a orquídea sugar, com toda a sua beleza, o incomensurável pão do carvalho de Deus. Será uma guerra sempiterna entre a boceta azul mais linda do mundo, e o pau mais grosso e viril que existe. Temo pelo pau, pois sabe-se bem: quem tem boceta tem a força. Mas o pau há de aguentar o tranco da orquídea.

Orquídeas são flores de esquisita beleza e estranha natureza. São o que há de mais belo entre as flores, mas precisam de um carvalho para sobreviver. Não possuem raízes (pelo menos a maioria). Os carvalhos são lentos, e vigorosos. São verdadeiros canhões de seiva bruta. São eles que seguram a terra. São a gravidade em forma de planta. São mastros que se espalham pelos lados e se transformam em labirintos. São prédios onde habitam desde morcegos a macacos e uma infinidade de seres insignificantes.



Este mundo é dos seres insignificantes. Mais dos insignificantes do que das plantas. O Homem é um conviva. Não representa 30% do que há de vivo no planeta. O Homem é uma orquídea feia, que suga a Terra como se suga a um carvalho. Não plantamos raízes, quando plantamos são frágeis. Ainda somos cada vez mais nômades em busca de uma felicidade de seiva. Trocamos de lados com facilidade, mas não somos belos. Somos feios. Nada fede mais que o animal Homem. Um cachorro com uma semana sem banho fede menos que um mendigo que anda na rua sem se lavar há uma semana. Há que se desejar distância do ser comum - Homem.



O Homem é um otário. Vencem sempre as ilusões. O Homem é um ser que vive de ilusões e de veleidades. Nossos sentidos são poucos. Nada sabemos dos mistérios do infinito. Possuímos conceitos do tamanho de formigas, e rastejamos uns pelos outros. O Homem é um mar de egocentrismo. O Homem se acha Deus mas não passa de uma orquídea feia, expelida de um Paraíso, e cultivada pelo diabo. Nem bonitos, nem perfumados, nem azuis somos. Nos comunicamos através de subterfúgios e cultivamos nossos próprios umbigos.

Somos o sal da merda, o mal em oferta, o diálogo das bestas, o marketing dos medos. Medo pra quê? Nada pode ser pior que nós mesmos. Temos medo de parar de sugar nossos carvalhos diários. Somos nômades de galho em galho. Não somos nem seres. Somos conjuntos de células que funcionam sabe-se lá como ou porquê. Somos colônias vivas de micro-seres desaparecidos e fedorentos, protegidos por mitocôndrias. E nos preservamos através de uma meleca chamada DNA.

Mas produzimos muitos choques internos mentais, e a santa música...

Somos colônias. Somos cogumelos mágicos...

Algo no universo nos consome pra dar onda.


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