quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Só enxerga a alma


 A humanidade é desesperada. Será o amor? Será o Sol queimando a retina? Será a busca? Que busca? A busca pelo que não se conheçe não é busca, é desespero. Como procurar algo que não se sabe nem o que é? Isso muito me aflige e buscarei algum paliativo algum dia se tiver a coragem disso. Mas já senti o que John Lennon escreveu tão perfeitamente "eu sou ele assim como você sou eu e nós somos todos a mesma coisa". E foi lindo sentir isso. Clamo por sentir isso de novo!

A humanidade é perdida. Porque estar à procura de algo que se desconhece o porquê, nem o quê, nem o quando, nem o onde é estar completamente perdido. O homem estava parado na rua quando um carro passou, um sujeito dobro do seu tamanho o pegou, o jogou no porta malas e sai desenfreado rasgando a esquina, um som insuportável de giz no quadro negro nil vezes mais forte, duas mil vezes mais irritante. Esta é a humanidade vivendo o seu ponto de interrogação. Tudo que acontece no mundo é regido pela falta suprema da informação. Há um anjo à solta que nos olha de cima e sorri compassivamente nosso caimento. Não é um anjo malvado. É um anjo apenas. Não há mais informações sobre isso.

Eu escrevo aqui as palavras ditadas pela minha insônia. Dormir pra quê? Quando há tanto para pensar, desvendar. Deslindaremos o labririnto sem portas, sem solução. Um eterno jogo de Paciência que nunca termina. E no rastro celebre de uma rua dourada nossas vontades e aterramento se encontram num poste de luz amarela, e ele nos pede enfim que desvendemos uma charada à qual, não decifrada, não passaremos à lugar algum.

Eu adoraria apertar um botão e mudar meu pensamento. Mas no momento isso é impossível, e talvez seja sempre. E a comezinha esperança de que um dia eu possa me afundar em fontes de caleidoscópios mágicos se perde no medo físico da doença, da tonteira da alma, que me faz olhar para a esquerda quando meus olhos se viram para a direita.

A torneira insistentemente pinga

É essa a chuva ou é desse o homem?

Quem sabe é a última moringa

De onde sai a água que se come

A alma vale ouro

Mas o ouro vale a alma?

Onde fica o tesouro?

Não posso saber quem me ama

Sou cego, ao Homem tudo é escuro

Só enxerga a alma









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