A catástrofe no meio de Nova York é emblemática. Esse é o símbolo do medo americano. O próprio medo consegue ser algo conceitual naquela sociedade. Não é um simples medo, é um trauma vivido e incrivelmente previsto, por outros filmes do gênero, exibidos antes do fatídico dia de setembro. Mas isso é só um fato, não é o mais importante.
O mais inquietante é a situação americana atual. A psiqué americana está abalada, e eles perdidos, não sabem realmente pra que direção seguir. Que caminho tomar? O que fazer quando uma crise detona uma super-potência? De um lado enfrentam um terrorismo despertado pelo mundo "civilizado" - eles em especial. Por outro lado emerge uma outra super potência que amedronta pelo seu tamanho e civilização - a China pós cortina fechada. E por dentro, corrói o povo, uma situação indefinida, que funcionou durante décadas, mas que pelo jeito, parou de funcionar - a de ter dois partidos de direita, similares e antagônicos ao mesmo tempo, os únicos com chances reais de chegar ao poder. Não se deram conta de que precisam se renovar. Que talvez fosse necessário um partido diferente, com idéias e técnicas menos nacionalistas e mais antenadas com a realidade atual, e com o passado, que colocou este país no lugar de maior do mundo.
Em poucos anos os US vão ser um país meio latino. Os US não querem ser isto. O KKK não deseja isto, nem as fraternities universitárias, com seus dogmas que sustentam a amizade interesseira. Não existe amizade solitária. Esse conceito não foi a pedra fundamental do avanço surpreendente dos Estados Unidos. Paradoxalmente o que colocou os EUA no lugar de primeiro do mundo foi justamente a "invasão" dos imigrantes, a força de trabalho destes degredados, impossíveis de sucumbir sem lutar.
A constituição americana é revolucionária. Porém não adianta uma constituição sem um poder judiciário que seja antagônico a ela mesma. Os USA são um país governado por juízes, e não por um presidente, e por isso, - quer dizer... depois disso - a coisa realmente funcionou.
Porém, 80 anos de fartura, trabalho, construção, e braços dados (apesar das segregações pesadas) geraram uma geração (trocadilho legal) trabalhadora, porém que consome mais do que produz, e que não sabe , e "não pode" mudar. Um partido não deseja mudar. O outro não sabe mudar. E, a não ser que, do meio desta situação caótica que se encontra, tendo gerado uma dívida de bilhões, galgada na fartura de quem teve o poder e o direito convicto de que podia comer sem pagar, é nítido a espera de um herói, que salve a sociedade americana da invasão dos "alienígenas".
Só que, quando os alienígenas somos nós mesmos a coisa passa a ser muito mais freudiana do que hooveriana. Portanto esses filmes, de mensagens subliminares, às vezes até inconscientes, onde pareço ver, se passá-los rapidamente na moviola, a palavra HELP US, PLEASE!.
Filmes assim, fantásticos, onde o caos é resolvido por gênios heróicos e seus poderes brilhantes, demonstram a ansiedade de um povo que tem o costume de transformar qualquer coisa em dinheiro, até o seu próprio medo vira fonte de renda. O incrível é que se eles percebessem isso, talvez este pudesse até ser um caminho para a saída.
O labirinto em que os EUA se meteu foi criado por eles, não por outros. Não estou criticando. Sou humano e criei os meus próprios labirintos durante minha vida inteira. Um povo pra mim é como uma pessoa. Talvez os EUA venham ter a sorte que tiveram no passado, de encontrar algum gênio, líder, que os faça entender a problemática de sua situação, e haja conforme. Mas isso é difícil quando o que esperamos é um Homem-de-Aço, ou um Capitão América.
Líderes são feitos de carne e osso, e muitos deles desembarcaram em Nova York em navios quase tão grandes quanto o Titanic, há 100 anos atrás. Eram pessoas normais com vontade e força de trabalho extra. Também negros, que livres de uma escravidão pútrida, escolheram trabalhar ao invés de reclamar. Depois se acomodaram e inventaram o Rap. Assim como os brancos que reclamam dos negros, dos latinos, dos imigrantes ilegais, dos emigrantes que desejam entrar, mas não podem, devido a leis antigas e burras.
Não existe mais o Capitão America. Ele realmente é "vintage", como o próprio menciona no filme, num diálogo perdido, e aparentemente sem importância, mas que resume tudo. O arquétipo americano mudou e tem que mudar, pois que o mundo esta cada vez mais veloz e em constante transformação. A salvação americana está em sua história e não no Obama.
Heróis que podem salvar os EUA:
Homem de Aço - reconstrução da indústria metalúrgica americana, e de outras, sucateadas pela política de "fabricar em outros países mais baratos".
Thor - O estrangeiro, que é quem traz o martelo, que bate o prego na construção, que precisa se localizar, e que é, e sempre foi o herói nato, aquele dotado da vontade dos que vêm de fora e possuem os braços que os de dentro não têm. Semi-deuses sem nada, e tudo a perder.
Capitão America - O velho espírito libertário americano. A vontade de ser uma nação à altura de seu merecimento. Com a sabedoria de que o merecimento não é inerente às cores de uma bandeira, mas sim ao que se faz com ela.
Incrível Hulk - A raiva e força inconsciente, que pode destruir ou construir. A coisa que simboliza recuperação. Que representa o poder de se transformar num monstro. No caso do filme, um monstro bom. (Que é o que eles desejam.)
A Mulher - A força sempre está nas mulheres. Os homens são apenas desbravadores. Constroem, mas não sabem preservar.
Desculpem este texto, vindo de um humilde músico, que nunca se formou em política ou coisa parecida. Mas essa é a relação que eu percebi, entre este filme e a realidade de um povo perdido. A solução é mais fácil do que parece, para quem a enxerga de fora.
Um país não é feito por homens. Um país é feito por homens e mulheres livres. Os EUA precisam recuperar a liberdade que um dia pregaram.
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