quinta-feira, 7 de julho de 2011

Noz

Não sei o que me resta desta vida. Ou até mesmo o que resta da vida. Não sei nem o que é a vida, muito menos o que poderia me restar. Meus olhos de formiga conseguem apenas avistar nuvens, que podem nem ser nuvens. Podem ser algodão doce, podem ser abismos de vapor de moléculas, constelações, etc.

Já tenho idade suficiente para constatar a existência de todos os sentimentos tangíveis ao ser humano. Mas sou incapaz de vislumbrar algum sentimento além das minhas possibilidades de formiguinha, sentimentos quiçá divinos.

Sei que de todos os sentimentos a inveja é o que mais incomoda. Acreditaria até ser a inveja o contrário do amor, já que ela é dotada da impossibilidade de ser contida. Mas também tenho a impressão de que o amor não é um sentimento simples, porém composto. Uma reunião de todos os sentimentos juntos trabalhando de forma positiva na vida da gente, e das outras pessoas. O ódio seria a reunião de todos num vetor negativo. Portanto aceito que a inveja exista no amor e no ódio, mas nunca na renúncia.

Já o amor nunca renuncia a nada. Ele sempre está onde gostaria de estar embora muitas vezes não esteja onde tivesse que estar. É como uma janela que avista o Sol por detrás de um vidro a prova de balas.

Sei que sou alvo de muita inveja e conheço pessoas que também sofrem disto. Geralmente quem sofre disso sofre "ainda". Isso quer dizer que quem sofre de inveja já vem sofrendo há muito. Mas este texto não é sobre a inveja. Sobre ela eu posso apenas sentir uma pena profunda de quem a possui ativamente em seus corações.

Para falar a verdade, eu não sei sobre o que é este texto. Na maioria das vezes sento e escrevo sem nem pensar. Fui instigado a escrever por uma moça bonita. E por uma moça bonita é difícil dizer não. Quando a gente diz não é possivelmente porque não sabemos o que é "não".

Mas existe também o medo. Este com certeza o maior dos sentimentos. O que move o mundo não é o amor, nem o dinheiro, nem o tráfico de drogas, nem o rock and roll. O que move o mundo é o medo. Nosso primeiro medo não é o de morrer. Nosso primeiro medo é o de nascer. Mas recebemos um tapa na bunda para respirarmos e não morrermos. O ser humano é um velho automóvel com ignição à manivela. Um bebê não passa de um ser antiquado. Seu primeiro medo é o de viver, e só aprende o medo de morrer quando toma tenência do que é a vida. Irônico isso.

Às vezes acho que a vida não há. Acho que ela faz parte dos sentimentos dos deuses, proibidos aos seres humanos que podem apenas vivenciá-los mas nunca entendê-los. Às vezes acho que somos frutos de uma mangueira tão alta. mas tão alta, que não temos idéia do que é chão. Os conceitos só podem ser imaginados quando dentro de uma realidade visível. O Homem precisa conceber dentro de sua realidade. Como imaginar algo que transcende a imaginação? Talvez por isso as drogas, numa tentativa desesperada de entender e portanto pertencer ao Universo que é Deus.

No conto que se chama "Sonhos" de Tchekov três homens caminham por uma estrada reta e sem fim. Contornada por neblina grossa e intransponível à visão. Somente se pode ver a estrada à frente e mais nada. Dois dos homens são guardas e um é o prisioneiro sendo levado ao seu cárcere em algum lugar. O conto segue em conversações filosóficas e profundas, que não cabem aqui. Mas termina com os homens oferecendo a liberdade ao preso. Este diz não fazer diferença, afinal a estrada é sem fim mesmo...

Este não é pra ser um texto melancólico. Deixemos a melancolia para os russos, que com tanto frio e neblina tinham que fundir a mente mesmo. Nós temos dias mais claros e isso, acredite, salva a alma. Simplesmente porque incita uma saída, mesmo que não sejamos pássaros e não possamos voar. Até para os pássaros há um limíte atmosférico. Dentro deste mundo de possibilidades e sentimentos inimagináveis estamos presos. Somos cárceres do paraíso de Deus.

Eu só queria dizer aqui, neste texto, que sou completamente desprovido do sentimento da inveja, que admiro todos aqueles que lutam pelas suas vidas com a humildade de cães de guarda. Mata-se um leão por dia e é preciso ter fé em alguma coisa. Até o ateu tem fé, eu juro! As pessoas que eu amo são para sempre por mim amadas. E que minha música dói tanto, mesmo quando ela é alegre e faz as pessoas sorrirem. Só sorri quem não entende nada. Quem entende mesmo gargalha, ou chora. Mas não precisa chorar não, meu bem. Que o amor existe, que sabemos contruir pontes e felizmente há pedras para contruí-las. A gente se cura. E não há nada que uma geléia de nozes não resolva.

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