"Os lunáticos estão na minha cabeça."
Pink Floyd
Digredindo das mazelas e precipícios da alma do ser humano contemporâneo posso me ater a uma razão simples: não caem mais flores do céu como antes. Há menos de cem anos o mundo era chato. Não havia televisão, telefonia era ruim, carros não tinham vidros fumê, discos arranhavam, agulhas de diamante, e sem Rivotril. Plantava-se às vezes batatas e tomates no quintal, havia mais árvores, mais trepadeiras, e mais gente indo dormir cedo - trepava-se muito mais. Hoje as flores não caem como antes. Era mais natural bater na porta do vizinho. A vizinhança tinha a sua necessidade de compartilhar o que hoje não têm mais - a falta.
Eu, sentado na porteira, acendo meu reles cachimbo, aliás não fumo, e tusso em prol da universalidade dos afagos. Aqui, nesta fazendinha afastada milhas de distância de outras milhas, eu acarinho meu joelho sentindo o tempo passar. Solto argolas de nuvens pela boca fazendo caretas engraçadas, e espero uma menina que não vem, mas virá.
São outros tempos, e eu sei que se faltar farinha de milho o meu vizinho me bastará. Minha roça é a cidade grande, e como não poderia ser diferente! Cidade grande já foi roça se comparada com o que é hoje em dia. Mas o meu dia é claro, muito claro, com sol e madrigais, e não como minhas noites atuais onde estrelas são meus sois cada vez mais distantes e findos.
Tomo um trago da aguardente de inhame, e sei que vou viajar bem mais do que numa mini série de TV. Leio o hebdomadário semanal e tenho certeza que as notícias são bem importantes, porém chegam atrasadas em minha fazendinha no meio do mato. Isso vai, com certeza, me levar a bater na portinha rota do meu cunhado e perguntar a ele o que foi mesmo o que aconteceu, se o rádio dele pegou hoje a estação de notícias e ele conseguiu ouvir o que o idiota do presidente falou mas quase ninguém prestou atenção. Não porque não quiseram, mas porque não puderam captar pelas frequências do aparelho.
Sei que tudo isso, e muito mais, pois posso parar nunca de escrever. Tamanho marasmo existente, vai me fazer bater na porta da casa ao lado, que vai bater na porta da casa ao lado, que vai bater na porta da casa ao lado, que vai bater na porta da casa ao lado, e no final infindável dessa corrente as informações serão estranhas e incertas, mas com certeza vamos nos reunir pra discutir verdades e mentiras na varanda de alguém num domingo de madrugada.
E aí eu vou estender a mão, olhar para o meio dela e viajar pelo meu cérebro cheio de lunáticos.
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