terça-feira, 21 de agosto de 2012

Mal sabe ela.

"There was a time when I was so broken hearted...."
(Aerosmith)

Eu só gosto de andar nas ruas à noite. Muita gente me acha esquisito. Muita gente ri da minha pele  transparente. Muita gente me acha estranho. Muita gente me acha isolado. Muita gente não acredita que eu não vou à praia. Muita gente me critica por não gostar do Rio de Janeiro do jeito que é. Muita gente não vê em mim as luzes que iluminam as calçadas por onde ando. Gente estranha essa.

Eu também ando de dia. meu signo de agosto é o próprio Sol, e eu sinto fogo em meus pés. Porém não gosto de andar de dia. Muita gente critica minha revolta. Muita gente acha que eu deveria ter paciência com os velhinhos que emperram o fluxo das calçadas. Muita gente acha que eu deveria comprar um cachorro pra fazer xixi e eu catar cocô. Muita gente acha que eu deveria andar sem ouvir meu Ipod que nem um louco cruzando tráfegos de ônibus que tentam me assassinar. Muita gente acha que eu deveria sorrir sem motivo.

A verdade é que o Sol é meu amigo, mas a Lua é minha namorada. E meus pés carregam dentro deles a energia estática dos velhos Mustangs do deserto, e acho mesmo é que os velhos é que não têm paciência comigo. Sou uma flor estática. Sou uma concha do meio fio. Muitas vezes, colado em pixe, tive que mascar chiclete e fingir que o tempo não existia em minha boca. 

Portanto, não há nada como uma noite vazia. Um caminho sob o luar, mesmo que seja pela Nossa Senhora de Copacabana, por entre os mendigos e bêbedos que tanto conheço bem. Sou daqui. Um dia já catei tatuí na praia, no outro catei moeda no chão. Se passei uma imagem de paupérrimo revoltado, você errou, amigo. Se a Marisa pode ter o seu Universo Particular porque eu não posso ter o meu Lixo Próprio? 

E esse lixo é como uma daquelas caixinhas de marionetes da época de Versalhes. Feita para crianças fantasiarem o futuro. Assim eu fantasio meus sonhos colhendo imagens pela noite vazia e perigosa. Sou protegido, nada me atinge. Se um ladrão se aproxima, eu o saúdo; se um pedinte me aborda, eu agradeço. Não há nada que me atinja mais do que as pedras do calçamento, e me dão paz. 

Já estive em muitos lugares. Já percorri o mundo, e já fui enganado pelas meretrizes, e abraçado por traficantes que me tomavam por cliente. Otários. Eu não compro nada que não me faça a cabeça. Da noite, eu já a percorri de cabo a rabo em todos os continentes. Já estendi meu lençol de pano de bruma em todas as ruas. Quando em Londres, eu desviava o "fog". Quando em Israel eu desviava as pessoas, quando em New Orleans eu desviava os ratos, e quando no Rio eu desvio o lixo acumulado nas calçadas.

E sabe o porquê? Porque passei a vida a procura de amigos. Mais que amigos! Passei a vida à procura de alguém que fosse pra mim. Alguém que raciocinasse. Alguém que me olhasse nos olhos e dissesse: compreendo! Se achei? Não. Só digo que continuo procurando minha utopia marginal, por entre frestas e buracos dos labirintos da cidade, que são compatíveis com os da minha alma. Pois o que é a cidade além da nossa carne em putrefação? 

Adoro vagar à noite. É quando consigo pensar. Adoro o "me sentir sozinho". Aprendi a tirar proveito da saudade. Aprendi a ser um leão solitário. Gosto das buzinas esporádicas. Dos estabelecimentos bem fechados. Admiro o caos neurótico em energia potencial, esperando explodir de manhã. Sinto o frio nos ossos e isso me queima mais que o Sol. Gosto dos seres da noite. Estudo os micróbios sociais como se eu fosse um deles. Mas não sou nada disso.

Hoje, depois de tocar uma música, uma menina me disse que na verdade eu sou um romântico. Mal sabe ela....



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