Li uma vez, quando morei na Inglaterra, um conto lindo lindíssimo do grande escritor Roald Dahl sobre um menino que sofria muito bullying. Um dia ele foi perseguido pelos outros meninos, e correndo, adentrou uma floresta, onde num determinado instante, se viu encurralado entre uma enorme árvore e os meninos que corriam em sua direção.
Em seu desespero, de não saber o que fazer, ou pra onde ir, ele subiu na árvore. Sendo seguido pelos meninos que rugiam atrás dele. Em determinado momento não havia o que fazer. Ele ia ser pego...e aí... ele voou!
É mais ou menos assim. Faz tempo que li este livro, no original em inglês, nos meus tempos de London Town. Já perdi o livro. Na verdade era de uma biblioteca, e eu o devolvi. Nunca mais encontrei esse conto em alguma compilação, ou em qualquer original. Mas nunca saiu da minha cabeça a metáfora, até certo ponto surrealista, da obra do grande autor. Só sei que não há conto mais lindo e verdadeiro, que possa expressar, e consiga demonstrar a fúria do medo, e a capacidade que cada um de nós tem de esvair-se, ou superar-se às linhas limítrofes do que aflige a alma ou o corpo.
E neste domingo (pra mim ainda é domingo apesar da hora) de sol e chuva, em que não saí de casa, e já acordei me sentindo fisicamente mal. Penso nas experiências da minha vida. Eu que tenho apenas quarenta anos, e sinto que tudo já vi, cada vez vejo mais e enxergo menos.
Sinto que minha vida, bem como a vida de toda a gente, é como esta metáfora do Dahl. Nós nascemos e começamos a correr. Correr de algo que não sabemos bem o que é, e que vamos nos dando conta, ou não, durante o percurso, que fica cada vez mais intenso. E em determinado momento é preciso voar para não sucumbir.
Outras vezes penso que a metáfora do conto simboliza a morte, o fim, o momento de libertação da alma. Onde nossos algozes são vistos de cima, e criamos asas, e simplesmente nossos músculos apenas tensionam leveza e suavidade, leves, flutuando por aí, livres de todo o mal do mundo.
Mas no fundo acho que este conto nada tem a ver com a morte. Tem a ver com o ápice do sofrimento e com a própria redenção da alma através da nossa força, proveniente do nosso instinto de sobrevivência. Há um momento em que nossa necessidade é tão grande, nosso fundo de poço tão profundo, nossa perseguição tão perto do fim trágico, e a árvore tão alta, e o medo de ser pego, capturado, trucidado pelas "coisas"... que simplesmente abrimos asas e alçamos vôo. Libertários e livres!
O fundo do poço, como o topo da árvore em perseguição, são reais. E necessários há todos que possuem sangue nas veias, que tanto nos faz sofrer. E àqueles que simplesmente não têm chances, ou que por algum motivo, (que já não conhecem mais, ou nunca conheceram), chegam à beira do abismo, e precisam de alguma forma voar para não cair.
E nesse momento voam... e se transformam em pássaros.
Roald Dahl
Li em algum lugar que sempre nos nascem asas à beira de um abismo...
ResponderExcluirBjs e meu atemporal amor,
Claudita.
Maravilhoso conto meu querido! muito bom. beijos Gi
ResponderExcluirAh, meu amor...vc já tem material para um livro!
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