O Rio Comprido era um bairro que descia como um vale vindo de Santa Teresa e que virava Tijuca. Parte nobre do Rio de Janeiro há pelo menos uns 200 anos, o seu Rio Comprido virou um viaduto construído na década de 70, e que infelizmente ainda fez o favor de desmoronar na cabeça das pessoas logo após a contrução. O Rio Comprido tornou-se então um viaduto.
O Museu, a orla do centro da cidade, seus quiosques aristocráticos de uma época de Império, são passagem incólume, porém ao mesmo tempo imperceptível ao sujeito ignorante, ao turista, e ao distraído. Suas margens devidamente aterradas deram lugar a um viaduto da Perimetral, que destruiu socialmente a região, em função de fazer o trafego fluir mais rápido na cidade. E não "existem" mais.
Quando morei nos EUA, morei na cidade dos Anjos, e tenho certeza que todos os "angeles" se perdem num tecido emaranhado de pontes e viadutos que levam a todos os lugares. Tudo que leva a todos os lugares na verdade leva a lugar nenhum. E percorrendo a cidade enorme, com um olhar prescrutador, pode-se perceber cantos de beleza natural encobertos por "freeways" e "higways" que balançam tanto quanto os terremotos diários da cidade.
Mas porque será que estou falando de pontes e viadutos? O que eu quero dizer é: voltando ao início, à Praia dos Amores, penso, quantos amores não foram encobertos por viadutos construídos pra que nós pudessemos de fato nos locomover, nos encontrar? E então penso que são tantos os viadutos desta vida que tenho a certeza de ser cada vez mais difícil alguém chegar a algum lugar. E que talvez se não houvessem contruído um minhocão em cima de um lugar tão perfeito como a Praia dos Amores, a vida seria mais ágil até. Pois, de que vale um viaduto que nos leva pra qualquer lugar quando existe uma Praia dos Amores pra te levar a lugar algum?
Eu que amei tanto em minha vida. Parece que a cada amor florecido construíram-se viadutos por cima, interrompendo assim a visão das minhas Praias, dos meus quiosques, dos meus museus de felicidade. E que exerceram a função de destruir os meus lugares de sonhos, apenas para que eu chegasse mais rápido a algum outro lugar que não existe dentro de mim.
Quantas mulheres praia-dos-amores vieram seguidas de viadutos que me roubaram a visão e adulteraram a natureza do que eram? Tanto que talvez nem fossem. O próprio facebook não é nada mais do que um viaduto, onde pessoas acreditam chegar mais rápido em lugares onde elas já estão há muito tempo. Há séculos. Bastava estender a esteira de palhinha da minha juventude por cima da areia, e esperar o encontro das águas.
Lindo de doer na alma e transbordar os olhos!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirTem alguem no face que escreve:" A vida é um garfo na estrada" E é por ai Alain. seus artigos fazem-nos sonhar com os velhos temos. Imagina pra nos, "entas"? Os oasis de nossas vidas se tornaram selvas "maravilhosas" de pedras e tdos. aplaudem. Qualidade de vida ou qualidade de viver? Continue à plantar.... germinara com certeza.
ResponderExcluir"A poesia é incomunicável.
ResponderExcluirFique torto no seu canto. Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio ao alcance do nosso corpo.
É a revolução, o amor. Não diga nada!
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar como se andassem na rua. Não conte.
Suponha que um anjo de fogo varresse a face da Terra e os homens sacrificados pedissem perdão. Não peça!" (Drummond)