terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cuidado com o que voa!

Um homem atravessava uma rua principal do bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Caminhava sozinho e pensativo, circundando os carros e ônibus parados à espera do sinal verde do trânsito. Ao chegar do outro lado, fora da faixa de pedestres, como de costume fazia, se embrenhou por entre carros estacionados irregularmente na diagonal, ao longo do meio fio, e seguiu.

Havia acabado de almoçar num pequeno restaurante do centro, onde costumava ir sempre. Filé de frango com batata palha, ervilhas e coca-cola. E comeu, o tempo todo, se perguntando como podia o filé de frango ser tão, mas tão grande! e polpudo quanto aquele. Não era normal. Era um puta filé de frango maravilhoso, por apenas vinte reais! Parecia vindo de uma ave jurássica - brincava com seus pensamentos. Sua barriga cheia sentia graça.

Foi então que seus olhos bateram bem diretamente numa gata maravilhosa. Alta, morena clara, corpo curvilíneo, cinturinha, bumbum irreparavelmente empinado, vestindo uma mini saia e uma blusa branca indefinivelmente detentora de dois seios dignos de playboy, além de um rosto lindo, meio carioca, meio sei-lá-da-onde, lábios carnudos e olhar tenso. Ao perceber esta última qualidade o homem pensou: "Tem coisa aí!".

Passou por ela rapidamente, não porque quisesse, mas sim por que seus passos eram apressados, mas durante a volta que seu pescoço fez, pensou melhor e estagnou no tempo e espaço. Notou que a mulher tentava uma ligação no celular, mas não conseguia, e embora parada no mesmo lugar, estava realmente possuída por aquela tensão comum às mulheres que esperam algo mais importante que tamancos, e embora usasse um, possuía algo de pouco comum, algo que alguns chamariam de "manejo Av. Atlântica". 

O homem demorou uns poucos minutos a observar a bela, e decidiu tentar a sorte. Disse:

- Me dá licença... querida, mas eu estava lhe observando, e pensei que uma moça tão bonita só pode estar parada neste pedaço da rua por um bom motivo... ou um mau motivo. Qual seria o seu?

A moça sorriu um sorriso discreto.

- Não te interessa. (Isso responde tudo, não é?)

Então ele perguntou o que não queria calar:

- Hummmmmm.....?

- Um que você não pode pagar, pelo jeito. - Riu-se.

Bom, é verdade que o homem não estava preparado para uma situação destas. Vinha suado, cansado do trabalho, o Sol escaldante na cara, o terno amarrotado do metrô...essas coisas que atrapalham ou ajudam.

- Como você sabe que não sou "mais mau" que o seu motivo? Que aliás, nem está vindo, né?

- Bom... não te conheço, e o meu motivo virá. - disse com firmeza.

- Ok. Vamos fazer assim, se em dez minutos ele não aparecer você troca de motivo mas conserva a maldade, que tal?

A moça sorriu aquele sorriso discreto. 

Três horas depois já haviam feito de tudo num motel da Barra da Tijuca. Ele olhou para ela, ela pra ele, e notaram que ali havia o Amor.

Quinze anos se passaram. O homem, sentado na poltrona que um dia havia sido branca, traçava um balde de pipoca, e pensava consigo mesmo, rindo-se, que as pipocas eram imensas. Deviam ter usado algum agrotóxico suculento naquele milho, não era possível fazerem pipocas tão, mas tão carnudas! Do banheiro saia a mulher, com quem descobrira o Amor, mas que agora não passava de pipoca sem sal... e murcha, ainda por cima!

Quando de repente, durante o intervalo do mengão, assistiu uma chamada do Jornal Nacional que dizia assim:

- Preso no centro do Rio de Janeiro, dono de restaurante que, há quinze anos,  oferecia aos clientes urubú como se fosse frango.



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