sábado, 3 de dezembro de 2016

A terra


Cantei o mar

O mar se vai

Cantei o tempo

O tempo esvai

Cantei o amor

O amor não há

Cantei a vida

A esperar

Cantei a terra, o meu lugar

E só a terra

Pude cantar



Se é terra que vais cantar

Esta é a terra, é o teu lugar

Se à vida a terra dá

Nunca te apagarás



E o mar se foi

Quando cantei

Tempo escorreu

Quando eu peguei

O amor morreu

E eu nem sei

Vida passou

Quando esperei

Só canto a terra, o meu lugar

E só a terra

Posso cantar







domingo, 20 de novembro de 2016

Fome

Quando  você ama, não é amor, é fome. Quando você sente saudade, não é saudade o que sente, é fome. Quando você quer ganhar dinheiro, não é dinheiro o que você deseja, é fome. Quando você quer uma companhia qualquer você quer matar sua fome. Quando você quer ser feliz, é fome o que sente. Quando você quer trepar, é fome.

Explique "fome" fisiologicamente e o que você vai conseguir é ciência, mas ciência também é fome. Explique "fome" psicologicamente e isso será fome. Porquê? Vou dizer porque. Porque tudo na vida que fazemos relacionado a algo ou alguém é a mesma coisa que abrir a geladeira pra ver se lá dentro tem algo para comer. E muitas vezes esse habito é apenas um habito sem a menor fome; porém, é fome psicológica.

A fome psicológica difere das outras fomes. Ela é a necessidade de se empanturrar do Nada. Por isso não há fome nela. Para todo o resto há fome. Mas o "nada" também é comestível.

Fome é o grande mal do mundo. A grande expiação religiosa do Homem, e o imenso castigo de Deus para com a sua criatura. A fome é abstrata. (!!!) Tão complexa e materialística, pois é a relação entre algo que come e algo que será comido. É abstratamente tocante! Não é incrível e impressionante isso? E...se você realmente está tentando entender o meu pensamento... isso é fome.

Ninguém quer amar alguém. As pessoas querem se alimentar do outro. Elas precisam de glicose na alma. Quando se come um filé no almoço busca-se a glicose no sangue, no cérebro: o que nos faz pensar. Mas quando se ama busca-se a glicose abstrata, busca-se preencher o vácuo de um caminho, de uma existência, de uma solidão. E solidão é fome.

Eu sei disso porque há muitos anos quando eu morava fora do Brasil, com 18 aninhos de idade, eu passei um mês completamente isolado, renegado, expulso por meus "amigos" por motivos que não cabem aqui neste texto, não têm importância. E durante esse período curto da minha vida eu me senti tão sozinho, que embora eu ainda me alimentasse normalmente, meu cérebro, meu corpo, minhas células sentiam a fome do existir. Ninguém existe sozinho, sem sociedade, sem o espelho nos olhos dos outros, sem aprovação, sem carinho,  atenção e sem ego. E naqueles dias de extrema solidão total eu vagava pelas ruas desencontrado, e nos descaminhos das ruas de Los Angeles eu fiz um "amigo", que me enganou fingindo querer comprar cerveja, pegou meu dinheiro, ( eu estava meio atônito, e acabei emprestando), e ele sumiu com o pouco dinheiro e eu fiquei horas esperando a cerveja sozinho num beco de LA (ainda éramos menores de idade nos EUA para beber), e ele nunca apareceu nem com meu dinheiro, nem com nossa cerveja. E eu percebi que o que nos leva a acreditar em alguém tem um nome e se chama Fome.

Como se mata essa fome? Não descobri ainda. Talvez seja o grande mistério da natureza e da sociedade, sendo que não sei qual a diferença entre ambas. Mas se eu soubesse eu lhe diria e você ia se sentir melhor, ou não. Pois que talvez a fome seja necessária para que se ande para a frente, afinal a vida é uma geladeira cheia, ou vazia, depende da época. Mas realmente não sei dizer. Escrevo agora porque sinto fome.




terça-feira, 25 de outubro de 2016

Quando...

Quando você vive um sonho,
um sonho não vive.





sábado, 8 de outubro de 2016

Vírgula

Eu sou a prova viva de que decepção não mata.

Mata não, decepção, que de viva prova, ah, sou eu!

(Como tudo na vida,
a verdadeira questão
é saber onde botar a vírgula.
E mesmo assim...
não existe perfeição!)







domingo, 4 de setembro de 2016

Menina


Tempinho...
Tem pinho?
Ela toca!

Tão menina
Aos pouquinhos
Me nina

De fininho
A moça bonita
Faz ninho
Em mim




domingo, 14 de agosto de 2016

É melhor cobri-lo agora. Tá frio.

 A lembrança é feita de sulcos de discos de vinil. Esse disco é ótimo! Meu primeiro disco foi um disco de dance music do final dos anos 70. Ha....! Que legal esse disco! Uau! Esses sonzinhos doidos girando na cabeça, devem ser sintetizadores - meu pai que disse! A capa de papelão tem um cheiro gostoso... Cheiro da papel velho, como eu gosto disso! Aqui na serra faz um friozinho tão bom que o cheiro fica mais forte, é tão legal isso... E eu adoro rolar naquela almofada meio branca, com coisinhas desenhadas em vermelho e laranja. Ela fica tão fresquinha nesse clima friozinho. É tão gostoso voar por cima dela! Cair com a cabeça como se fosse um ursinho fazendo um buraco na neve. Minha árvore também é tão legal - eu que plantei - e ela dá uma frutinha azedinha, hummm!

Meu avô tá la fora dormindo embaixo dela. Ai que medo que as formigas piquem ele, mas se até agora não picaram acho que não tem problema . Chegou o meu amiguinho pra brincar de Roberto Carlos, mas não to afim agora. Ele só se interessa pelo Ruy Maurity, que é chato pra dedeu.

Na casa do Leco tem um corredor enorme. Dá pra correr direto e fazer uma curva legal no final. Na casa dele a gente corre, é tão legal! Vejo nossas mães conversando nas poltronas pretas estilosas fumando pra cacete. Legal também é descer pra salinha da televisão que fica atrás de tudo. A casa dele tem cheiro de maresia e gato, e a Tata vai morder alguém a qualquer momento... dente de criança de três anos é foda! Minha mãe conversa com eles sobre coisas que eu não entendo e por isso não ligo. Mas é legal brincar! Se bem que só venho aqui quando ela vem. Será que alguém pode me trazer um copo de água?

O corredor escorregou e eu caio no chão. Me ralei a perna! Mas tudo é o circo. O circo é o que eu gostei mais ou menos, tem cheiro de bosta de cavalo e peido de elefante. Na colônia de férias a piscina era gostosa e grande, ai como eu nadei... To nadando! Mas sempre perto da borda porque acabei de aprender. Ganhei uma competição no CIB uma vez. Foi a única competição que eu ganhei sozinho na vida.

Uma menina disse que eu sou forte. Ai, que vergonha... to morrendo de vergonha. Lembro quando isso aconteceu. Ela tá olhando pro meu braço e rindo porque eu sou forte e eu sou apaixonado por ela. Nunca revelei isso. Faz tanto tempo... acho que se eu contar agora ela fica comigo aqui na sala de livros da escola. Mas não, deixa pra lá, ela não vai querer... Mas meu amor mesmo é a Dedé. A gente se beijou por trás da cortina do quarto dela um dia desses. Mas foi inocente, o pano ficou entre as bocas, e eu entrei num transe. Nunca tive uma "namorada" como ela sem nem ser namorada. Que lindo isso.

Sempre que eu ouvia um disco do  Led Zeppelin eu lembrava da primeira. Era o Led II, puta disco. Entra na minha cabeça como as memórias que nunca saem. Até hoje nunca a esqueço quando toco esse disco. Mas cadê a vitrola que meu pai jogou fora? Engraçado, devia estar logo ali na estante... Pera aí, vou colocar o disco pra tocar e apertar as luzinhas coloridas da vitrola que meu pai deixou, finalmente, eu usar.

Minha cabeça começa a girar... é como um túnel do tempo, fico tonto... me salvem por favor, eu sei que neste minuto eu preciso do... esse túnel do tempo é o do filme Perdidos no Espaço! Vinha antes dos Batutinhas....ai como eu gosto tanto; ai, como eu gostava tanto... Socorro gente, alguém me salve? Salvar do quê?


* * * 



- Sinto informar... Acho que não vai ter mais jeito. Alzheimer é muto dolorosa... Melhor vocês irem para casa descansar.

- Sim... é melhor cobri-lo agora... Está frio...








domingo, 7 de agosto de 2016

Carrossel

Eu fui criança, um dia. E naquela época de nuvens de algodão e pipoca colorida havia na beira de uma lagoa um lindo carrossel com espelhos diversos e luzes que piscavam mais que estrelas e cavalos. Esses cavalos subiam e desciam, como que pulassem, cavalgassem, enquanto isso o carrossel girava seu giro infinito que pode machucar, mas que enfeitiça muito mais a dor.

E eu lembro que meu rosto ficava atônito quando eu entrava no parque e dava de cara com o carrossel. Era como se um gigante colorido se postasse na minha frente; uma esfinge e uma pergunta; um arco-íris no solo.  Lembro que era impossível passar ao largo do carrossel, pois simplesmente era difícil demais isso! Ele nos atraía como a primeira e mais importante atração. E a sua musiquinha de anos 20 era incrível, ao mesmo tempo, passada e original. Um mantra eterno de show de cowboy.

Mas o que importa mesmo era o meu medo tamanha fascinação que eu sentia pelo carrossel. Eu tinha medo de entrar e ser sugado para outro plano. Eu tinha medo que numa girada o meu cavalo de repente se soltasse e começasse a voar em direção a uma terra mágica. Eu tinha muito medo de que a tonteira da circunferência me transformasse em adulto.

E por isso eu raramente andava de carrossel. Infância perdida? - Não. Acredito que não, pois eu sempre gostei muito de admirar as coisas muito mais que utilizá-las. Mas minha participação não ficou incólume já que os anos se passaram e um belo dia o carrossel havia sido retirado junto com o parque, e tudo foi como se voltasse ao anormal. E eu percebi que ali, num ato humano de outro ser haviam traçado uma linha finíssima entre o que eu era e o que eu estava passando a ser.

E foi assim que eu cresci. Deixei de ser criança quando o carrossel foi levado embora? -Não! Mas com certeza levaram minhas ilusões junto. Só que um dia eu acordei girando, e girando eu fui para sempre subindo pelo azul, enfiando nas nuvens minhas razões confeitadas de jujubas, e assim fui vivendo, e de repente abriu-se no céu um vácuo e surgiu o carrossel cinza, escurecido, enrugado, enferrujado e sem girar.

E a chuva que caiu foi um choro; e o sol empalideceu e a noite brilhou com sua névoa de jardim perdido para sempre. Acho mesmo que perdi o carrossel de vez. Mas feio, roto, sem luzes, ele ainda girava devagarzinho, como se a mão de Deus não quisesse deixar decepcionar as crianças do mundo. E eu vi que eu ainda era criança e que na verdade nunca havia me tornado adulto.

Então chegando perto do carrossel eu o toquei com os dedos tímidos e tremidos do velho que eu era, e de repente tudo se acendeu. Eu era mesmo criança apesar dos dedos e das tremidas e da morte. E me enchi de vida, porque ao montar de novo num dos cavalinhos do carrossel eu percebi que ele apenas gira e que um círculo nunca vai para a frente (por mais que tente). Hoje, por mais que insistam que tenho que levantar e saltar dele, eu continuo circulando infinitamente para lugar algum. Afinal, é uma escolha ser círculo ou ser reta, e eu havia escolhido o meu carrossel, com suas luzes e seus apetrechos, e seus cavalos de resina e seus espelhos de lata e suas luzes de poste de esquina velha, e sou feliz.

Quem quiser pode me escrever que eu dou a senha secreta do carrossel.







quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Lixo

A noite é bela. O Osmar não concorda. O coitado, ele passa a noite toda segurando as pálpebras de sono. Deitado no banco de madeira da entrada do prédio, sua coluna deve doer, e ele deve se perguntar à toda hora o porquê de ser pobre. Tenho a certeza de que ele pensa assim toda hora em que algum morador entra no prédio de madrugada. Mesmo assim, duvido que ele saiba o quão é bom ter um quarto numa casa quentinha te esperando da rua. Mas ele deve ter um canto em algum lugar. Todo mundo tem mesmo que nem seja um canto. Já eu contemplo a lua sempre que dá. Geralmente quando o caminhão vira a esquina da praia aí sempre dá mesmo. Eu olho pra ela, ela lá em cima zomba de mim. Tenho certeza que a lua ri de mim. Eu acredito nessas coisas talvez porque a minha vida seja de noite. É na noite que as coisas acontecem. O Osmar diz o contrário, ele diz que de dia a cidade funciona, ela se movimenta, tem vida. Você sabia que tem muito mais rato do que gente na cidade, e que eles acordam à noite? Mas rato não produz nada, só destrói - é  isso que o Osmar fala. Será? Acho os ratos mais civilizados que os homens, esses não valem nada, mas os pobres ratinhos só cuidam de se alimentar, se carregam doenças é por causa do lixo que o homem joga por aí. O Osmar diz que não, ele diz que sem o lixo não haveria os ratos. Porra! Então sou eu que estou certo, é ou não é?

Eu não escolhi essa profissão de catar lixo. Mas não sou catador mendigo não, eu sou empregado público, eu vou no caminhão, eu limpo esses lixos que os ratos adoram. Eu ganho salário! Às vezes quando o caminhão tá na retona indo direto sem parar eu de repente sonho acordado com a realidade que vivo dormindo. Engraçado isso. Eu vivo o sonho que vivo realizando! Não... é por aí. Me confundi agora. Mas de qualquer forma eu gosto da minha profissão de pegar nos sonhos dos outros. Porque lixeiro é isso: a gente recolhe e joga fora os sonhos deixados nas calçadas da cidade. Pense bem: se alguém sonhou comprar um saco de batatinhas fritas, comeu, e jogou fora, aquele saco nada mais é que o que restou do sonho. Sonho também suja, sabia? Sonho não é coisa abstrata não. Sonho deixa marcas, e essas marcas são sempre largadas em algum lugar como restos de algo que foi comido, lido, usado. O lixo é sempre o resíduo esquecido do sonho, e cada sonho tem o seu resíduo que é lixo. Se a gente for pensar assim sonho e lixo são a mesma coisa. Não tem a menor diferença. O Osmar não concorda com isso também. Aquele filho de uma égua não concorda com nada do que eu digo! Mas eu entendo: ele dorme de noite num pedaço de madeira de lei e trabalha de dia. O Osmar não tem canto. Até lixo tem canto, menos o Osmar, coitado...

Daqui a três dias é o aniversário de uma pessoa muito especial. Não vou falar o nome porque pessoas especiais não têm nome, pessoas especiais não precisam de nome. Nome a gente usa pra chamar quem a gente não conhece. Quem a gente conhece bem simplesmente tá lá, pra toda hora, que nem rato, que nem lixo, não tem nome, pra quê... Eu também fico pensando nas estrelas. Esse meu trabalho é pesado, não digo que não. Mas é por isso que eu sou forte e disposto, não frequento academia de ginástica nem essas bobagens dos garotos novos. Eu sou da roça! Criado com inhame e batada-doce; ovo de galinha pega na marra pelo pescoço! Não é qualquer um que faz meu trabalho não! Um colarinhozinho de merda, um político, um playboy não tem calo nas mãos pra isso não. Tem que ser macho! Vai ver é por isso que de vez em quando eu vejo a lua rir com as estrelas. Vou passar agora na frente daquela menina. Que menina linda! Mas ela não olha pra mim. Ninguém olha pra mim, é claro, tá todo mundo dormindo. Ah-ha!!! Te peguei, né? É que a menina fica acordada que nem eu, eu sei, eu já vi a janela dela acesa e ela olhando as árvores lá do quarto andar. Eu gosto dela, sabia? Deve ser porque a menina também curte as estrelas. Ela já me viu muitas vezes junto com a galera coletando o lixo que espalha pela cidade bonita. Eu, ela e o lixo, o Osmar e os sonhos. Todos presos na cidade. Quem será que vai nos coletar um dia?




terça-feira, 5 de julho de 2016

Pra você

Se eu pudesse 
O ouro do Sol nos seus olhos 
A prata da lua nos seus cabelos 
A areia de praia nas suas pintas 
O azul do oceano na sua alma 
O verde da natureza nos seus sonhos 
E o carmim do coração na sua dança 
Se eu pudesse eu guardava 
Em mim





domingo, 3 de julho de 2016

Aranhas


Fiquei admirando uma pequena aranha parada na parede lateral do aquecedor do banheiro. Que bichinho incrível! E que monstro. Parado numa posição naturalmente impossível a qualquer ser humano, esse inseto é tão mais simples, tão menos complexo que um ser humano, e no entanto consegue ficar em pé sem cair em qualquer direção e sem o menor esforço.

Anos de evolução e o ser humano, tão complexo, foi obrigado talvez por causa desta complexidade a desenvolver um pequeno órgão, no interior dos ouvidos, que nos alerta o sentido de direção - o Labirinto. E por causa deste órgão conseguimos de olhos fechados sentir nossa posição em relação ao centro de gravidade. Ou será que por causa deste mesmo órgão não desenvolvemos, como as aranhas, a capacidade de simplesmente ficar em pé em qualquer direção? 

Será realmente essa uma evolução? Pois que a aranha tão mais simples que nós consegue façanha incrível! Isso me leva a pensar se nossa inteligência é realmente um resultado de evolução, ou não seria o contrário? A aranha tece sedas incríveis, geometricamente moldadas, consegue capturar seu alimento através de uma armadilha, um mecanismo complexo de inteligência. Inteligência sem moral! Inteligência natural. Um conceito não filosófico, porém inteligentíssimo! E ainda fica em pé em qualquer direção, sem fazer o menor esforço, sem qualquer mecanismo ou aparelho que não ela mesma, e com extrema facilidade. 

Isso me leva a pensar se o senso de direção é realmente algo evolutivamente inteligente. Pois enquanto nós precisamos muitas vezes nos segurar em paredes pra não cairmos, caso o Labirinto funcione mal, as aranhas, sem a menor direção, vão a qualquer lugar.




segunda-feira, 27 de junho de 2016

Andando Sozinho


Quando o sujeito é bem novo e tem como costume andar sozinho pelas ruas de uma cidade suja e fétida e seu único sentido é estar sozinho porque não há outra saída ele não é um "looser", ele é um desgraçado querendo ser um desgraçado. Bom, existem dois motivos para a pessoa se sentir um desgraçado: ou ela é realmente desgraçada; ou ela se acha desgraçada. Porém, o que é nem sempre é o que deveria ser embora sempre seja o que você é - se é que me entendem.

Tudo nessa vida é educação, e se desde o início o chamaram de bosta então há 90% do sujeito se sentir um bosta mesmo que ele não o seja. Mas isso não faz diferença alguma porque um gênio que se acha um bosta sempre acaba na lama dos bostas, mesmo que um dia seja reconhecido como um gênio. Foi assim com vários, e pasmem!, estão todos bem encaminhados inclusive você que é um bosta sem ser.

Às vezes leva-se anos, dezenas de anos até o sujeito compreender que errou. Ou melhor - erraram com ele. Mas se erraram com ele e ele acreditou então ele tem a sua parcela de culpa. Isso é extremamente injusto, mas o quê é justo nessa vida além de uma boa ação e um copo de álcool qualquer!? No fim, existe uma grande diferença entre rum e uísque, mas o porre é o mesmo.

Um dia o sujeito acorda e se vê num mundo totalmente irracional (porque os bebês possuem a sua dose de razão sim! se não fosse assim entenderiam tudo de cara, o que não acontece, irmão! não acontece mesmo! ahah!), mas voltando ao assunto... um dia o cara acorda e se vê num caos de informações novas e ele se sente inebriado, se sente desconfortável e alucinado e tudo o que ele só quer é voltar para o útero da mãe. Mas como não dá mais ele é forçado a abrir a sua boquinha e engolir aquela merda de comidinha enlatada que empurram goela abaixo - e sem reclamar, porque a linguagem dele é outra, é de outro mundo, e ninguém entende porra nenhuma. E assim ele se deprime e chora. Porquê você acha que bebês choram? Choram porque não entendem porra nenhuma do que está acontecendo, e não conseguem passar a sua mensagem. Se fossem mais felizes ririam sem parar, concorda? Foda-se se você não concorda!  para mim isto parece muito óbvio e há teses psicoanalíticas que comprovam a total sofreguidão e pasmo que uma criança nos seus primeiros anos sente. Um dia ele começa a andar e o metem numa instituição totalmente ditatorial onde  "ensinam" a ser um libertário! Mas isso é um outro assunto, não vem ao caso agora.

Porém muitas vezes a criança é estupida o suficiente, ou inteligentíssima (há controvérsias sobre), e com uma certa ajuda do seu "surroundings" fica feliz! Mas na maioria dos casos há pouquíssimas crianças felizes no mundo. Essa é a verdade. Claro que estou falando de uma felicidade psicológica, porque há os que nem comida têm, ou saúde, e essa é a maior tristeza que existe. Mas a verdade é que um dia o sujeito cresce e aprende que a vida nada mais é que um túnel. E que não há saída a não ser ir para frente andando sozinho, conversando consigo mesmo, tentando reaprender, quem sabe, algo que passou.




terça-feira, 21 de junho de 2016

O Tempo


A chuva está para cair; o papel amarela; o tempo nada mais é que movimento. O movimento das coisas movimenta o tempo. Eu sou o Tempo. Eu esvazio pneus de carros sem que eles sejam furados. Eu transformo urânio em chumbo bem antes do ser humano existir. Eu deixo traços. A ferrugem nos encanamentos depois que a água já deixou de evaporar. As pipas não voam sem que eu converse com o vento, sem que eu convença a luz, sem que eu esburaque a madeira. Sou o cupim do universo. Tudo o que eu faço é corroer e assim corroendo aos poucos, devagarzinho, eu vou te enganando. No papel em que você escreve a sua tese eu passo em branco, escondido... quando você menos espera eu já apaguei tudo.



domingo, 22 de maio de 2016

Há um Lago.


Há um lago. Há um lago em algum lugar. Há um lago em qualquer lugar... Todos dias eu entro no trem do metrô e sento, quando tem lugar pra sentar, entre centenas de pessoas e todos os dias eu o vejo, o fantasma do metrô é um homem azul. Talvez seja a aura dele, talvez seja só alguma falta de matéria que faz com que a luz fria trespasse, eu não sei. Mas ele sempre está lá, e incondicionalmente de frente para mim, e me olha os sapatos, como se pensasse...como que tentasse identificar a marca ou da onde eles vêm, ou se são novos...eu não sei. Tem dias que ele me diz "que sapatos bonitos você tem!"; outros dias ele passa os braços em volta dos meus ombros..."Aí, quer vender estes sapatos?".

Ninguém mais vê esse fantasma, só eu. Já pensei que ele representa meus descaminhos, ou minhas lembranças, minhas "idades" perdidas nos anos perdidos de minha meia vida. Cada momento que vivi, cada lembrança, cada beijo das namoradas que tive - as que amei, e as que não amei -, cada vez que entrei naquele pub empoeirado de Londres a procurar por alguém que não existia hoje vejo e encontro o fantasma do que nunca tive, mas que vive dentro de mim e fora também.

Há um lago. Eu sei que há um lago em algum lugar... Disso eu tenho certeza. Entretanto, nunca tive tamanha certeza antes. Houve uma época em que lagos não eram lagos. Eu os imaginava de outra forma. Para falar a verdade eu não os imaginava, é que de dentro de um lago eu suplicava, lacrimejava por um, quando realmente existia um lago e eu nadava e era feliz e não sabia. Meu fantasma sempre diz isso. A gente tem sempre que prestar atenção, pois só nos damos conta do que temos quando não temos mais. E eu tive um lago, mas não nadei nele o suficiente, e chorava sem saber que eu podia nadar o suficiente. Ou talvez tenha nadado demais e ele tenha evaporado ou escorregado por entre meus braços num sonho onde acordei de minha tristeza ainda mais triste ainda.

Sei que vocês que estão a ler minhas palavras desnorteadas têm dificuldade de entender-me, mas o meu fantasma entende, e não só entende, ele vive isso comigo, ele é exatamente o que sinto mas que apenas eu posso ver. Como é triste a gente enxergar um cometa só depois dele ter passado. Ou um lago só depois de ele ter evaporado.

Sabia que existem rios que secam durante o verão e refluem durante o inverno? Espero sinceramente que esta seja a metáfora certeira e que representa o ciclo da vida dentro da própria vida. Porque não há dia menos dia em que eu não acorde de manhã só para checar algum rastro novo de gota de água nova. Nesses dias eu entro no metrô e meu fantasma me olha com cara de vagabundo das ruas, cara de quem vive de perguntar sobre os sapatos alheios - uma forma de sobrevivência dele - quem sabe quantos centavos ele não consegue iniciando um papo sobre sapatos?

Um dia lhe perguntei: - Há um lago? Ele olhou nos meus olhos pela primeira vez. Olhou fundo nos meus olhos, tão fundo que eu não sei bem...mas eu vi um lago bem no seu olhar. Mas minha felicidade morreu quando da sua boca saiu a frase: - Não, não há um lago. Pelo menos não mais aquele. Bom, acho que a resposta não foi tão negativa assim, porque entendi que há lagos que passam e lagos que virão. Só espero ter esta oportunidade novamente.

Enquanto isso sei que há um lago. Há um lago em algum lugar. E ele guarda meus tropeços enquanto meu fantasma me faz lembrá-los. E sei que um dia vou nadar. Vou nadar de novo, saído de um calor de suadouro, e que vou novamente tropeçar de propósito fingindo cair na minha felicidade. E desta vez ela será feliz dentro de mim. E não sei se neste dia o meu fantasma vai me esperar no metrô, à minha frente perguntar como sempre sobre meus sapatos. Espero estar calçando sapatos novos....





quarta-feira, 18 de maio de 2016

Para Alguém


Você é flor do amanhecer
Um dia, brotou
E lhe pintaram...
Terra cavou, água jorrou
Ergueu-se ao ar
Seu caule exato
Foi-se terra, foi-se mar
Fogo, pó de cravo,
E amar
De repente rebelou e venceu-se
A si mesma como nunca mais faria
Flor da montanha, rosácea...
O amor lhe salvou de você
Felicidades querida! Felicidades!
Nasce de noite!
Perfuma de dia!



domingo, 14 de fevereiro de 2016

Kindred Spirit


You're my kindred spirit
You're my ghost town
In you my desert is not around




domingo, 31 de janeiro de 2016

Semente de Maçã

O amor fica no meio de uma fruta.
Para tomá-lo há que parti-la ao meio.
Depois de ingerido não tem mais freio...

O que protege o amor é doce.
Mas ele, de veneno, é feito.
Amargo de cianeto.

Você sabia que semente de maçã não faz bem?
Em quantidade pode até matar...
Pois é...o amor também.





terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Poema pra Tati


Tati é tão bela...
Aquarela
Tati é maravilha...
Ilha
Tati é coração
Solidão
A Tati eu sinto...
Labirinto
Bela Maravilha de uma Ilha na Solidão de um Labirinto