quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Vinho


Deus quando inventou o vinho estava certo. A primeira alucinação do homem vem deste líquido fugaz. É tamanha a falta de percepção, incerteza, que não sabemos nem quem veio antes: nós ou o vinho. Escrever bebendo é talvez a mais sã das artes. Tirando compor música. Mas música bêbado raramente dá certo, já escrever é uma catarse, um ato transcendente. O problema é acertar as teclas certas.

O vinho não vem das uvas. O vinho vem dos pés que as amassam. Traz as lágrimas, as lembranças, os medos, as dores, a percepção suprema, o prazer, o vômito, o gemido, mas enfim, o momento supremo. O segundo supremo em que é possível saber "tudo". É possível compreender a si mesmo durante um porre. Coisa que não se é capaz sóbrio.

Eu não sei bem dizer nada de mim mesmo. Só sei que fui roubado. Eu fui torturado. Fui considerado morto antes de nascer. E graças a minha avó eu nasci. E a minha mãe também. Mas minha mãe não me tem como vivo. Talvez porque ela se ache morta. Mas estamos todos vivos e bem, graças a Deus. E estamos todos na montanha-russa da vida, subindo e descendo e sentindo a vertigem que eu sinto agora graças ao suco de Deus.

Deus não me disse. Seria mentira se eu dissesse o contrário. E com Deus eu não brinco. Mas é evidente que o cérebro precisa de uma boa dose de vinho de vez em quando pra poder pensar de forma racional quase nunca.


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