sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Antes do Sol

Eu nasci antes do sol.
Quando os raios enfim me tocaram já eram parte de mim.
E minha pele se pintou formando ilhas que separavam meus poros em longitudes.
Olhei para o céu e ele estava próximo.
Olhei para o mar e ele estava perto demais.
Algo me levou e foi me levando
E depois do pôr-do-Sol
Fui me afogando
E do fundo das minhas entranhas
Surgiu um gemido
Que se não musical, sabe-se lá o que seria...

...Hoje.

Parte mais importante da vida.
Eu me pergunto
E peço
Não me large
Nunca jamais não deixe minhas mãos
Pois nasci antes do sol...



domingo, 26 de janeiro de 2014

Relva, Sol e Vento

És linda como a relva
O Sol da tarde, pálido
Que desmancha nossos cabelos
E nos ensina que o amor é um vento.




Money sabe nada; mas Monet sabia.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Insone com sono

Nasci de duas pessoas muito boas. É claro que não conseguiria grande progresso nesta vida. Mas uma qualidade elas têm, a de nunca esmorecer. E assim eu sigo, não esmorecendo cada vez mais.Tenho ajuda de algumas substâncias coadjuvantes, mas quem hoje em dia não as tem? Porém, sempre me faltou o sono. E Hoje em dia mais ainda. Não me julguem mal, não sou um insone. Quando tenho sono durmo facilmente. Acho que o insone é aquele ser que apesar do sono rola na cama como se esta fosse um canhão entupido. Eu não. Bate-me o sono e durmo com os passarinhos. Mas sinto o cansaço, que ainda não sei definir de onde vem, pois não é um cansaço do labor. Talvez seja um cansaço que vem dele mesmo, e por isso não se pertence. Pois é claro, ninguém pertence ao que se é. E quando me bate essa tensão me ponho a escrever qualquer asneira. Sei que o sono gosta de bobagens, quem sabe assim não atraio devaneios de bolhas de sabão.

Pássaros, segurem minha alma, que o que não é certo a gente sabe de antemão, sem saber. No fundo todos nós sabemos tudo. Há um conhecimento que vai além do simples pensamento, e que se chama instinto. Quem não concordar está se enganando, ou não tomou no cu o suficiente ainda. Alguém aí já pensou em que idioma pensa? Pois é. Pensem nisso.




 Como hoje não sou tão bonzinho assim acho que eu chego lá.



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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Choro


    Eu choro

            Na chuva

                    Pra que

                         No meu rosto

                                  Ela se confunda.




                             




domingo, 5 de janeiro de 2014

Ratos

Ratos! Ratos é o que subsiste neste bairro. O resto perece assistindo aos ratos. Os lixos empilhados são montanhas intransponíveis, eles assistem meus devaneios. Quando faço a perigosa travessia entre minha porta e a do supermercado notívago. Passo pelas rua e festejo. A cada rato que vejo - um ser humano. Tenho a certeza de que vejo pelo menos uns dez, se eu realmente prestar atenção - durante uns vinte minutos. Às vezes levo minha câmera fotográfica para tirar fotos dos meus vizinhos de subsolo. Subsolo? Já estão acima há muito tempo, e cada vez mais. Não trazem mais a peste negra, mas trazem a negra peste. Monstros do "crack", dragões dos farelos, seu mijo queima, seu ar inebria e confunde. Era o bairro mal-cheiroso desde quando? Entre as pilhas de lixo ratos buscam artefatos. Na busca do pão-morto perscrutam seus sonhos inexistentes, seus olhares mofados, suas peles de fungos, seus olhos de rapina, e seus narizes platinados, muitas vezes adornados de piercings, sabe-se lá como.

De repente sou puxado pelo braço. Um velho de mil anos me pergunta numa língua estranha, inexistente, onde fica a praia. Embarco em seus olhos de cor fétida, castanha - mais de sujeira que de real cor - e me invade um sonho. Minto! Eu invado o sonho. Não há quem consiga viver esta vida sem se evadir em sonhos. Não há que consiga atravessar o deserto da noite de copacabana sem se sentir beduíno. Somos orelhões falantes, somos cigarros pisados, somos restos da calçada. Nossa pele vai se metamorfoseando em pedra, em pixe, em betume, e nossos corações amalgamados já possuem a paupérrima cor dos muros cor de ratos.

O velho me segue. Acho que ele acha que nada possui. Está certo. Entra no supermercado comigo. O segurança nem liga. Ele é feito da mesma massa atômica, do mesmo carvão que um dia há de queimar nossos narizes e cerebelos disformes pela cidade. O velho me pergunta o quê é aquele queijo - e aponta para um canto. É um queijo fedorento, responde. Caro!, ele diz. É feito de lixo? Penso nos ratos. Com certeza contribuíram muito para essa combinação francesa. Porém nada pode negar a penicilina. Engraçado, penso eu.  O velho abre o queijo e o devora. O segurança nem aí. Eu fujo.

Volto para  casa seguindo meu caminho. Um viciado em drogas me aborda. Ele quer comer. Eu nego dinheiro para craqueiro. Ele pergunta se posso entrar naquele boteco 24 horas e comprá-lo um "algo". Sim. Peço para me seguir. Ele avista um "casal" de policiais fazendo seu "recolhimento" noturno diário no estabelecimento. O drogado estremece. Tem medo de ser subjugado como um rato. Mas quem são os ratos na verdade? - penso eu. Sou duro, forte, deixo claro que comigo ele pode entrar no lugar, mesmo com polícia ou o caralho à quatro. Ele confia. Esse talvez seja o único benefício do crack, te faz confiar no próximo, o quê na verdade não considero um grande benefício. A polícia me cumprimenta. Sinto respeito vindo deles. Não sei o porquê - não carrego armas comigo. Mas meu olhar de rato os indentifica, será? O craqueiro quer comer. Esta suando de fome. Sua baba é bovina. Seu olhar é feito de luar. Prestando bem atenção sua pele é incolor, sua barba de plástico. Sugiro a ele um sanduíche de presunto com bastante queijo e tomate. Sugiro duas vezes. Sua experiência me mata - ele escolhe uma torta bem calórica. Sabe melhor do que eu a fome de amanhã, e pouco liga para o colesterol. Acho justo, e era até mais barato. Come como um rato faminto. São todos famintos, A polícia observa mas nada faz. Eu estou ali, com minha cara de filho de coronel. 

Sigo meu caminho, quase abraço uma puta, mas me dá nojo. Como é dolorosa a solidão dos ratos.