quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Reflexão de Natal


quem tem amigos tem tudo

ou...

quem tem tudo tem amigos?






quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Vinho


Deus quando inventou o vinho estava certo. A primeira alucinação do homem vem deste líquido fugaz. É tamanha a falta de percepção, incerteza, que não sabemos nem quem veio antes: nós ou o vinho. Escrever bebendo é talvez a mais sã das artes. Tirando compor música. Mas música bêbado raramente dá certo, já escrever é uma catarse, um ato transcendente. O problema é acertar as teclas certas.

O vinho não vem das uvas. O vinho vem dos pés que as amassam. Traz as lágrimas, as lembranças, os medos, as dores, a percepção suprema, o prazer, o vômito, o gemido, mas enfim, o momento supremo. O segundo supremo em que é possível saber "tudo". É possível compreender a si mesmo durante um porre. Coisa que não se é capaz sóbrio.

Eu não sei bem dizer nada de mim mesmo. Só sei que fui roubado. Eu fui torturado. Fui considerado morto antes de nascer. E graças a minha avó eu nasci. E a minha mãe também. Mas minha mãe não me tem como vivo. Talvez porque ela se ache morta. Mas estamos todos vivos e bem, graças a Deus. E estamos todos na montanha-russa da vida, subindo e descendo e sentindo a vertigem que eu sinto agora graças ao suco de Deus.

Deus não me disse. Seria mentira se eu dissesse o contrário. E com Deus eu não brinco. Mas é evidente que o cérebro precisa de uma boa dose de vinho de vez em quando pra poder pensar de forma racional quase nunca.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Mosquito no espelho


O que será dos bedelhos
quando os mosquitos descobrirem
o que é espelho.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A Salada


Existia um homem que cultivava tomates e outro que cultivava cebola. Um sabia do outro, pois seus sítios não eram tão longe assim. Mas havia alguma distância pouca. O dos tomates pensou que talvez tomate combinasse com cebolas. O outro, ao mesmo tempo, por coincidência pura, pensou que cebolas combinassem com tomates. Porém, a distância pouca entre eles era escarpada, e quando chovia ficava muito enlameada, e isso tornava tudo muito difícil. Então eles decidiram construir uma pequena estrada de pedrinhas e piche que garantiria um caminho seguro. E foi assim que a salada foi inventada.

Passou um tempo, e no ermo lugar onde habitavam o tomateiro e o ceboleiro, ficaram sabendo através do vento, que havia um terceiro produtor e que este produzia azeite. Ficaram muito felizes, mas logo viram que para chegar na fazenda do azeiteiro tinham que ultrapassar um morrinho chato pra burro de subir e descer. Então pensaram que podiam furar o morrinho e abrir uma passagem e um caminho até a fazenda deste. Assim o fizeram, e foi assim que foi inventada a salada com molho.

Passou-se um tempo e os três já trocavam produtos num intercâmbio muito proveitoso para todos, quando perceberam que muito longe, milhas de distância havia um senhor que morava numa floresta e fazia pão. Pão! E pensaram que pão combinaria perfeitamente com salada. Resolveram então contratar um menino que levaria uma mensagem a ele perguntando se interessaria comercializar seu pão em troca de cebola, tomate e azeite. O menino é claro que aceitou, mas o lugar era tão longe que ele levou dias para cumpri-lo, e isso preocupou os três primeiros produtores. E quando o menino voltou com a resposta afirmativa e uma cesta de pães, viram que os pães já haviam ficado borrachudos, tamanha a distância percorrida e o tempo gasto nela. Então pensaram em construir uma ferrovia, pois assim o pão poderia chegar rapidinho em suas casas, bem como o azeite, o tomate, e a cebola ao padeiro. E assim fizeram, e foi inventado então o hábito de passar o pão na salada. 

O comércio entre eles prosperou tanto que já havia caminhos melhorados entre eles, uma ferrovia, e até algumas pessoas que, sabendo do acontecimento, aproximaram suas casas para poder provar a tal salada. Mas essas pessoas não tinham o que dar em troca, e como a produção crescera a ponto de necessitar mais do que chuva para multiplicar, se fez necessário trazer água de algum lugar. Pois não é que existia um lago de água boa e nutritiva nas imediações do novo vilarejo que se formava! Então essas outras pessoas resolveram colher água e oferecê-la como troca pelo tomate, pela cebola, pelo azeite e pelo pão. E assim foi inventada a salada para todos.

Mas óbvio que fazer salada custava trabalho,e trabalho dá muito trabalho. Então um belo dia apareceu um homem que dizia ter meios de facilitar este trabalho, ou seja, ele melhoraria e aumentaria a infraestrutura para que a produção ficasse cada vez maior. Mas o preço seria uma porcentagem da salada. Ele ofereceu também segurança às linhas de transporte, iluminação das vias, etc. E disse que para isso teria que escrever leis de gestão para que a comunidade pudesse aproveitar a salada melhor. E assim foi inventada a constituição da salada geral.

A produção crescia tanto, mas tanto, e era tanta gente migrando para obter salada que um senhor teve a grande ideia de criar um estabelecimento público, porém privado, onde os quatro componentes, azeite, tomate, cebola e pão, pudessem ser combinados e vendidos aos interessados. E assim foi inventada a salada fast food.

Esse senhor ficou tão cheio de lastro, devido ao grande sucesso e facilidade de seu empreendimento, que um belo dia um outro senhor ofereceu-lhe guardar o seu lastro num cofre tão grande e tão forte que nenhuma outra pessoa poderia abrir. E assim foi inventado o banco do lastro da salada.

Todas essas novidades complicaram tanto a cabeça e o tempo e trabalho dos quatro produtores iniciais que um belo dia eles se cansaram de fazer e comer salada. Queriam outras coisas, comer carne por exemplo, ou fazer queijo, ou plantar milho e arroz e cachaça.

Então o "governo" disse a eles que isso não seria possível já que toda economia dependia da salada! Disse que a trama de pessoas já envolvidas com o feitio da salada significava um mercado impossível de se desmanchar de uma hora para a outra. Disse também que este mercado havia feito emergir gente de todos os cantos e que com o tamanho da demanda o preço da salada havia quintuplicado! Isso significava que muita gente não possuía lastro suficiente para comprar salada, e que para que o "governo" pudesse continuar seu trabalho de gestão teria que agradar a todos. E assim foi inventado o bolsa-salada.

Foi aí que os quatro produtores, de tomate, de azeite, de cebola e de pão se reuniram no Hotel Salada-Inn (surgido devido ao "boom" da salada) para discutir a situação que começava a lhes afetar. Afinal quem produziria a salada necessária para o bolsa-salada, e como seria produzido de graça, com que lastro eles poderiam fornecer algo gratuito, ou seja: quem pagaria a conta da salada? Levaram a questão ao governo que ordenou que o lastro sairia da própria salada. E assim foi inventada a inflação da salada.

E assim foi durante anos e anos a fio. Os produtores originais se foram...  e seus filhos que não entendiam muito bem o porquê da origem da salada (ou não davam muita importância), apenas do seu lastro, perceberam que estavam produzindo muito mais salada através de incentivo do governo, e que isso era muito cômodo, mas também muito difícil, pois não havia mais lastro real e sim uma bolha de salada prestes a estourar. E foi assim que inventaram a mentira-salada.

Foi uma grande ideia pois acalmava o povo comedor de salada, dono do lastro, e que sem se dar conta pagava a salada dos que não possuíam lastro para comprar salada. Os que se davam conta achavam que nada mais justo lastrear a salada dos menos favorecidos. Mas um dia viram-se sem a próprio lastro para suas próprias saladas, e isso afetou tudo que havia de relacionado à produção de salada. Os primeiros e antigos caminhos tiveram que ser fechados por falta de lastro, a ferrovia teve que ser interrompida, as remessas ficaram difíceis, a salada inflacionou e quem produzia a própria salada não pôde mais produzir a própria salada, nem para si, nem para o bolsa-salada. Inventava-se assim a salada sem salada.

Num quarto pequeno de um mísero hotel numa mísera e suja rua um dos herdeiros deslastreados de um dos primeiros produtores de insumo da salada sentava numa cadeira de madeira velha e carcomida, e se dava conta de como o mundo, antes liberal, havia sido muito mais natural, e como a salada havia sido um acontecimento bonito, livre de ordens e má gestão, e pensou assim que o lastro da salada estava na dificuldade de produzi-la e não na facilidade de recebê-la. Naquele momento inventava-se então a falência da salada.




domingo, 2 de novembro de 2014

Arquiteto


Ó Lua, irmã, tanto me destes,
E eu nunca pude retribuir...
Acordo hoje sem poder mais
De forma alguma me omitir...

Tivesse sido arquiteto
Minha alma estaria melhor traçada
Mas fui ser  jardineiro,
Só sei cuidar de floradas

Não sou músico, nunca fui poeta
Só sei desenhar nuvens...

Eu não sou sábio de nada

Só sei contar estrelas...



terça-feira, 7 de outubro de 2014

Bolsa Família


Tem gente achando que o Bolsa Família é distribuição de renda. Essas pessoas nunca devem ter lido algum livro sobre economia. Distribuição de renda acontece quando trabalho é gerado, e não quando o dinheiro de quem paga impostos é distribuído nas classes mais pobres. Isso gera inflação e decadência da classe média (que é a maior classe empregadora). Com a inflação e a decadência da classe empregadora aumenta o número de pobres e consequentemente há mais necessidade de Bolsa Família. Isso força o governo a imprimir dinheiro pra poder cumprir com esses gastos o que resulta em mais inflação. Além disso o Bolsa Família abre portas para dezenas de contravenções, como lavagem de dinheiro, desvio de capital, corrupção, "carteiradas", privilégios ilícitos, etc. Ou seja: quem acredita no Bolsa Família como solução para a fome devia pensar que a melhor solução para a fome é construir pontes, estradas, ferrovias, obras, etc. Só o desenvolvimento gera trabalho e consequentemente emprego. O Bolsa Família é o maior erro que se pode cometer. Paliativo entendido, pelos ignorantes, como solução. Pra quem nunca abriu um livro sobre economia (básico) isso tem nome e se chama CARITOCRACIA. Ou seja: sistema baseado na caridade (esmola), e que é a longo prazo a melhor maneira de se afundar e falir uma sociedade.





segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lunático Texto


"Os lunáticos estão na minha cabeça."

                                      Pink Floyd



Digredindo das mazelas e precipícios da alma do ser humano contemporâneo posso me ater a uma razão simples: não caem mais flores do céu como antes. Há menos de cem anos o mundo era chato. Não havia televisão, telefonia era ruim, carros não tinham vidros fumê, discos arranhavam, agulhas de diamante, e sem Rivotril. Plantava-se às vezes batatas e tomates no quintal, havia mais árvores, mais trepadeiras, e mais gente indo dormir cedo - trepava-se muito mais. Hoje as flores não caem como antes. Era mais natural bater na porta do vizinho. A vizinhança tinha a sua necessidade de compartilhar o que hoje não têm mais - a falta.

Eu, sentado na porteira, acendo meu reles cachimbo, aliás não fumo, e tusso em prol da universalidade dos afagos. Aqui, nesta fazendinha afastada milhas de distância de outras milhas, eu acarinho meu joelho sentindo o tempo passar. Solto argolas de nuvens pela boca fazendo caretas engraçadas, e espero uma menina que não vem, mas virá.

São outros tempos, e eu sei que se faltar farinha de milho o meu vizinho me bastará. Minha roça é a cidade grande, e como não poderia ser diferente! Cidade grande já foi roça se comparada com o que é hoje em dia. Mas o meu dia é claro, muito claro, com sol e madrigais, e não como minhas noites atuais onde estrelas são meus sois cada vez mais distantes e findos.

Tomo um trago da aguardente de inhame, e sei que vou viajar bem mais do que numa mini série de TV. Leio o hebdomadário semanal e tenho certeza que as notícias são bem importantes, porém chegam atrasadas em minha fazendinha no meio do mato. Isso vai, com certeza, me levar a bater  na portinha rota do meu cunhado e perguntar a ele o que foi mesmo o que aconteceu, se o rádio dele pegou hoje a estação de notícias e ele conseguiu ouvir o que o idiota do presidente falou mas quase ninguém prestou atenção. Não porque não quiseram, mas porque não puderam captar pelas frequências do aparelho.

Sei que tudo isso, e muito mais, pois posso parar nunca de escrever. Tamanho marasmo existente, vai me fazer bater na porta da casa ao lado, que vai bater na porta da casa ao lado, que vai bater na porta da casa ao lado, que vai bater na porta da casa ao lado, e no final infindável dessa corrente as informações serão estranhas e incertas, mas com certeza vamos nos reunir pra discutir verdades e mentiras na varanda de alguém num domingo de madrugada.

E aí eu vou estender a mão, olhar para o meio dela e viajar pelo meu cérebro cheio de lunáticos.




sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Dialética


- Que fazes?
- Fezes.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Lição


Sabe-se

Não se morre do fogo
Mas da fumaça

Não se morre do anzol
Mas da linha

Não se morre da faca
E sim do sangue

E sim...

Morre-se...

Não da morte
Mas da vida

Não do amor
Mas da sorte

Não de Deus
Mas da reza

Há clareza na noite
Pra quem segue o caminho

Não é a estrada que te leva
E sim as estrelas





sábado, 30 de agosto de 2014

Felicidade



Felicidade é facilidade.






terça-feira, 26 de agosto de 2014

Fogo e os Amantes


Talvez exista o mar
Talvez exista o céu
Ou mesmo as montanhas
Ou mesmo o ar
Talvez exista o sonho
E quem sabe a luz
Talvez existam pessoas
Talvez existam poesias
E música e arte e vida
Talvez existam frutas
Jogos e labirintos mágicos
Talvez existam besouros
E casas e currais
Talvez existam terras a avançar
Estradas a tomar, ruelas a esconder
E enxames a voar
Mas uma coisa é certa
Existe o fogo e os amantes



sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Tudo


Quis ser eterno
Ser pó reluzente
O rastro sempiterno
De um mundo dormente

Quis ser vento
Destinar enchentes
Atrasar o tempo
Ter você pra sempre

Quis ser rei e aqui estou
Ao trilhar terra encantada
Velho louco me apagou

Que pena, minha amada,
Quis ser tudo
E nada sou





segunda-feira, 21 de julho de 2014

A Dança das Mãos

A mão embala
A mão aperta
A mão cumprimenta
Abre a bala
Cobre a testa
Arde à pimenta

A mão estapeia
A mão não morde
A mão sacode
Salta a veia
Abre e acode
Aponta e fode

A mão envelhece
A mão cutuca
A mão veda
Levanta a prece
Mete à cumbuca
Lança a merda

A mão segura
A mão descola
A mão-acepipe
Dedura
Esconde a cola
Passa a gripe

A mão regenera
A mão acarinha
A mão mostra amor
Abre e espera
Tira pelinha
Produz calor

Toque de fada
Toque de Midas
Toque de música
A mão nada
A mão lida
A mão é atômica

Uma mão lava a outra
Porque a mão é anatômica




terça-feira, 15 de julho de 2014

Desespero


Desespero
e desespero
não têm acento.



foto de Alan Sommer
  ou
  foto: Alan Sommer
 (somos todos iguais, não?)

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Guerra II


Um homem é um ser livre
Um soldado está soldado



quinta-feira, 26 de junho de 2014

Guerra

Acabava de voltar da guerra. Meu regimento quase não havia sobrado. Passara uns três meses me recuperando numa tenda médica onde perdi metade de uma perna. Dizem que problemas psicológicos doem mais, eu não acho assim. Haviam me dado muletas, uma medalha de ouro, uma carona de avião, uma passagem de trem, uma pensão vitalícia, e o conselho de visitar minha mãe. Não segui o último.

Me encontrava sentado num dos bancos de madeira da estação. Minha vestimenta, uniforme, havia sido lavada e esterelizada, porém ainda rescendia o gosto do sangue espalhado pelo campo de batalha. E, por mais que eu me abstraísse assoviando, o som das cargas de canhão nunca me deixariam em paz, eu sei disso...

Minhas pernas doíam embora só me restasse uma. Acho que chamam isso de efeito "fantasma". (???) Não, não... é outro nome, mas eu não tinha forças. Tudo que eu pensava era confuso. Eu não sabia mais o que devia fazer, nem como iriam me receber. Herói ou pária? Não seriam a mesma coisa? Minha mente ardia, e eu sentia fome. Meu ombro ainda doía, e eu sabia que havia nele um calo marcado das armas que carreguei e das pessoas que matei. Minha vista tremia de nervoso, e meu dedo mínimo estava torto por algum motivo. 

O telefone público que ficava ao lado do banco começou a tocar, e eu juro que naquele momento minha pele congelou e cheguei a puxar minha faca da cintura. Foi quando uma menininha de uns 7 anos me perguntou: 

- O senhor pode segurar meu livro? Está pesado e eu quero brincar na maquina de chiclete. - Não sei oque me deu, mas sei o que respondi.

- Buuuuu! Vá embora, menina, eu sou o demônio!

Ela saiu correndo e eu fiquei feliz. Nunca me senti tão endemoniado na vida, nem durante as chacinas forçadas. Nem quando tive que limpar os sapatos do sargento. Tive a certeza de que o demônio é um ser humilhado. Não que isto o redima, mas quem quer saber? Foda-se!

Deu 10 minutos e a menina voltou e me perguntou. 

- Você não é o demônio, eu não acredito em demônio, o demônio é vermelho e você não é! 

De que adiantava responder? Todos nós somos vermelhos, mas ela não entenderia e eu não estava nem aí. Então ela falou.

- Qual o seu nome? -  E foi aí que meu coração gelou. Eu não lembrava meu nome! 
- Pude apenas dizer o número de minha infantaria...e só.
-  Ela fez um muxoxo e pôs-se a correr. 

Meu trem se aproximava, e eu me levantava com dificuldade. As pernas tortas, quer dizer...a única perna e a muleta. Peguei com meus braços fortes e gastos minha mochila, e me dirigi à porta de entrada. Quando entrava a menina retornou e com um olhar lânguido disse:

- Pode me levar...?
- Porquê? Cade seu pai, menina?
- Não sei, a última vez que vi ele havia ido para longe. 
- E sua mãe, sua avó... não tem ninguém?
- Não sei...faz uns três dias que não encontro....
- Onde você mora, menina?
- Não sei voltar daqui...
- ......
Me olhou com um olhar  de imensidão, e senti na minha pele o pesadelo, o sublime pesadelo... Me deu vontade de estourar meus miolos.
- Desculpe menina, mas não posso te levar. Não sinto nem a minha perna...Adeus. Que o mundo esqueça. Adeus.

E fui tratar da vida.




quarta-feira, 18 de junho de 2014

O Trânsito


Pegou as chaves, a carteira, abriu a porta de casa e saiu pela portaria do prédio. Entrou no carro estacionado uns dez metros do prédio. Deu a partida e foi-se.
O sinal da esquina abriu em uns cinco minutos. Acelerou, dobrou à esquerda, guiou uns trinta metros e parou. O trânsito parecia intenso. Ficou parado, estagnado, por alguns minutos. Finalmente os carros começaram a seguir em frente. Ele precisava chegar no Recreio dos Bandeirantes às oito e meia da noite. Sua pontualidade  incomodava ao mesmo tempo que o orgulhava. Havia uma pessoa esperando, e ela não devia esperar.

Dobrou à Pompeu Loureiro, que fluiu normalmente, e isso o animou. Subiu o corte em direção à Lagoa. As placas de velocidade máxima impostas pelo governo pareciam imbecis - cinquenta quilômetros por hora num trecho praticamente expresso era a quintessência da ganância do Estado. 

Desceu o corte, completou a grande curva, subiu o viaduto e caiu no maior engarrafamento impossível de prever. Carros se amontoavam de forma caótica entre as linhas do trânsito, e as marcações das pistas já não faziam o menor sentido dentro daquela anarquia automobilística. Era tudo a síntese de um movimento educado ao avesso que representava um viver sem lógica, o existir sem leis dentro de regras criadas pelos desgovernados e sua educação mesquinha, unilateral, egoísta e de certa forma altruísta. O Estado quando não age impõe as regras básicas da sobrevivência, e ele não estava pronto para isso. Nem ele nem ninguém. Tratou de se embrenhar no caos e em segundos era mais uma peça do imenso jogo de xadrez alucinado das ruas do Rio de Janeiro.

Nessas horas a primeira coisa que se faz é olhar o relógio. Então se descobre que o tempo passa independente do trânsito, e isso o impingiu uma certa consciência de mortalidade, que o incomodou agudamente. É no nó do trânsito que grandes músicas são criadas, grandes poemas esquecidos, e grandes amores lembrados. Nessas horas vivemos a estagnação, e presenciamos a velhice e a incapacidade. Entrou em desespero médio, e isso o fez cortar alguns carros, ouvir xingamentos, lidar com taxistas ineptos e fora da ordem, ônibus como elefantes, e carros da polícia cujas luzes ardem aos olhos. 

Num andamento de trinta minutos conseguiu finalmente chegar ao fim da Lagoa bem no ponto onde dobraria em direção à Gávea, onde sabia que o trânsito estaria provavelmente pior. Nessas horas a esperança bate como um vácuo no caminho, e realmente ele acreditou que seria homenageado. Mas, não. O cruzamento desprovido de guardas de verdade era gerido por fantoches vestidos em  trajes fosforescentes, colocados ali apenas para preencher vagas de empregos desprovidos de vagas reais. Ou seja, pensou ele que Emprego é algo muito diferente de Trabalho. E pensou ele na quantidade de pessoas que acham que exercem um trabalho, mas que na verdade apenas dividem um emprego com milhões, se julgam especiais e se consideram protegidos, mas que na verdade vivem a ilusão do espaço, assim como o trânsito, o engarrafamento de funções transforma um lugar numa imensa hipocrisia.




Dentro do Túnel Dois Irmãos (que leva à São Conrado, que fica antes da Barra, que fica antes do Recreio) seu tempo já havia praticamente se esgotado, e com certeza chegaria bem atrasado. E para seu desespero o túnel estava invariavelmente constipado, como um cu cheio de merda. Sua cabeça já doía, e o pânico já não era juvenil e sim patológico. Foi tomado por uma paúra que quase o fez andar à pé, abandonar tudo e se tornar escravo da liberdade. Palavras educadas eram medidas e se transformaram nos maiores xingamentos já proferidos à raça humana. 

Finalmente fora do túnel o pânico passou, e num lapso de espaço acelerou como se quisesse chegar ao céu antes da hora. Corto uns quatro carros pelo lado direito da pista e emborcou pelo lado de baixo da via onde quebra-molas bem escondidos o aguardaram para foder seus pneus.

Conseguiu galgar algumas dezenas de metros e logo se viu afunilado pela inteligência arrogante do urbanista filho-de-uma-puta que traçou aquela reta oblíqua. Sua cara já não servia a um encontro, seja qual fosse a natureza dele. Pois mais um túnel surgiu, e ele teve que degladiar contra seus concidadãos competidores - carros - todos mal-educados, vertidos à mais pura segregação modelística, e faróis que se emitissem lasers destruiriam uns aos outros.

Enfim na Barra da Tijuca! Olhou o sinal vermelho, recebeu uma ligação chata perguntando onde ele estava. Tinha cinco para chegar ao fim do Recreio dos Bandeirantes - meta impossível de cumprir. Como o mundo é uma bosta, como o governo é uma merda, como o meu encontro é chato, nada vale tanto esforço! 

Embicou na entrada de um shopping center bem grande, pegou o cartão do estacionamento e cuspiu na máquina que lhe dava as boas vindas. Estacionou no G-5, reclinou o banco, tocou uma punheta, e foi levado a outra dimensão.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Para as velhinhas de Copacabana.


- Pernas pro alto!
- Isso é um asfalto!





terça-feira, 29 de abril de 2014

Canto para Dedé

As velas vão pro mar
O mar pras areias
As areias pras calçadas
As calçadas para os prédios
Os prédios para os elevadores
Os elevadores para o céu

Essa vida é triste triste como é
E eu no meu canto triste aqui
Escrevo uma canção para Dedé
Mas Dedé não vai ouvir...




quinta-feira, 24 de abril de 2014

Tudo tem que passar.

Onde você escreveu o amor?
Naquele papel de carta
Velho e rabugento
De uma época velha e rabugenta
Onde todos tinham tudo
E eu não tinha nada

Onde você escreveu a paz?
Naquele muro de estuque
Coberto e doentio
Com cal barata e doentia
Onde todos me fuzilavam
E eu não tinha muque

Onde você escreveu a dor?
Naquela cadeira velha de cozinha
Da cozinha da minha velha e bem calçada
De uma vida de fazenda e tendas e calçados
Onde todos me amavam
E eu não tinha nadinha

Onde você escreveu o beijo?
Naquela bochecha cor de Sol
Cheirosa de pó de flor e cortina dourada
Cheirosa de tão longe que o dourado
Já nem existia mais
E eu não tinha nem álcool

Onde você escreveu minha reza?
Naquele livro platinado
Do quarto de rezas do altar
De um homem por demais alto
Que já não existe mais
E eu não o havia encontrado

Onde você escreveu minha vida?
Naquela nuvem que passei
Pela minha janela do décimo andar
Pelo corredor onde lembranças andam
E que hoje a portaria tranca
A idade é um prédio...
Nunca mais a recuperei




quinta-feira, 17 de abril de 2014

Morrer

Ai que merda?
Morrer de quimera?

Morrer.

Morrer ateu?
Morrer adeus?

Morrer.

Morrer filantrópico?
Morrer filando trópicos?

Morrer.

Morrer verdejante?
Morrer jantando verde?

Morrer.

Morrer faxineiro?
Morrer faz xixi mineiro?

Morrer.

Morrer do olho?
Morrer do óleo?

Morrer

Morrer do lamaçal?
Morrer de lama com sal?

Morrer

Morrer cabide?
Morrer com bidê?

Morrer

Morrer amando?
Morrer a mando de quem?

Morrer.

Morrer caíndo?
Morrer ainda?

Morrer

Morrer transporte?
Morrer trans pote?

Morrer

Morrer fagueiro?
Morrer fogueiro?

Morrer

Morrer de estrelas?
Morrer de extrelas?

Morrer

Morri ontem?
Morri me contem?

Diz minha lápide?
"Ai que merda."














sexta-feira, 11 de abril de 2014

Carta de Nostradamus sobre o FIM DO MUNDO!


Ouvi rumores de que um dos sinais do inevitável fim dos tempos seria a Copa do Mundo no Brasil em 2014, este ano. Isto porque estão dizendo que encontraram em um texto de Nostradamus a seguinte estrofe:

Dans l'année de la grande coupe du monde 
Dans un cercle vert 
Au milieu d'une mer de merde 
La grande Lula va émerger





quarta-feira, 9 de abril de 2014

One of those nights

Eu estava assistindo uns programas na televisão, esperando o sono chegar, quando parei num canal de sexo quase explícito. Pensei: "Porra, não posso ver isso aqui com minha mãe dormindo no sofá!" Então eu levantei e resolvi dar uma volta pelo lindo e maravilhoso bairro de copacabana às 3 da matina.

Eu que já havia descoberto que o segredo do rivotril reside no álcool que você ingere depois dele era um cara pra frentex. Mas quando a gente é um músico fodido e gente toma mesmo rum com rivotril, e não uísque escocês. Mas a diferença é mínima. Na vida, ou você morre chique ou pobre, ambos tristes. Pois bem...

Saí pela rua. O porteiro do prédio babava seus sonhos no grande banco de madeira de lei remanescente do Homem, ou seja, quase em extinção. Nem me viu abrir a porta e sair fora. Deixei ela entreaberta só pra que o alarme soasse nos seus ouvidos em 1 minuto. Adoro fazer isso. Deixa ele ativo! Pronto para qualquer emergência. De fato, estou fazendo um bem a ele. Assim como  faço com os velhos desesperados por um assento no metrô, e eu não levanto e não cedo o lugar. Lugar de velho é em pé, assim eles ficam mais fortes e vivem mais, estou errado?

Saí do prédio e andei até a esquina. Uma maluca gritou assim que passei por ela: "Tô com setenta anos, vou aprender a beijar agora!" E eu pensei comigo mesmo:...... Não. melhor não dizer o que eu pensei.  Virei a esquina e dei com um negro, meio magro, mas alto, com cara de assaltante e gorro de pivete. Ele veio pra cima de mim. Pediu meu dinheiro e eu disse: "Aí, cumpadi, eu vendo droga, vai mexer comigo hoje?" Ele saiu batido. Isso sempre funciona. Eu tenho asco de cigarro, não fumo, e se uma mulher acender um incenso perto de mim eu meto a mão nela. Mas sempre funciona.

Dizem que tenho cara de mau. Mas sou a pessoa mais doce do mundo. Vai ver por isso o mundo fode o meu cu. Se pelo menos eu gozasse... mas nem disso eu gosto, agora comer um cu eu sei muito bem, pode crer, formado em Stanford.

Continuei minha caminhada pela madrugada de copacabana - princesinha do mar. Ahaha! Andei uns 200 metros e encontrei uma inglêsa toda doidona. Sempre que eu saio sozinho algo acontece. Se estou acompanhado é um tédio. As surpresas na vida precisam de preparação e solidão. Ela estava sentada num degrau de uma portaria contando uns trocos pequenos. Deu pena. O que uma pobretona vem fazer em copacabana? Eu prefiro ser pobre na Espanha do que na merda do Rio de Janeiro. Falei com ela qualquer coisa. Ela não entendeu. Falei mais. Ela não entendeu. Botei o pau pra fora. Ela sacou.

Levei ela pra um beco que só eu conheço (mentira). Mas que só os filhos de copacabana conhecem bem, e comecei a roçar nela. A coisa estava esquentando, e eu já estava tirando a calça dela quando de repente ela profere a célebre frase louca e feminina: "Quero ter um filho seu." Saí correndo. Tenho mais medo de assaltante do que de estrangeira senil.

Mudei meu curso - fui em direção ao mar. Gosto do mar. Gosto de pegar meu violão e tocar pra mim mesmo. É assim que conheço pessoas. Basta um violão e elas se achegam a mim. Acham que tem o direito de colar em mim só porque sou artista. Geralmente mando elas à merda. Porque não me deixam ensaiar em paz?

Um velho atlético passa por mim, pára, ouve, assiste, e resolve puxar papo. Puta que pariu, já não me basta o metrô? Digo a ele que não vou levantar pra ele sentar. Ele não entendeu. Fala comigo numa língua louca que parece com dutch e francês americanizado. Diz que vai me fazer ficar famoso, que é um produtor de LA. Que a vida é bela e outras bocetas assim... Digo que já tenho boceta demais e que na verdade to de saco cheio de comer boceta e não tem dinheiro pra comer um sushi sozinho. Óbvio que o velho não pescou o pensamento. Então continuou com o papo de me levar para fora, fazer de mim um pop star, etc e tal. Perguntei se ele era casado. Ele disse que sim. Perguntei onde ele estava no Rio? E ele acabou me levando pro apartamento dele.

Quando cheguei lá uma coroa muito da boazuda atendeu a porta. Parti logo para o plano: embebedar o velho e realizar o milagre de engravidar a coroa de 50 anos, se fosse possível isso.

Deu certo. Acordei às 5 da matina com a coroa me amando mais que o seu poodle. O velho...acho que morreu de tanto beber no sofá. Foda-se, não é meu problema, não dei bebida a ele e sou a favor do livre arbítrio.

A velha ficou louca por mim. Usamos ácido para desaparecer com o corpo do idoso mentiroso. E nos mandamos para Palma de Maiorca onde ela possuía uma pousada chique.

Quando chegamos lá, tratei ,logo de assumir o comando da casa. Despejei todos os hospedes, menos a secretária, que era um tesão de espanhola. Comi a secretária na frente da velha (que era fetichista) por noites e dias seguidos. Até que ela ficou muito puta e me expulsou do lugar. Fui parar na Inglaterra, afinal sou neto de inglês, porra. Trabalhei como sapateiro por uns tempos até juntar uma grana e voltar para a merda de copacabana.

Cheguei em tempo de ainda ver a merda do programa da globo news de manhã.

PS: Não vou corrigir este texto, vocês que se virem! E fodam-se, big time.








segunda-feira, 7 de abril de 2014

E=mc2



















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quinta-feira, 3 de abril de 2014

A Aranha

Um algum lugar de copacabana havia um menino que morava sozinho num apartamento bem pequeno. Geralmente ele dormia bem cedo, mas em uma dessas noites seus olhinhos não conseguiam dormir,então ele se levantou da cama e foi até a cozinha virar uma dosezinha de uísque.

Quando na cozinha, ao pegar um copo, ele percebeu uma pequena aranha dependurada por apenas um fio de sua teia. A aranhazinha era bem pequenina mesmo e parecia flutuar frágil e estaticamente entre o armário de copos e a pia de granito negro.

O menino até que gostava de aranhazinhas, pois odiava mosquitos, e ele bem sabia que aranhas comem mosquitos. Porém, esta aranha lhe incomodou, por algum motivo, pensou ele, urgiu em querer livrar-se dela.

Só que o menino nunca havia feito mal a uma aranha, ou qualquer outro inseto que não fosse baratas ou mosquitos. Diz ele que esses merecem. Mas aranhas não. Admirava a beleza dos movimentos das perninhas, e sabia que aranhas teciam tramas de teias tão fortes quanto aço, e que sua armadilha podia ser pior que qualquer Lojas Americanas. Eram grandes comerciantes. 

Decidiu então pegar um copo e utilizá-lo para envolver a aranha sem machucá-la. A aranha se assustou e tentou içar-se ao teto mais próximo, mas o menino foi mais ágil e confinou-a ao copo finalmente tapando-o com papel.

O menino então levou o copo para fora do seu apartamento e suavemente livrou a aranha no chão do corredor, fora de seu pequeno apartamento.

Voltando para a cozinha ele finalmente resolveu encher o copo com um pouco de uísque. Assim o fez. Apenas não se deu conta de que a aranhazinha quando amedrontada lançou uma pequena gota de seu veneno no copo. Este veneno misturado ao uísque que o menino colocou no copo fê-lo dobrar de intensidade. 

Depois de tomar seu uísque o menino foi dormir. Ao pegar no sono sonhou, e neste sonho se viu andando com tamanha rapidez por um corredor empoeirado até chegar ao seu fim, onde bateu numa espécie de madeira que não era nada mais que a porta do elevador dos fundos.

Ouvindo um estranho barulho de engrenagens ele percebeu que algo havia se movido dentro daquele portal, e que subia em sua direção. Congelou-se como uma aranha faz, e esperou. A enorme porta abriu e passou por cima dele sem tocá-lo, visto que ele era realmente muito pequeno em relação a tudo ao seu redor. 

Foi quando de dentro do elevador saiu uma linda mulher, alta, loura, e com a maior bunda existente no mundo. É óbvio que ele não se deu conta disso, pois  que havia se transformado na aranhazinha. 

A mulher olhou para ele, gritou, e sem querer deixou cair uma garrafa de uísque, que se quebrou bem em cima dele.




sexta-feira, 28 de março de 2014

Que Merda!

A vida carrega mais sal do que terra. Terra é fácil de encontrar. Já o sal valeu muito dinheiro no passado. E por incrível que pareça já virou cliché o "sal da terra". O que será que faz duas coisas se completarem?

Eu não amo. Não tenho mais amor no coração. Faz tempo que só amo o uísque que tomo. Bom.... o rum, porque uísque anda meio caro pra mim. Então tomo rum sempre do mais vagabundo, admirando sua cor transparente, inexistente. Rum é terra, sal é uísque.

- Porra! Mas uísque tem cor de terra, e rum de sal, acho que você está confundindo as bolas.

- Bolas não. Você sabia que a maioria das expressões linguísticas brasileiras são perversas? Por exemplo: "fazer nas coxas". Já ouviu coisa mais feia que isso? Significa gozar nas coxas da mulher vírgem como forma de desabafar a necessidade sexual antes de um suposto casamento. Gíria antiga que nossos pais adotaram sem nem pensar no desequilíbrio psicológico que nos causaria (e causou) em nossas vidas. Outra: "levar a vida na flauta!".

- Não! Essa não tem nada a ver com piroca. Você tem uma mente doente! 

É claro que tinha uma mente doente: passou a vida sendo chamado de ***** no colégio, no trabalho, no futebol, na rua. Fez uma aula de jiu-jitsu pra ver se dava porrada em algum deles, mas sofreu bulling do professor, pode? Fez kung fu, mas a academia era uma espécie de gang, onde o professor oferecia serviços de "ajuda", caso algum aluno possuísse rivalidades na escola.

- Pô, mas isso até que era legal! Pena que com os novos tempos, e a consciência orgânica de tomates isso foi por terra abaixo. Acho que um professor de kung fu justiceiro faz falta neste mundo de merda!

De novo a palavra "terra". O que realmente significa "terra"? Estrume? Cama de flores? Vida? Merda? Tudo isso? Terra é o paradoxo do sal. E mesmo assim ambas andas juntas num "song" dos Rolling Stones. Porém terra é totalmente diferente de sal. Terra enobrece, alimenta; o sal mata, assepcia, limpa. 

- Cara, eu surfo há anos e sei que a fauna marítima, especialmente os corais onde me arrebento não sobrevivem sem o sal. Até se cozinha com sal marinho, água marinha na moqueca é o bicho!

- Pe-la-mor-de-De-us! Moqueca cozida com xixi de caranguejo é o fim! Eu não faço, não adianta.

Houve uma época em que as pessoas achavam que seus leitos de morte eram o mar. E por isso, no momento derradeiro, alguns malucos pisavam as areias de copacabana em direção às ondas que os levariam ao Valhalla carioca.

- Cara, eu lembro do terror que eu sofria quando minha mãe me segurava no colo, ainda bem menino, e adentrava as areias de copacabana me levando à força. Meu medo sumiu. Hoje em meus sonhos surfo Waimea. Mas o engraçado é que outros medos ficaram, e nada tem de salgados, são muito mais ligados à terra que outra coisa.

- Um minuto, vou pegar um rum...

Fazia coquetel de rum com rivotril. Sabe o que sentia?: nada! Pode isso? Morava numa cidadezinha de Ohio, e enquanto bebia admirava a chuva que caía quase o ano inteiro.

- Cara, sabe o que eu gosto de fazer aqui? Sair neste frio de quase inverno apenas vestindo uma calça de veludo e mais nada. Gosto do choque térmico. Esse choque térmico me lembra das aventuras que quero viver.

- Fodam-se as suas aventuras! Eu quero apenas ter um jabuti, no Hawaii eles sobrevivem, se bobear levo pra surfar.

O Frio é salgado; o calor é feito de terra, de lama. A chuva que cai na pele, não importa, sempre nos enternece, ou nos mata. O rum um dia será uísque, e no fundo será a mesma coisa que uma prostituta encostada num bar de Las Vegas, ou do Meridian de Copacabana.

- Sabe que de longe Meridian sempre me pareceu Merdian?

Que merda!

sábado, 15 de março de 2014

Foda-se


Fodam-se os redutos
Os astutos
Os deuses de pedra
As vargens sem serra
Os sonhos sem quimera
Fodam-se os argutos
Os amores sem luto
As lutas sem amor
Os afagos sem dor
Os certames vazios
Os momentos sem calafrios
Fodam-se os nulos
Os pedestres sem muros
Os atores e os músicos
Fodam-se os palhaços
Os reconciliados
Os mal-tratados
Os arraigados
Os latifundiários de si
Fodam-se os de quem se ri
Que o mundo se foda
Pois que o mundo não se poda
Nada nunca foi meu
Nada nunca foi seu
Foda-se você
Foda-se eu





terça-feira, 11 de março de 2014

Pessoas


As pessoas têm ciclos
Ou não...
São o que são.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Carta ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura.



À Vossa Excelência, o ministro da agricultura do Brasil.

Venho através desta fazer uma simples pergunta sobre um assunto que pode parecer pequeno ante outros de vossa excelentíssima agenda, apesar de ter repercutido mal, porém sem muito alarde, nos meios midiáticos, não faz muito tempo. Seria até consideravelmente pequeno se pensarmos na imensa quantidade de indivíduos sem o poder aquisitivo necessário que os desse guarida a proferir alguma opinião sobre este assunto. Porém, tal assunto, assim como sua pequenez, provavelmente fosse um grande assunto em países mais avantajados ideologicamente, e quem sabe este não seja um sinal de que, se  começamos mal, sempre seguimos mal, e provavelmente acabaremos mal intencionados, no que tange à nossa responsabilidade como povo, governo, consumidores, mamíferos e alienados.

Sem mais delongas, visto que o tempo de vossa excelência, em outras épocas remotas, valeria o preço salobre que adorna o sabor do produto ao qual logo me referirei, chego rapidamente à questão que venho atirar-lhe na face em forma de pergunta.

Pois então, caro e excelentíssimo indivíduo,  me encontro num dilema sem fim, pois que tenho a impressão de que um produto utilizado em minha culinária trocou de sexo! Pois é...

Se no rótulo do azeite que compro todo mês é possível e fidedigno encontrar escrito ao mesmo tempo "AZEITE EXTRA VIRGEM", e logo abaixo "TIPO: EXTRA VIRGEM", poderia então vossa excelência ser do "SEXO MASCULINO", TIPO: MASCULINO? (Não que eu tenha algo contra..)






Ps: Se "extra virgem" já não é um pleonasmo, não sei o que é o meu pau.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Perceba


Perceba!
Quando for tomar banho
concentre bem o sabão.
A parte do ser humano que mais fede é a cara.






quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Erro


Errei...
Errei tanto...
Aí, se eu pudesse voltar o tempo
Teria a vida encanto?

Errei...
Errei tanto...
Ai, se pudesse voltar a tempo
Estaria, eu, em que canto?

Errei...
Errei quando...
Ai, se pudesse voltar em tempo
De começar meu canto...






sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sobrevivência social



Diferente do Homem a sociedade se regenera.







sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Antes do Sol

Eu nasci antes do sol.
Quando os raios enfim me tocaram já eram parte de mim.
E minha pele se pintou formando ilhas que separavam meus poros em longitudes.
Olhei para o céu e ele estava próximo.
Olhei para o mar e ele estava perto demais.
Algo me levou e foi me levando
E depois do pôr-do-Sol
Fui me afogando
E do fundo das minhas entranhas
Surgiu um gemido
Que se não musical, sabe-se lá o que seria...

...Hoje.

Parte mais importante da vida.
Eu me pergunto
E peço
Não me large
Nunca jamais não deixe minhas mãos
Pois nasci antes do sol...



domingo, 26 de janeiro de 2014

Relva, Sol e Vento

És linda como a relva
O Sol da tarde, pálido
Que desmancha nossos cabelos
E nos ensina que o amor é um vento.




Money sabe nada; mas Monet sabia.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Insone com sono

Nasci de duas pessoas muito boas. É claro que não conseguiria grande progresso nesta vida. Mas uma qualidade elas têm, a de nunca esmorecer. E assim eu sigo, não esmorecendo cada vez mais.Tenho ajuda de algumas substâncias coadjuvantes, mas quem hoje em dia não as tem? Porém, sempre me faltou o sono. E Hoje em dia mais ainda. Não me julguem mal, não sou um insone. Quando tenho sono durmo facilmente. Acho que o insone é aquele ser que apesar do sono rola na cama como se esta fosse um canhão entupido. Eu não. Bate-me o sono e durmo com os passarinhos. Mas sinto o cansaço, que ainda não sei definir de onde vem, pois não é um cansaço do labor. Talvez seja um cansaço que vem dele mesmo, e por isso não se pertence. Pois é claro, ninguém pertence ao que se é. E quando me bate essa tensão me ponho a escrever qualquer asneira. Sei que o sono gosta de bobagens, quem sabe assim não atraio devaneios de bolhas de sabão.

Pássaros, segurem minha alma, que o que não é certo a gente sabe de antemão, sem saber. No fundo todos nós sabemos tudo. Há um conhecimento que vai além do simples pensamento, e que se chama instinto. Quem não concordar está se enganando, ou não tomou no cu o suficiente ainda. Alguém aí já pensou em que idioma pensa? Pois é. Pensem nisso.




 Como hoje não sou tão bonzinho assim acho que eu chego lá.



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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Choro


    Eu choro

            Na chuva

                    Pra que

                         No meu rosto

                                  Ela se confunda.




                             




domingo, 5 de janeiro de 2014

Ratos

Ratos! Ratos é o que subsiste neste bairro. O resto perece assistindo aos ratos. Os lixos empilhados são montanhas intransponíveis, eles assistem meus devaneios. Quando faço a perigosa travessia entre minha porta e a do supermercado notívago. Passo pelas rua e festejo. A cada rato que vejo - um ser humano. Tenho a certeza de que vejo pelo menos uns dez, se eu realmente prestar atenção - durante uns vinte minutos. Às vezes levo minha câmera fotográfica para tirar fotos dos meus vizinhos de subsolo. Subsolo? Já estão acima há muito tempo, e cada vez mais. Não trazem mais a peste negra, mas trazem a negra peste. Monstros do "crack", dragões dos farelos, seu mijo queima, seu ar inebria e confunde. Era o bairro mal-cheiroso desde quando? Entre as pilhas de lixo ratos buscam artefatos. Na busca do pão-morto perscrutam seus sonhos inexistentes, seus olhares mofados, suas peles de fungos, seus olhos de rapina, e seus narizes platinados, muitas vezes adornados de piercings, sabe-se lá como.

De repente sou puxado pelo braço. Um velho de mil anos me pergunta numa língua estranha, inexistente, onde fica a praia. Embarco em seus olhos de cor fétida, castanha - mais de sujeira que de real cor - e me invade um sonho. Minto! Eu invado o sonho. Não há quem consiga viver esta vida sem se evadir em sonhos. Não há que consiga atravessar o deserto da noite de copacabana sem se sentir beduíno. Somos orelhões falantes, somos cigarros pisados, somos restos da calçada. Nossa pele vai se metamorfoseando em pedra, em pixe, em betume, e nossos corações amalgamados já possuem a paupérrima cor dos muros cor de ratos.

O velho me segue. Acho que ele acha que nada possui. Está certo. Entra no supermercado comigo. O segurança nem liga. Ele é feito da mesma massa atômica, do mesmo carvão que um dia há de queimar nossos narizes e cerebelos disformes pela cidade. O velho me pergunta o quê é aquele queijo - e aponta para um canto. É um queijo fedorento, responde. Caro!, ele diz. É feito de lixo? Penso nos ratos. Com certeza contribuíram muito para essa combinação francesa. Porém nada pode negar a penicilina. Engraçado, penso eu.  O velho abre o queijo e o devora. O segurança nem aí. Eu fujo.

Volto para  casa seguindo meu caminho. Um viciado em drogas me aborda. Ele quer comer. Eu nego dinheiro para craqueiro. Ele pergunta se posso entrar naquele boteco 24 horas e comprá-lo um "algo". Sim. Peço para me seguir. Ele avista um "casal" de policiais fazendo seu "recolhimento" noturno diário no estabelecimento. O drogado estremece. Tem medo de ser subjugado como um rato. Mas quem são os ratos na verdade? - penso eu. Sou duro, forte, deixo claro que comigo ele pode entrar no lugar, mesmo com polícia ou o caralho à quatro. Ele confia. Esse talvez seja o único benefício do crack, te faz confiar no próximo, o quê na verdade não considero um grande benefício. A polícia me cumprimenta. Sinto respeito vindo deles. Não sei o porquê - não carrego armas comigo. Mas meu olhar de rato os indentifica, será? O craqueiro quer comer. Esta suando de fome. Sua baba é bovina. Seu olhar é feito de luar. Prestando bem atenção sua pele é incolor, sua barba de plástico. Sugiro a ele um sanduíche de presunto com bastante queijo e tomate. Sugiro duas vezes. Sua experiência me mata - ele escolhe uma torta bem calórica. Sabe melhor do que eu a fome de amanhã, e pouco liga para o colesterol. Acho justo, e era até mais barato. Come como um rato faminto. São todos famintos, A polícia observa mas nada faz. Eu estou ali, com minha cara de filho de coronel. 

Sigo meu caminho, quase abraço uma puta, mas me dá nojo. Como é dolorosa a solidão dos ratos.