quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Esfinge

Há uma inversão da alma. Você pega a sua alma e a coloca de trás pra frente. Pra fazer isso você tem que chutar a alma. Chuta que nem se fosse um pedaço de lixo. Como se a tivessem dado de graça. E o que sobra? - você ao contrário. Adquirindo os sentimentos desnecessários, os aminoácidos do sumiço, as virtudes embotadas que te levam ao orgasmo pleno de hoje em dia.

A guerra de pernas em vez de capacetes. Em vez de armaduras, tudo mundo nu. Você pode perder algo mais que seu celular no meio daquele campo de batalha. Algo que se perde para sempre, ou por muito tempo, pelo menos. E não adianta fugir. Há o fluxo. O Fluxo te puxa e te broxa. Não se decepam mais cabeças. Decepam-se órgãos sexuais. Os tiros vêm de todos os lados. O gás mostarda atinge a esfinge do teu conhecimento. 

O campo não é neutro. Pertence ao capitalismo de vanguarda, falso, venezuelano. Aquele que se baseia na ditadura. É a dita dura mesmo. E alguma voz feminina te sussura: "Me chama de Dilma que eu te chamo de Ratzinger." "Não foge, não! A pedofilia da alma é pior que a da idade!" Te chamam de Raposão, de Filho-da-puta! Tanto, que você acaba se tornando um mesmo. Hoje não se escolhe mais o que se quer ser, escolhem por você e pronto. Huxley acertou, mas errou na intensidade. A coisa é bem pior. É muito mais sub-reptícia. 

Hoje sonhei com uma mulher, que uma vez conheci. E eu estava numa cidade longínqua, onde estive uma vez. Com pessoas longínquas, algumas nem tanto. Homens querendo aquela mulher assim como eu. E ela não queria ninguém. Ela queria sua liberdade de ir e vir. Quem disse que o amor restringe os pés, ou a alma?

E eu cedi essa mulher pra um amigo, sem nem ele consegui-la. E cedê-la significava ter o seu telefone, seu secreto número de telefone, que começava com o número cinco. Faz sentido, de acordo com o lugar, agora eu sei...

Esse "interlúdio" nada tem a ver com nada. Não consigo encontrar o significado. Talvez explique algo que procuramos ao avesso. Que não temos que nos embrenhar em nada mais do que em nós mesmos. Temos que foder a nós mesmos, e nos engravidar, e nos gerar de novo, pra só depois pensarmos em "novos". Temos mesmo é que nos foder pra entender alguma coisa. (risos)

E a guerra continua. É um conflito mundial, uma força oculta, irradiando pelo ar, como uma Hiroshima sexual, comportamental. A escala cromática das luzes que faltam, e que quando no meio da penumbra, não se sabe mais em quem se está tocando, nessa orgia fundamentalista a pergunta na entrada é:  "Devora-me ou te decifro!".




segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Olimpíada

Quando a Rocinha
Tá mais divertida que o Leblon
É que o Rio não está bom.



O meu blog é feito da minha geleia.



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Feijão

Não curto o urso, curto a caverna
Não curto a aranha, curto a teia
Há algo de místico na precedência das coisas
Os seres são onde eles estão
São o que as coisas fazem deles
A grande transformação
Se dá quando cai na terra
Um grão de feijão

(mentira!!!)

Eu curto mesmo é o urso
Eu curto mesmo é a aranha
Pois uma caverna é apenas um buraco
E uma teia apenas um fio de seda
Os seres são o que importa
Eles são a precedência de tudo
E tudo se modifica em torno do que eles plantam
O segredo é o feijão

(mentira!!!!!!)

Não é nada disso...
O segredo é estar junto
Como irmãos






domingo, 17 de fevereiro de 2013

Alquimia

Dorme, poeta, tua missão foi cumprida.
Dorme bem! Não penses em mais nada.
Fizeste o que pôde, a estrada foi comprida,
Chegaste à metade de uma chama parda.

O que está por vir não te compete.
Apenas a  Deus o caminho caberá.
Seja pluma, fantasia, ou confete,
Apenas tua mão vazia estenderás.

Há mil anos busca-se a riqueza.
Buscou Newton, buscaram outros,
Nas noites do tempo perdido em segredo.

Confia às mãos tua única certeza:
Tua transformação do chumbo em ouro
Apenas relegada a teu dedo.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

CHARGE 5















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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Gélida

Água boa
É água fresca.
Água gelada não é boa,
Destrói o corpo.

Assim como seus olhos
Destroem os corações.





segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Eira nem Beira

Toda primavera Greg soltava os cavalos à tarde para que pastassem e passassem as noites livres. Isso acontecia nas campinas a dois mil metros de altura, nas Rochosas de Wyoming. No inverno a temperatura podia cair até uns quarenta graus celsius abaixo de zero. Na primavera a temperatura mais amena chamava as almas, e Greg gostava de ouvir, no som dos cascos dos cavalos em carreira, o som de sua infância. Um dia soltou todos os cavalos como de costume. No outro dia um deles não voltou. Deve ter ido para Nova York.

As coisas são engraçadas, e assim é o ser humano. Invertido em si mesmo, construiu tudo que possui sem perceber que iam durar bem mais. Eu, por exemplo, tenho um violão construído depois que eu nasci. Quinze anos depois que eu nasci, para ser preciso. Hoje possui, segundo um amigo meu - grande consertador de violões - a metade do que é necessário para que seja um bom violão. Quando for um ótimo violão eu estarei com uns sessenta anos. E um dia vou embora, mas meu violão vai ficar cada vez mais maravilhoso. Não sei se sozinho, ou nas mãos de qualquer um. Sabe-se lá o destino das coisas, mas com certeza vai durar mais do que eu. Da mesma forma durarão as geladeiras, os carros, os aviões, as ruas, as cidades... Que tudo isso, mesmo obsoleto um dia, há de durar mais que a fécula humana. E isso me leva a crer que na verdade não criamos cavalos para cavalgarmos neles, e sim para que eles nos cavalguem. É assim com meu violão, bem como com o velho e enrugado Mustang de Greg. Pois que o Homem nada pedala, e é sim pedalado pelas bicicletas que constrói. Na verdade, sob este prisma, pertencemos às coisas, e a nada elas pertencem por muito tempo. Flautas doces são doces e eternas.

Diz-se "sem eira nem beira" a um indivíduo qualquer, sem proteção, sem ter onde se alojar, sem dinheiro. Quase ninguém sabe o que significa "eira" nem "beira" na língua portuguesa. Eira e beira são os detalhes das bordas dos antigos telhados construídos no estilo português "colonial" para nós, precedente pra eles. Mas só os ricos podiam ter telhados com eiras e beiras. Greg, assim como eu, não possuímos nem eira nem beira. Não a aristocrática pelo menos. Associada, na maioria das vezes, ao jeito de ser do indivíduo, têm muito mais a ver com possibilidades financeiras. Porém o tempo, que tudo dilui, transformou numa coisa menos econômica e mais psicológica. Deve ter a ver com a analogia entre mente (cabeça - nossa ponta de cima, nossa beirada e testa) e telhado (fronte da casa). As eiras e beiras vão durar bem mais que seus construtores. Mas Greg e eu vivemos sem isso.

Tem gente que mora longe, tão longe, que acha que está longe.