terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Boca

Gente é um tormento
Ou fala de mais
Ou fala de menos.




quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Conto que reluz.

Na natureza há artifícios. Cores que nos enganam. Flores que nos enlevam. O céu hoje tomou a Terra de sobressalto, e os peixes ondularam com a maré azul. Não sei se flocos encadeados, ou linhas imperfeitas, ou firulas de partículas foram essas, mas com certeza a ondulação que geraram fora mais deslumbrante que nuvens de seda. Como se a natureza, qual cozinheira embriagada, preparasse ao Homem o prato gourmet mais cintilante já visto. O céu não se abrira, pelo contrário, se movimentava como serpentinas celenteradas, esfumaçadas, e em volta desta bruma grossa, existia algo, alguma coisa indefinida - Deus?

Ai, como é linda a terra do Arpoador, querida. Se eu pudesse eu me jogaria nesse céu, nesse mar, nesse sonho... É claro que você pode se jogar, amor, mas não se esqueça das pedras que virão antes. E daí? Depois é paz, e glória. Não... querido, a paz existe apenas numa música qualquer que um famoso compositor fez para isso tudo. Ok, beije-me então, e aprecie as ondulações da maré alta, o crispar das estrelas, a lâmina do luar, e as serpentinas das sedas.

Chegaram por fim a uma casa. Ela ficava por detrás de uma das moitas, ou pedras, ou moínhos imaginários da praia. Era uma casa de madeira, e seu fim era como seu começo: irretocável. Abriram a porta da pintura, e de dentro daquele quadro havia uma janela e o azul que se misturava com o branco sedoso e sinuoso era mais claro e seu lume maior que por fora.

Mas é claro, disse Paulo. Aqui dentro tem mais vida. Mas como tem mais vida se aqui é escuro? Bom... vai ver esta é a razão. Por ser escuro o brilho de fora é sempre mais grandioso. As coisas que a gente não tem são belas enquanto não as temos. Mas às vezes são belas também quando as adquirimos. Amor, lembre-se que não brigávamos antes de amar. É verdade, acho que o Paulo tem razão. Mas que és tu, Paulo?

A questão não é quem sou eu, mas sim quem são vocês! Eu já estava aqui, em minha casa, vocês que entraram! Mas a porta porta estava aberta, nada pudemos fazer. É claro que poderiam ter feito, ora! Bastava não entrar. Ok... acho que vamos sair, então. Podem até tentar, mas eu não sei mais onde está a chave da porta, e a janela é alta demais. Mas foi bom que vocês tenham chegado, pois minha liberdade reside na situação. Eu irei junto, se não se incomodam.

Num canto da mesa, sentado tomando um uísque se encontrava João, que falou: - Pois eu possuo a chave. Se vocês quiserem eu dou. Mas têm que fazer uma promessa a mim, de que o próximo casal que aqui neste recinto entrar será a minha vez.

Claro, João, pode passar a chave, o mundo é um destino e nada mais do que acontecimentos que vão acontecer. A mudança é a única certeza. João então deu-lhes a chave e ao abrirem a porta lançaram-se num mundo de céu e brisa e turbilhoes dadaístas de seda branca e creme envolvidos num pano bordado pela natureza, filha de Deus, que os levou ao lindo solo pedregoso do Arpoador.

Quanto tempo por isso você esperou, Paulo? A resposta foi "a eternidade". Mas um poeta um dia escreveu que esta dura apenas um momento . "Foi rápido,eu acho."

João espera, Que alguém abra a sua porta, que a feche e que lhe entregue a chave que a abrirá novamente. Um momento eterno é uma fração de segundo. E na tela de trabalho de seu computador o desenho de serpentinas de nuvens, ventos celenterados e muita certeza.





sábado, 14 de dezembro de 2013

Para A.

O teu olhar é indefinível
Contém toda a tristeza necessária de um ser feliz.






quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Muitas Vezes (versos imperfeitos)

Uma nota de um milhão
Muitas vezes
Não vale um sorvetão

A Lua no alto do mar
Muitas vezes
Vale nada sem luar

Sem querer
Muitas vezes
Você não é você

Um homem só é digno
Muitas vezes
Dentro do vinho

Eu queria poder ser              
Muitas vezes
O que é você

Música na alma
Muitas vezes
Em nada acalma

Queria ser palhaço
Muitas vezes
Crianças no teatro

Versos imperfeitos
Muitas vezes
Não querem dizer defeito




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Peteleco

Às vezes sou um campo onde cavalos selvagens divagam sobre a vida
Devagar! Eu acordo sempre que não durmo, e sei que é longe...
Hoje o campo está florido, Deus! Mas em minha terra só há uma estação
Que seja sempre a estação das flores, e das pedras de granito azurita
Correm os cavalos, e são necessários cavalos para se cavalgar os montes
Correm cavalos, e nós em cima, ansiosos do dia em que montaremos bisão
A vida... a vida não tem mistério. Deus me ensinou: basta um peteleco.





sábado, 7 de dezembro de 2013

As Coisas Dão Certo Da Maneira Errada.

Cada vez tenho mais a certeza de que as coisas dão certo da maneira errada. Pense bem: há cem anos atrás começava-se a andar de automóvel, porém durante milênios imperaram as charretes e afins. Hoje, cem anos depois, estamos mais avançados tecnologicamente, urbanisticamente, o que nos levou também a um avanço social sem medidas, dentre outras facilidades. Mesmo assim demoramos horas para chegar ao trabalho, se formos de carro ou ônibus, ou qualquer veículo de quatro rodas. Diz-se até que a velocidade média do trânsito de uma grande cidade é equivalente às das charretes de antigamente. Provo, neste texto então, que as coisas por fim deram certo, mas da maneira errada.

Nossa comunicação é seguramente bem mais avançada do que no tempo do Onça. Naquela época, mandávamos bilhetes, cartas que chegavam atrasadas aos fatos - quando chegavam -, a pricipal obrigação de um ser com visão era comprar os jornais todos os dias e se informar. Jornais de papel, eles eram o que havia. Até muito pouco tempo (minha infância, sem querer me gabar da minha idade) não existia tablets, nem laptops, nem mesmo computadores pessoais, quanto mais redes sociais. Andróids só na televisão - que era preto e branca, pra classe média era colorida mas de uma qualidade péssima. "Internet" era literalmente feita "a la" boca à boca, e a quantidade de informação sobre futuras erupções de vulcões, ou supernovas que podem dar cabo de nós em segundos eram teóricas ou desconhecidas. Mas todos os perigos existíam, e as pessoas eram as mesmas, embora tivessem que discar um telefone e torcer pra que a ligação completasse. Hoje, com todos os avanços tecnológicos, obviamente progredimos. Mas é inegável que a quantidade de informação jogada na rede não possui a menor confiabilidade (na maioria das vezes), e os telefones não discam mais, mas o sinal corta nas horas mais emergentes. E embora possa-se utilizar de toda essa evolução simbiótica se ganha menos dinheiro do que antes. Pois o mundo está numa crise bufante, e toda essa tecnologia é infinitamente parcelada em 12 vezes sem juros pelos que não têm muito vintém, ou seja: mais gente do que quando da invenção do vinil. Que aliás, morreu, e ressuscitou valendo 500% a mais. Ótimo investimento. Outro dia vi na televisão um americano dono de 10 mil vinís. Esse sujeito está rico, como nunca esteve antes, deste modo. Palmas! Ou seja, as coisas por fim deram certo, mas da maneira errada.

Encontro-me aqui, sozinho, escrevendo algo que pouquíssima gente vai ler, talvez ninguém (calma, não posso ser tão duro comigo assim, têm americanos e suíços lendo, que eu sei. ... em português...). Graças ao widget que eu instalei no meu blog e que me provê com a informação remota de fãs. E isso porque eu possuo apenas a versão shareware. De outra forma eu saberia até a cor do cabelo deles. E tem as redes sociais para me dar a ilusão de que estou sempre bem acompanhado.Há também os sites de encontros sexuais (não me venham dizer que não é para isso!, afinal coito é a manifestação natural mais importante dos mamíferos.). Fora os SMS's que me dão uma noção bem pragmática do que está acontecendo com o meu "igual". Existem psicólogos que hoje atendem por skype e que dão resultado, pasmem! Por quê não haveríam de dar??? E mesmo assim, com tantas inovações no campo dos relacionamentos, me parece que as pessoas ainda cometem os mesmos erros do passado. Paradígmas na verdade não me parecem mudados. O artista que não ganha grana ainda é infantil; mães ainda gritam com filhos pela cor das calças que eles vão usar em casamentos movidos por convites vindos por e-mail. Um ser humano solteiro depois dos 35-b é considerado ET por muitas sociedades que não deveríam estar atrasadas, visto que possuem celulares e whatsups. Porém como dizia John Lennon " Sou um artista, me dê uma corneta e eu vou tocar alguma coisa.".



Sei que esse texto parece nostálgico à beça, mas não o é. Se o fosse não estaria sendo escrito num blogspot. Esse texto é para lembrar àqueles que  amam, que o estão amando ainda anda com a velocidade de 20 kms /hora, e que não adianta correr, que o centro da cidade de seus corações está entupido de gente motorizada, internetizada, e cega. O verdadeiro amor no final das contas dá certo como dava antes. Ok...antes não se separava com facilidade por causa taboos. E daí? A separação é um estado de espírito e não um ato. Assim como a internet é um estado de espírito e não uma rede; um celular não lhe comanda, amigo, é você que continua dando as cartas da sua vida, ou não. E o amor? Pode ser bom pontualmente, ou em alguns casos onde existe o respeito a amizade e o encontro de mãos que se necessitam, mas geralmente é uma merda como sempre foi. E o que importa é que as coisas por fim dão certo, mas da maneira errada.