sábado, 28 de setembro de 2013

É isso aí

Tem um papelzinho na minha frente, preso nas teclas do meu piano midi, que tá preso no computador, que tá preso na parede, que tá presa no meu quarto, que tá preso em mim, e eu queria tanto me livrar dele. Esse papelzinho eu que escrevi uma idéia pra escrever depois uma outra coisa, tá me atrapalhando a escrever agora uma coisa outra que não tem nada a ver com ele. Vou tirar ele daí - pronto!

Parece papo de deficit de atenção, mas não é, embora eu o tenha. Vou começar o texto afinal!




Eu precisava de uma fogueira. De uma fogueira que fosse queimando o som da minha música enquanto eu fosse tocando. Eu precisava estar no centro de um sítio, com cachoeira, com árvores, e abelhas trabalhando pra eu passar mel no meu pão feito por mim mesmo. Eu precisava de uma fogueira que conversasse comigo. Que evaporasse minhas lágrimas dentro de seu calor fumegante de coração. Eu precisava de uma fogueira, pois violão eu já tenho, já tenho as músicas e invento novas. Queria um fogo que ficasse azul quando se jogasse uísque bourbon nele. Uma fogueira que bebesse comigo. Como um amigo que dividisse as dores comigo. Como um cão, que respondesse com os olhos às minhas perguntas feitas com palavras. Eu precisava de um cachorro que na hora do meu aperto sentasse ao meu lado e lambesse as patas. Não as dele, mas as minhas também. E que na hora da pergunta, sua resposta viesse com um bocejo enorme, sua língua atingindo o universo, do comprimento do seu suor. E que logo depois me olhasse de soslaio e me disesse algo através de uma remela parecida com lágrima.  E que brilhasse ante o fogo da fogueira. Eu precisava também de uma flor amarela, que repousasse incólume na noite sem vento, e que me olhasse de dentro, sem olhos, sem bocejos, sem remelas, mas com uma alma terrivelmente grande. Que engolisse o mundo e esbanjasse luz de clorofila em minha cabeça embaçada pela refração do ar quente subindo e tornando tudo em sonho. E eu também precisava de um passarinho, que fosse marrom, e tivesse um bico longilíneo. E que batesse na minha janela anunciando minha hora de compôr, de treinar meu violão de fibra de tempo. Eu precisava subir nesse passarinho e voar... E que em meus bolsos eu tivesse o dinheiro suficiente para entrar no supermercado que eu mais gosto, olhar tudo, roubar um pedacinho de queijo, e sair feliz sem comprar nada.

É isso aí.



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