sábado, 3 de agosto de 2013

Esc.

Como o mundo mudou...! Ontem meus amigos eram pessoas que eu encontrava, que eu conhecia, tinha referências sólidas, me ligavam, e batiam, vez em quando, em minha porta. Hoje meus amigos mais presentes são pessoas que muitas vezes nunca encontrei. Dizem quem isso é a era da super-informação. Eu acho que é a era da solidão.

Uma vez fui criança, e criança só se é uma vez. E eu tive um balão vermelho que se despregou das minhas mãozinhas e foi na direção do vento. Pois quando eu me vi, eu era o balão, e viajava ao sabor das marés celestes. Voava alto, muito alto, porém minha visão não enxergava o que era realmente de fato a realidade. Alguns chamam isso de inconsequência, de sonhos até. Eu acho que era vertigem.

Hoje parece que colaram as solas dos meus sapatos com Super-Bonder. Não tenho mais a possibilidade de poder ver o mundo de cima, de uma perspectiva total. Porém, do chão, consigo enxergá-lo com mais ciência. Talvez estivessem certos os céticos de minha existência.  Não era vertigem, era sonho.

Mas era boa e triste a vida com sonhos. Pelo menos era colorida e o tempo escorria pelo meu corpo todo, e não apenas pelas minhas mãos. Fico pensando nisso, e chego à conclusão de que estou errado, mais uma vez errado. Isso não é sonho, é vertigem. Não era boa minha vida, era triste. Meus amigos batiam na minha porta de madeira de lei, cortada de uma árvore chamada Solidão.

Tem um momento na vida em que a gente percebe que o mais importante não é a corda onde nos equilibramos, mas sim a rede que nos amparará quando caírmos. E outro momento em que a rede é nosso empecílho, nossa vergonha até. Queremos e ousamos cruzar os céus sem qualquer forma de segurança. E existe ainda outro momento em que percebemos que não existe a corda, apenas a rede de proteção, e rezamos para que ela nos segure, mesmo!

Quando eu era criança,  e o meu balão vermelho voou, eu comprei outro. Outras vezes, ganhei balas para compensar a perda. Mas uma vez ele ficou preso no topo de uma árvore, e aí eu descobri o melhor objeto de todos, que nos faz realmente voar, e nos trás de volta ao chão, salvos e seguros. 

Eu chamo de escada.




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