terça-feira, 23 de abril de 2013

Para Y.

Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Um minuto antes... Nove vezes. Nove setas. As setas estão à nossa frente todos os dias e todas as horas, mas só ele viu. Sentiu. 

Diante do impossível, da juventude arrancada à força, da imoralidade social, da soberania governamental, do improvável, existem prováveis setas. Nove setas. E uma imensidão de setas para levá-lo à algum lugar melhor. Existem os olhos, e o intragável, o caos do minuto antes.

Dói. Doeu. Seu filme vai no fundo da seta de cada um. Nunca, no pouco tempo que o conheci, pude conhecê-lo realmente. O filme me abriu os olhos para uma coisa que eu não pensava. Me perdoem, mas é impossível explicar com palavras. Portanto este texto estará fadado ao que não conheço. A covardia e a coragem são primas e irmãs, e poucas palavras me tocaram tanto quando essas dele - indizíveis - apenas por ele possíveis. Pois quem sofre sabe. Quem não entende que se foda.

Olha só eu aqui tentando falar de dor! Eu que nada entendo dela. Felizmente... Infelizmente minha imaginação arde. Minha alma pesa quando assisto ao meu amigo assim. Nem sei se é meu amigo. Espero que seja, pois eu sou amigo dele. Compusemos uma música juntos, e eu poucas vezes a toquei. Nem divulguei. Acho que ele não gosta dela. Ou talvez ela o incomode, não sei explicar. Mas consigo compartilhar um pouquinho de vida com a  alma desse poeta do caos, e fico feliz. Incrível como é a felicidade!

Me contou um dos fatos contados também no filme. Foi no leblon, em tempos de boemia áurea, efervescência cultural que cada vez mais não existe no Rio de Janeiro. Ai... como sinto falta dessa época.! Quando o carro dele parava em frente ao Letras e era um "camburão". Como duas coisas iguais podem ser tão diferentes? - camburão dos pedintes marginalizados criminalizados e criminosos, e o camburão do meu amigo. Este o levava e o trazia e enchia o ar de felicidade. Como pode uma pessoa com baixa auto-estima ter baixa auto-estima sabendo que limpa a baixa auto-estima  dos outros? 

Mas é isso aí amigo... você é uma seta. Porém uma seta repleta de música e de ferida. É um vetor da substância mágica que pode mudar o mundo e que resiste em poucas pessoas. Seu traçado nunca será apagado, e eu confio mais em suas pernas soltas do que nas minhas. Sua música é maravilhosa, e embora suas dores o separem de muitos... deixe estar. Quem compõe contigo compõe de verdade porque só você sabe o que é a verdade. E assim sabe em quem confiar. Só quem sobrevive vive. O resto acha que faz alguma coisa, pois deixe achar. Mas essa é a minha opinião. Você provavelmente vai ler isso tudo e me achar banal. Pois eu sou mesmo. Só quem morreu sabe a verdadeira beleza de viver. E você vive apesar da morte, e é um arauto de poesia. Você matou a morte, colega! Um minuto antes...é um conflito. Neste minuto eu apenas penso em você. Um beijo do Alan.



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