segunda-feira, 25 de março de 2013

Para o meu Violão

Um dia eu não vou estar mais aqui. Mas você há de viver sem mim. Você que foi cortado, lixado, envernizado e colado quinze anos depois do meu surgimento, neste mundo, há de resistir infinitamente melhor. Cada vez melhor, seu verniz vai fundi-lo naquilo que já soa tão bem. E em algum lugar eu espero ouvir-te grave, quem sabe soando alguma coisa antiquíssima minha.

 Sabe-se lá que mãos hão de pinçar-te as cordas. Serão mãos gentís, febrís, ansiosas, audazes, ousadas, bem educadas, negras, brancas, de alguma raça humana? Poderá um gatinho ronronar ao seu lado, e beliscar seu corpo e te infligir, sem querer, dor, marcas...? Será vendido numa praça qualquer? Será destruído como um desmonte? O venderão a países remotos aqueles bastardos filhos-de-uma-égua!?

Quando te toco, é sublime a minha alma. Quando é objeto de composição, são suas as minhas lágrimas. São minhas as suas dores também. Pois, embora riam de mim, sei que tem vida, e que não é rasa.... é profunda e pode almejar salvar o mundo. 

Quantas noites passamos juntos alcoolizados, e você segurou minha onda como o único amigo! Você sim, é e será sempre meu grande amigo nas impoderáveis noites de solidão. Por você eu lutei quando forças maiores me desafiaram, me instigaram a largar tudo e virar um economista qualquer. Por você meus desejos sempre foram de rubi, e minha alma de algodão brilhou como diamante em palcos vazios. Mas tivemos também grandes momentos. Na verdade pouco subiu em palco, tão grande o meu medo de que saísse na rua sozinho e se perdesse nas mãos de algum malandro ladrão. Cultivei sua madeira sobre luz azul, lembra? E o uísque te fazia virtuose, e era como uma viagem no safari no deserto da Califórnia. 




E é por isso que quando penso na morte penso em você. Meu amigo "mudo". A cada música tocada, composta, refletida, desistida, etc. penso no dia em que vai sobrar sozinho em algum vão desse mundo atroz. Peço a Deus que caia nas mãos de uma criança linda, que te dê o devido valor, e que seja uma criança assim como eu fui, com medo de pular na cama elástica dos bombeiros em passeio de escola. Pois que é inútil quebrar ossos por uma escola qualquer. E só alguém que possui medo vai possuir a coragem de te enfrentar, de te possuir, e entender ser ensinado pelo coral de vozes formado pelas "casas" de seu braço.

Mas, infelizmente, como  tudo o é  nesta injusta vida, doo você ao futuro. Ao que vier, e espero que venha bem, e que encontre alguém que o trate como eu tratei. Com o amor de um músico de verdade. Fui seu cavaleiro e foi o meu cavalo. E espero, e rezo todo dia para Deus, que se houver vida após a morte, que ela seja de música, e que galopemos pelas estepes já conhecidas por nós, e pelas que hão de vir. 

Meu ciúme é grande! Não posso morrer e te deixar a qualquer um.







5 comentários:

  1. .....los instrumentos estan creados para manipularlos....las personas para amarlas...quizas confundido?

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  2. Olha aqui amiguinha. Já ouviu falar em endereço IP? Se você não parar de me incomodar no meu blog eu vou te denunciar. Entendeu bem? Até.

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  3. O cara, não liga pra internautas chatos não. Eles não devem ter um violão em casa. Rs. Resolvi comentar pq gostei MTO do texto. Parabéns :)

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  4. Obrigado Pili. Espero que volte sempre!

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