Os outros homens o invejam, e a inveja é tanta que mal olham para ele - apenas de soslaio - e mesmo assim com cara de medo. Esses todos se enchem de bombas e hormônios, enquanto o sujeito forte nada toma. Apesar da forma muito grande, ele é um sujeito culto, tranquilo, de bem com a vida, e de alimentação saudável. Eu sei disso porque ele é o único com quem converso na academia. Como não tenho muito tempo, entro mesmo para malhar e nunca faço amizades por lá.
Mas o mais estranho é que embora ele seja muito forte, seu corpo não é definido como o de outros menos fortes. Então um dia eu lhe perguntei:
- Porque mesmo você sendo o mais forte seus músculos não são bem definidos como os de outros menos fortes? Ele respondeu:
- Porque eu como muito.
- E porque você come tanto assim?
- Pra ter energia e massa pra poder ficar cada vez mais forte.
- Mas de que vale ficar cada vez mais forte sem poder ver os músculos?
Ele não respondeu.
Os anos se passaram. A academia mudou de bairro e enfim foi comprada por uma igreja evangélica que lá montou uma academia do dízimo. O sujeito forte foi envelhecendo, porém sempre malhando em alguma outra academia (frequentava várias ao mesmo tempo, por sinal). E sempre comendo e sempre crescendo cada vez mais, porém sem visualizar seus músculos definidos, apenas fortes. Muita força... muita massa...
O tempo passou mais ainda, e com 90 anos, muito, muito forte, o sujeito contraiu um câncer e de repente começou a emagrecer rapidamente. E com esse emagrecimento brotaram-lhe os músculos, as divisões antes cobertas pela pesada camada de gordura que o alimentava, agora era possível ver cada linha de seu corpo talhado por anos a fio de energia e esforço. Durante a doença revelou-se o corpo definido do homem mais forte e saudável do mundo. Houve então um forte sorriso de contentamento. Então, morreu.
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