terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Travesseiro

O calor é ardente, penetrante. Passa por tudo. Mas meu soninho vem como um trenzinho, desses que passam pelas bordas de um teto de loja de brinquedos em Londres.  Traz com ele uma chuvinha canadense que logo se transforma em nevezinha. E colado ao meu ouvidinho conversam passarinhos mágicos, que tudo dizem e nada falam, pois não há o que se entender. E meu travesseiro é como um ninho, e meu cobertor a caverna, ou um escudo mágico protetor, que me circunda, me envolve tirando qualquer chance dos "outros" me atacarem.

Minha caneta Bic está sempre por sobre a escrivaninha em posição estratégica, mirando algum canto funesto do quarto, e apontando belicosamente, como que canhão ao invasor, pronta pra atirar. Um dossel invisível cobre meus ares, e meu violão está sempre de guarda, vigiando o armário, com suas cordas encantadas que explodem  de acordo com as atividades esquisitas que, sabe-se - existem. Meu quarto é um quartel-general pronto para atender a qualquer chamado inconsciente meu. E Deus, onipresente pisca suas imensas pestanas sobre tudo, e sobre mim.

Ai, vida... Ai, trabalho... Ai, amores... Ai, reticencias de si. Em si bemol! A existência é cheia de teclas pretas, como armadilhas contra os dedos. Da vida, do trabalho, e dos amores a única coisa fatídica que resta são meus pensamentos, nada mais.

E quando eu, deitado em minha cama,  olho pro ventilador do teto, mal consigo ver as pás que movimentam o ar, que não vejo mesmo. Me refresco na brisa que sai do teto sem perceber que penso algo variável conforme a luz que teima entrar pela fresta da persiana meio empacada.

Ai, Fabíola... Que mulher era Fabíola! Mulher que dizia "Não" quando queria dizer "sim". Aeromoça... Sabia exatamente quando e onde o avião devia parar. Era um avião também. Suas mãos pousadas nos meus segredos fingiam fingir. Fugiam sem fugir. Ai, que delícia mulher que diz não sem querer dizer... Mulher pra sempre. Mas sumiu um dia a toa. Não disse "tchau". Apenas foi-se.

Assim como eu hei de ir agora recauchutar a memória, pois que começa-me a faltar tudo. Meus olhos fecham depois de uma noite de trabalho, cansando minhas mãos quentes. Parece que Sol lá fora não há de macular minha pele romena. E assim como Fabíola, há anos fez comigo, hei de fazer o mesmo com vocês, neste exato momento. Segurei sua atenção, e os soltei ao vento.







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