sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Caminhos

Eu passava pela minha rua numa madrugada dessas. Voltava de um lugar onde acompanhara um passarinho nas suas mazelas e risos. Minha mendiga Amélia, que habita minha rua, se encontrava no seu cantinho costumeiro, ao lado do meu prédio em copacabana. No meu caminho, seguindo a mesma direção, um outro sobrevivente das ruas, negro, sem um braço, roupa suja, desconhecido, visivelmente exausto andava em minha frente, e eu atrás apenas sacando o sujeito. 

Quando passou por Amélia ( é assim que eu a chamo...) travou-se o seguinte diálogo entre os dois:

- Tá olhando o quê? (Amélia)
- Não to olhando nada, porque você acha que estou te olhando? (mendigo desconhecido sem braço)      
- Segue seu caminho! (Amélia)
- Eu não tenho caminho...

Nesse momento minha curiosidade de historiador resolveu ficar, mas estava cansado, e acabei entrando. O diálogo restante perdeu-se no tempo. Hoje me pergunto ao escrever este texto: o quê será um caminho? 

Existirá algum caminho real? Entre sonhos e desmandos, e interjeições e preconceitos existirá caminho?  Entre espaços vazios humanos, ou não, existirá caminho? Quando uma bicicleta segue pelas ciclovias, será este um caminho? Quando alguém deixa de sair com fulano, porque beltrano lhe parece melhor, será este um caminho? E quando todos saem com todos a seu bel prazer, apenas por uma reles vontade superficial, qual será o caminho tomado? Estamos fluindo para algum lugar? Somos portanto fluidos? Será nosso caminho feito de algum líquido destinado? Será uma entidade? Às vezes uma mentira acobertando uma vaidade?

Chego a conclusão de que caminho é tempo, pois que é movimento  inerte. Mesmo parados seguimos um caminho. Porque o Todo nos molda sem que queiramos, e daqui há cinquenta anos minha pele terá seguido o caminho das rugas, queira eu ou não.

E as rusgas? As rusgas são decisões? São intempéries dos caminhos. Pedras que virarão castelos, ou pedreiras apenas. Depende de quem caminha?

E quantas pessoas em idades já esclarecidas não conseguem ver seu próprio caminho? Uma pena... Às vezes um sujeito, vagando as ruas sozinho, sem braço, pensa não ter caminho, mas tem. Pois segue uma rua, um bairro, uma estrada, um estado, um país. A falta de caminho o alimenta, a tristeza o comanda, seus pés se mexem sem qualquer piedade ou Rivotril. Outras pessoas, mais alimentadas, fisicamente mais sortudas, mais felizes, não encontram seus caminhos, perdidos em seus devaneios fúteis, ou não. De uma forma ou outra paralisados (os devaneios), em preconceitos mesquinhos e gananciosos, ingênuos e paralelos, que não se encontram nunca, que não se solucionam, que não se resolvem, e esperam o grande mito do merecimento inato. Que é uma besteira inata e fatal, e não deixa de ser um caminho, ao penhasco.

Eu, aqui no meu canto, coberto por um teto, podendo segurar meu copo, e beber minha água com as duas mãos, rezo e agradeço pois existe um plano dentro e mim. Que pode ou não dar certo, mas que me faz Homem, e que me reduz à mendigo de mim mesmo, num outro nível, porém igual. E agradeço a Deus pela oportunidade de pensar, e pensar, mas pensar de verdade! é possuir um caminho saudável.






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