segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dez mil anos

O espaço. O imenso e negro mar enevoado, remoto, instado em nossas mentes, cantado em nossas preces, revolvido em nossas poesias... que palavra por fim o revelará? Somos e sempre fomos e nunca seremos mais uma poeira de estrelas, algum dia, quando o sinal dos tempos passar desta para outra. Seremos, ou melhor, voltaremos a ser História sem linguagem. A fase germinal contada jamais.

Ironicamente, uma sonda foi arremessada ao espaço extremo há uns dez mil anos atrás. E este escritor vos recita em frias palavras antigas de algum lugar já não existente, sabe-se lá como. Mas tudo é possível quando se imagina o impossível. Esta sonda projetada ao infinito desconhecido seguiu incólume, atirada ao nada fantasmagórico do desconhecido penhasco espacial. 

Com o intuito de desvendar, de descobrir, novas, ou até então contemporâneas civilizações, ou mesmo células inexperientes, ou amalgamas de qualquer massa possível inimaginável, esta sonda foi lançada num momento de clímax de uma civilização de homens. Dotados de uma inteligência capciosa, capaz de destruí-los ou reconstruí-los com arte e guerra, sementes ou cinzas.

Lançada dez mil anos atrás, seguiu seu rumo apesar das pequenas colisões pueris estelares, e do pó proveniente da matéria negra do universo. Chegou ao seu fim, ao seu destino desconhecido, tanto tempo após a destruição de sua própria civilização. Enviou fotos, rádios, frequências cardíacas de máquina, estática, à sua civilização já terminada. Porém achou em seu porto seguro algo que a definiria dez mil anos após: o Amor.

Imaginem uma sonda lançada neste momento, e que em dez mil anos atingisse o seu objetivo por acaso, perdida em cálculos matemáticos de uma era já finda. E que neste determinado momento enviasse, sem saber, ingenuamente, as informações de sua descoberta ao seu povo exatamente exterminado há exatamente dez mil anos, e por falta de amor.

Pois assim é o meu amor. Um acaso. Guardado por um poeta dentro de um armário por milênios atrás. Existindo em sono profundo; acordado por uma sonda casual; num momento em que de nada poderia se valer. 

Doce acaso. Não importa como chega. Não importa a cor de seus cabelos. Nem o seu passado, nem o seu futuro. Pois como sal de nuvens posso apenas me queixar da atmosfera e nada mais. O tempo. Este é um mentiroso. Nos engana profundamente. Quanto mais amamos, menos vivemos - quanto mais vivemos menos amamos. 

E eu, que amo como dez mil sóis. Como dez mil luzes. Como dez mil anos atrás. Hoje, e nada mais.




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