sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ZZZZZZZZZzzzzzzz......

Dizem que quando estamos com insônia é porque já somos passado. Ah...! Cinco horas da manhã... não existe melhor hora para escrever-se. Sim, porque quando escrevemos, insones, estamos na realidade nos escrevendo. Ou talvez nos inscrevendo no rol das lâmpadas queimadas. A rua é deserta, mas há uma energia potencial que explodirá a qualquer momento, e eu aqui, explodirei junto, ao avesso.

Nada melhor do que pensar no passado presente. Da forma como A. um dia disse para P. : "Tenho saudades do futuro que eu teria com vc."

O pior de tudo é que a saudade não é ausência... Saudade: palavra de beleza etérea. Sinto saudade do chocolate que comi há duas horas, assim como sinto saudades de Los Angeles, onde morei parte tenra da minha vida. Como odiava Los Angeles! Amava-a também. Mas odiava acima de tudo, tudo que me prendia lá. E hoje, sob a névoa tchechoviana do passado, eu a amo mais que tudo.

Engraçado como essa névoa dizem pertencer ao passado. Qual o quê! Essa névoa é exatamente o futuro. Pois a sentimos agora, neste exato momento, e nunca d'antes. Cruzamos o Cabo das Tormentas, e logo esquecemos, romantizando o tempo, o renomeamos de algo melhor, nostálgico.

A vida é feita de momentos que não existem. Pois apenas o presente existe, e este passou agora que terminei a frase. E assim passará.

Seja lá como for, meu dia foi cheio de amor. Realizei as prendas mais primárias desde o tempo dos primeiros escritos. E aqui continuo a realizar. Não sou um insone constante. É raro essas coisas me darem trela. Geralmente durmo com os anjos. Talvez hoje eu esteja acordado por ser um anjo, pra que outrem durma, em alguma casa desconhecida de mim. Talvez exista uma troca de tarefas que dá o exato sentido do que seria uma reciclagem psicológica, mental, do Todo.

Esperem....

......................................... há um par de meigos braços que parece me carregar, e uma música parecida com a Goodnight dos Beatles a invadir meu ser, e um beijo estala levemente os meus olhinhos, e meus pés parecem ser carregados por nuvens. Acho que vou dormir....

(Now it's time to say goodbye/ Goodnight, sleep tight....)
                     
ZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.....




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Estrela

Sou de carne
Não sou de vento
Embora vento dentro de mim

Sou nascente do Sol

Longínquo das estrelas
Embora estrela dentro de mim

Estrela de mim

Sou visto de longe
E visto o que me der na telha







domingo, 25 de novembro de 2012

Veludo

Há lindos vales onde vivo
Cobertos de orvalho nas copas das árvores
Ipês amarelos como doces cabelos escorregadios
Vivo onde vivo, e vivo

Como está você?
Meu pano de linho florido...
Visto-te em minhas mãos
E visto-me...

Um homem de verdade apenas veste o que sente



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

PAZ

A paz não é menina, é rapaz. É complexa como tudo que acaba com a letra "z". Não é palíndromo, mas sim anagrama - "zap". Onomatopeia do mais rápido. Aquele que enfia a faca antes ganha a paz. A paz é o outro lado da moeda. Ela depende da guerra. Mas a guerra não depende da paz. Basta haver paz para que haja guerra. A guerra se basta em si só. Não é preciso de paz para que haja guerra. A guerra é uma decisão conveniente a alguns. A paz é a utopia a ser alcançada por todos. 

A paz é vida. A guerra é morte. Paradoxo engraçado - Luta-se mais pela vida durante uma guerra, do que durante uma paz. A paz é hipócrita. Ela nos faz apertar a mão de desconhecidos, imaginando que eles tenham passado a mão no saco um minuto antes. A guerra é pra quem tem colhões e não pede apertos de mãos, conversas tolas, obrigações sociais, desculpas esfarrapadas. É coisa de Homem.

Sinto, que o ser humano se encontra melhor na guerra. A guerra gera lucro. A paz gera guerra: é estopim. A guerra é um jogo de futebol mortal. A paz é jogo de nada. A diplomacia é a paz disfarçada. Resulta em espionagem, em ação, em interesse humano, em James Bond. 

O ser humano se descarrega na guerra. Nunca na paz. Não existe paz num alter levantado numa academia. Não existe paz no sexo. Não existe paz num jogo de futebol amistoso. O Homem é um ser competitivo. Já lutou por Sal, já lutou por comida, e hoje luta por costume. Nossa malha intercambial é feita de pólvora, salitre, e carvão.

A paz é branca. É união de cores em movimento. Mas não é dinâmica. Não gera lucro, não gera ligações. As verdadeiras ligações são geradas pela ganância, pela competição, pelo melhor cargo, pelo melhor lugar no restaurante mais caro, o duelo pela mulher mais bela. O morto no chão, caído por causa da guerra, a ele diz-se: R I P.

Bem como não existe paz no amor. O amor é a guerra maior. Esses mísseis que caem em Gaza e em Tel-Aviv não significam um dízimo do que é o amor. Amor é guerra. No amor a luta é eterna. O amor mistura todos os nossos sentimentos, pacíficos e belicosos. O amor é um mar revolto tentando constantemente provar  a capacidade do navio de não afundar. A sobrevivência é beligerante. Na verdade Judeus e Palestinos se amam tanto que precisam se matar.

Se defender? Isso é o de menos. É claro que há que se defender. Qual povo vai abrir as pernas como uma prostituta e simplesmente aceitar ser dilacerada num estupro sem fim? 

Quando vejo as pessoas a discutir as atitudes tomadas durante a guerra ou a paz, penso comigo mesmo: será isso o importante? Isso resta apenas para pagar contas. Alimentar um mundo sedento de dinheiro. Não é o sangue que move as pessoas, não é  a religião, nem a política - é o dinheiro. Aos que pensam em política, em ideologia, em religiões...meus pêsames poéticos. A ignorância pode ou não ser burra. Uma é Guerra, a  outra é Paz.

Mas esse texto foi pensado para ser sobre a Paz. Infelizmente não deu para divagar o tema sem a Guerra.. No dia em que eu conseguir falar de paz sem ter que abordar a cabeça idiota do ser humano, este mundo terá mudado. Não será o mesmo. E eu serei mais feliz. Em todos os campos, em todos os sentidos, em todas as curvas da existência, todas as pedras do caminho, dos amores, e dos jogos da alma. (Mind Games)

A Paz é um Sonho. Que minha avó fazia quando eu era criança, nos meus tenros e ingênuos tempos nada pacíficos. Porém que me remetem a primeira nostalgia, pois que passada a dor, resta apenas a memória. E esse Sonho era feito de uma massa deliciosa, salpicada de açúcar, e dentro dela vivia um recheio de marmelada romena, como minha avó. Mas o mais gostoso era a casca, a massa, a parte menos doce de tudo, e no fim dela restava apenas o detalhe do doce.

O Homem tem que comer a sua massa para chegar um dia ao seu doce detalhe. Que é um sabor que se adquire (como dizem os ingleses: "a taste to be aquired".)

Doce Paz. Ainda não te alcançamos. Não sabemos o que é. Quem sabe um dia...




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Cabelos de Lava

Passo a vida jogando meus carvões de vento em você
Colhidos onda a nascente da minha alma reverbera
Levados por cavalos alados, de pele de carrara de peito de andorinhas
Mágica é o meu labor, de ir e vir, de vir e ir, de nunca chegar.

És fogo, és cabelo que escorre como lava, mas sua pele...
Sua pele é feita de nuvens e sonhos e claras doces de ovos e creme
Sabe Deus, um dia hei de preencher com meus carvões doces
A sua fogueira feita de maquiagem.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pra uma manequim

Roda modelo, manequim.
Roda sua dança calada
na calada da boca
da calça,
do vestido suado transparente,
que não transparece mas rescende.
Dobra a passarela
como se dobra a vida.
Como se a  vida fosse de vidro,
corta-te no perfume.
E a sua tampa
talvez encontre outra igual.
Mas sem tropeço
é difícil de viver,
mesmo com um "passe",
quando não se sabe
o que se ama.

Vida perdida
nas mentes vazias,
nos preceitos, preconceitos,
nos álbuns indecisos,
nos longos cabelos,
na unha de tão lindo vermelho.
Mira-se sua beleza,
pétrea e contida,
sedosa e sadia,
presa numa parede,
ou em capa de revista.

Pena...
Pena que cai sem nexo
na água parada e fria.
Vejo tua imagem
em meu reflexo...
Pena...
Seus olhos não perceberem
quais outros olhos
são teus espelhos.




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dez mil anos

O espaço. O imenso e negro mar enevoado, remoto, instado em nossas mentes, cantado em nossas preces, revolvido em nossas poesias... que palavra por fim o revelará? Somos e sempre fomos e nunca seremos mais uma poeira de estrelas, algum dia, quando o sinal dos tempos passar desta para outra. Seremos, ou melhor, voltaremos a ser História sem linguagem. A fase germinal contada jamais.

Ironicamente, uma sonda foi arremessada ao espaço extremo há uns dez mil anos atrás. E este escritor vos recita em frias palavras antigas de algum lugar já não existente, sabe-se lá como. Mas tudo é possível quando se imagina o impossível. Esta sonda projetada ao infinito desconhecido seguiu incólume, atirada ao nada fantasmagórico do desconhecido penhasco espacial. 

Com o intuito de desvendar, de descobrir, novas, ou até então contemporâneas civilizações, ou mesmo células inexperientes, ou amalgamas de qualquer massa possível inimaginável, esta sonda foi lançada num momento de clímax de uma civilização de homens. Dotados de uma inteligência capciosa, capaz de destruí-los ou reconstruí-los com arte e guerra, sementes ou cinzas.

Lançada dez mil anos atrás, seguiu seu rumo apesar das pequenas colisões pueris estelares, e do pó proveniente da matéria negra do universo. Chegou ao seu fim, ao seu destino desconhecido, tanto tempo após a destruição de sua própria civilização. Enviou fotos, rádios, frequências cardíacas de máquina, estática, à sua civilização já terminada. Porém achou em seu porto seguro algo que a definiria dez mil anos após: o Amor.

Imaginem uma sonda lançada neste momento, e que em dez mil anos atingisse o seu objetivo por acaso, perdida em cálculos matemáticos de uma era já finda. E que neste determinado momento enviasse, sem saber, ingenuamente, as informações de sua descoberta ao seu povo exatamente exterminado há exatamente dez mil anos, e por falta de amor.

Pois assim é o meu amor. Um acaso. Guardado por um poeta dentro de um armário por milênios atrás. Existindo em sono profundo; acordado por uma sonda casual; num momento em que de nada poderia se valer. 

Doce acaso. Não importa como chega. Não importa a cor de seus cabelos. Nem o seu passado, nem o seu futuro. Pois como sal de nuvens posso apenas me queixar da atmosfera e nada mais. O tempo. Este é um mentiroso. Nos engana profundamente. Quanto mais amamos, menos vivemos - quanto mais vivemos menos amamos. 

E eu, que amo como dez mil sóis. Como dez mil luzes. Como dez mil anos atrás. Hoje, e nada mais.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Traumas

Traumas, traumas, traumas, traumas...
São filhotes ainda presos ao ninho
Porque não transformá-los logo em passarinhos?




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Flor Amarela

As montanhas de degelo da alma pegaram fogo
Os girassóis das planícies pararam de girar
As escandinavias não aterrísam mais em solo de meia-calça
Os elevadores e os caminhos fecharam as portas
As chuvas de verão passaram em preto
Os vinhos desarrolharam virando poças
E o tempo me pergunta todos as noites
Para onde foi o amor das flores amarelas?