sábado, 29 de setembro de 2012

Sonhos de Violinos

Flecha de mão - sei que vou morrer amando sem amor. Sempre que tenho um sono de bêbedo me dá vontade de escrever. Psicologicamente poderia explicar este fenômeno como uma mão que agarra a flecha da hora. Ou seja: não quero dormir para não esquecer. Ou: não quero dormir para não sonhar. 

O destino de meus dedos é se machucar. Com cordas de violão, ou com açúcar em brasa. Mas me dá um orgulho tão grande machucar minhas mãos dessa maneira. As cordas do meu violão são dignas de estrelas, e os açúcares do meu tacho são dignos de maresia. Árvores gigantes protegerão meu céu e meu teto. Eu sei bem pra onde eu vou!

Adoro cozinhar. Cozinhar é igual a fazer música. Reúne-se os ingredientes, e na hora em que se acende o fogo debaixo da panela é quando começa a corrida pelo universo. Cozinhar bem é saber fazer cair na panela os ingredientes - cada um em seu devido tempo. Um erro no círculo desse tempo e vai tudo abaixo. Jogar os temperos é ter o dom da sofisticação, do sabor. Cozinhar e fazer música dependem mais do tempo que o próprio espaço-universo. E acho até que o Tempo só existe dentro da arte.

Hoje passou pela minha janela o grande urubu dourado. O único que se perfuma de jasmim, e que possui pétalas em vez de penas. E nunca defeca pois que come jamais. Expira baunilha doce, e de seu bico sai a saliva que deglute o mundo. Nele eu sentei. Com pernas cruzadas e confiantes em seu molejo. Pássaro azul rosqueado de pérolas, e azeitado por Deus, levou-me pelos campos de nuvens e se chamou Vida e Sonho.

Flecha de mão - plumas que me lavam as bochechas da cara. Sinto tanta falta do que não tive, que às vezes acho até que tive. Suas mãos limpas de anéis. Como feixes de algum material ainda não descoberto na natureza, tão suave e repousante que me convida a dormir à toa. Nunca vi tanta fartura de toque e descoberta, que com certeza nada ainda foi descoberto. Você existe, porém, come pãozinho e toma chocolate quente no meu hotel de luxo cheio de neurônios. E há de jantar comigo um dia  em grande estilo numa roda gigante em algum lago lindo do planeta. Prometo-te em meus sonhos.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Carta de Yom Kippur

É noite de Yom Kippur. Durante as próximas vinte e quatro horas Deus nos julgará dignos de continuar, ou não. E eu que ia escrever sobre qualquer outro assunto, me debruço sobre a escuridão e apenas escrevo meu perdão numa carta.



Peço primeiramente perdão por não ter entendido o que sou, desde o começo, e por isso ter agido em defesa de minha zanga. Peço perdão pelo meu mau gênio, mesmo quando necessário, se é que alguma vez isso foi necessário, eu não sei. Peço perdão por não saber, e por não ter sabido, e por ainda tentar entender. 

Assumo a responsabilidade pela minha vida, mesmo tendo pisado em pedras que perfuraram meus pés durante minha caminhada. Aos outros, culpados eventualmente de ter me influenciado de forma errada, por bem ou por mal, com olhos de cisne, ou de lagarto, ou de andorinha, cabe a eles os seus pedidos de perdão. O meu pertence apenas a mim.

Peço perdão por não ter me defendido quando me ofenderam. E mesmo sabendo que eu não conseguia me defender, por imensos motivos, eu peço perdão.

Peço perdão por dirigir que nem um louco, por não ter pago algumas contas, por ter fingido amor algumas vezes, há muito tempo atrás. Peço perdão por ter me auto-flagelado psicologicamente por um sonho fácil de ser atingido. Peço perdão por ter acreditado que meus sonhos eram impossíveis, mesmo que por bocas bem intencionadas. Bons auspícios esperam aqueles que sonham de pé. Peço perdão por ter me deitado por tantos anos, mesmo que forçado por mil mãos. Peço perdão pelos atos, os quais sou responsável, e pelos que me tornaram responsável. Agradeço à experiência que me ensinaram os que me odiaram, e os que me apontaram dedos e não eram meus pais. Peço perdão por aqueles que ainda não sabem o mal que me fizeram, e peço perdão por não ter conseguido dizer-lhes na hora devida.

Peço perdão por ter sido injusto com meus pais. Peço perdão por ter sido volúvel e negligente com algumas pessoas que formavam o meu próprio coração, e que hoje não se encontram mais aqui. Peço perdão também por elas, pois não sabiam... e existe um momento em que nada se sabe, e a vida dói tanto, que é impossível pedir ajuda.

Peço perdão por não ter compreendido essas pessoas. Peço perdão por minha extrema ignorância. Por ter voado em furacões, por ter escalado montanhas de anti-matéria, por ter me amordaçado a mim mesmo nos palcos da vida, por ter alguma vez tido medo de cantar o que sou. Peço perdão por juramentos que não consegui cumprir, e por ter magoado pessoas que só merecem respeito e carinho.

Tenho a consciência de que mesmo sendo julgado em jejum, muito do mal que se faz se paga aqui, pois o mundo dá voltas, para mim e para todos, e sei que hoje pago por amores e dores, por reações e reagentes, por fazer música e guerra. Hoje penso apenas em fazer paz e música e doces. E espero que as voltas da vida sejam suaves em mim.

Ouvi dizer que uma grande atriz uma vez disse que não devem pedir perdão sem motivo, pois a pior coisa é o perdão à toa, humilde em demasia. Concordo. Por isso acho que meu maior mal, e talvez único, tenha sido não dar importância ao amor que me foi dado pela minha família. E por considerar este o maior mal de todos, e o único realmente legítimo em minha história, peço perdão mil vezes.

E por isso, agradeço. Agradeço pelas oportunidades a mim concedidas por Deus, pequenas ou grandes, não importa.  E assim sendo, peço que escreva meu nome, assim como o da minha família, no livro da vida. E que este Ano Novo seja repleto de paz para todos que pensam o bem, meus amigos, meus universos, meus inversos, e meus fraternos. Judeus ou não judeus. Somos todos iguais.

Desejo a todos um novo dia.



sábado, 22 de setembro de 2012

Divagações sobre uma Bolinha

O que é uma bolinha? Não sei dizer. É algo inconstante. É algo que dificilmente fica parada. Nada depende tanto do solo quanto uma bolinha. É o próprio solo, em certas situações. O Sol é uma bolinha no universo. Os buracos negros não se sabe ainda, mas provavelmente são bolinhas de gravidade. A gravidade é uma bola, pois é curva e preenche de bolas o universo, e isso nos atrai.

Símbolo máximo a perfeição geométrica, a bolinha possui ângulos infinitos. Portanto pode ser um universo em sí mesmo.Não há nada tão finito quanto infinito numa forma circular. A bola não precisa de ninguém para rolar. Mas precisa do movimento. Um instrumento dotado de uma bolha mede superfícies planas onde podemos ficar em pé sem muito esforço. O Pilates faz com que fiquemos em cima de bolas que nos torturam. 

Não existiria o futebol sem uma bola. Não existiriam veículos sem bolas. Não existiria a cabeça humana sem  a impossível bola mágica intangível. Os psiquiatras morreriam de fome. As olimpíadas não existiriam. As guerras também. O que prova que a bola tem efeito duplo. Malefícios e benefícios. É bom ganhar uma bolada na mega-sena, porém uma bolada no rosto pode te matar. 

Já tropeçou numa bola? Já achou dinheiro na rua, no chão? Nosso pensamento, na maioria das vezes tende a ser circular. E podemos passar uma vida inteira sem alinhá-lo. Um filme do Woody Allen não passa de uma bola. Do Almodovar também. O Dark Side of The Moon é uma bola, e fala dela. O que seria dos poetas sem a Lua, bola magistral, que nos salva a noite. O que seria das caravelas sem as bolinhas do céu para as guiar contra os rochedos e recifes? 

Quando alguém morre desconfio que deva virar uma bola de qualquer coisa. Quando você taca azeite na panela quente ele forma uma bola. Quando a maizena encaroça vira bola. Nosso estômago embrulha e forma bolas que doem até sair em peitos que circulam o ambiente.

Átomos são bolas, Elétrons são bolas. O acelerador de partículas é circular. O universo vai e vem, e não sei como os cientistas ainda não comprovaram que ele nada mais é que uma bola que gira e se repete, assim como a espiral de Aristóteles, que devia ter uma barriga de bola, e que acertou em cheio. Pois eu posso continuar escrevendo sobre bolinhas a vida toda, e vou sempre voltar ao mesmo tema, ao mesmo início. Porque nossa história é nada mais que uma bola. Assim como o nosso coração é uma bola complicada por demais, e a música que eu faço é sempre inspirada em formatos circulares. E a Terra...Ah! A Terra...Bola intangível, por onde sonhamos dia a dia, nosso padrão circular.

Quando menino eu lia a revistinha do Bolinha, e adorava. Meu pai jogava bolinhas de gude, e eu jogava botão. Quando quero mandar alguém a merda eu faço o símbolo da bola com a mão. Nao deve haver emoção mais do que marcar um gol no maracanã, e sem a bola isso não é possível. Um cumprimeto de mão, conceitualmente é uma bola. Um beijo na boca é uma bola. Um bolo é uma bola. Um bombom é uma bola. Um estádio é uma bola. O amor é uma bola que fura. Minha poesia é uma bola. Um quadrado, na verdade, é uma bola que se desvirtuou. E a  vida é uma bola de neve.





segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Shaná Tová!

E Deus fez o vinho. E nos deu dez dias de ressaca. E no último dia nos tirou tudo, para mostrar o quanto é difícil ficar sem nada depois de tanto vinho. E depois durante todo esse tempo, Deus, tão ocupado que é com outros assuntos universais, nos julgou e nos condenou ao jejum maior ou à próxima garrafa de vinho.

E depois de tudo isso, aí sim, Deus fez o resto.

Shaná Tová Umetuká para todos! Judeus, não judeus, ateus, pagãos, poetas e músicos. Que o vinho nos faça submergir a esperança que só há dentro de nós. Que nos mostre o quanto é cara a saúde. Que nos engane completamente, e que assim nos faça feliz. Porque a Terra de Deus não é moleza não. Porém é a celebração da Vida. Em cada pedrinha solta na calçada, em cada roda de bicicleta girando há um menino indo comprar pão em alguma padaria em Teresópolis. E eu fui e sou, hoje, esse menino. Cheio de esperança, de ilusões, de sonhos a alcançar, pois que enquanto há vinho, tudo haverá. E há a certeza de que Deus ainda nos enfeita com confetes e nos bate na bunda quando é preciso, como a uma mãe.

Tenho a certeza de que a vida de todos os meus caros serão lindas, e irão para a frente, apesar dos precipícios que há. Pois que bêbados, não cairemos jamais. E sóbrios, Deus há de nos resgatar.

Parabéns à vida! Parabéns à todos! Nasce um ano novo de um povo,  pouco entendido, mas fundamental à caminhada humana na Terra. Cinco mil setecentos e setenta e três anos. Nossas rugas hão de nos mostrar a direção.

E afinal, todos nós saímos da mesma matriz. Somos todos irmãos. Somos todos um só. À semelhança de Deus.

FELIZ ANO NOVO!

beijos do

Alan


domingo, 9 de setembro de 2012

Pangea

Hoje estou com um sono louco. E como uma Pangea, meu mundo é um só. No meu cérebro as ligaduras estão ligadas. Entrelaçadas pertenço a um período Permiano. Minha Austrália, uma vez ligada à minha América do Sul, agora separada, há de voltar atrás, seguindo em frente em círculos, atingindo de novo seu ponto de partida. Meus seres microscópicos hão de se transformar em vários, até que enfim virem lagostins, e quem sabe um dia o que será de mim? 

Meu dedo dói. Está inflamado porque eu o comi. Como meus dedos como como a mim. Frase esquisita essa, mas é assim. Não há melhor maneira de explicar. Fome não é, ainda bem. Mas li um conto uma vez em que o sujeito preso numa ilhota num mar desolado, come a si mesmo por falta de comida. Conto genial da fase menos comercial do Stephan King. Ele estava começando e ainda não era famoso; buscava seu lugar ao sol. Engraçado como nossas fases menos comerciais são justamente as em que precisamos mais de dinheiro. Há uma ironia, senão, uma distorção, um erro em tudo isso.

A Terra não é mais Pangea. Hoje é bem mais complexa. Cheia de rios, mares e túneis. Cortes. Um dia há de voltar a ser o que foi. No início dos Tempos. (?)  As coisas seguem seu fluxo de se separar para poderem, de novo, se juntar. Com certeza não será Pangea. Será outra. Afinal somos a massa de modelar de Deus. Que deve ser criança como eu. E deve sentir sono cedo, de vez em quando. E outras vezes deve conversar com estrelas, que lhe dão palpites, como um filho quando conversa com sua mãe. E deve passar pomada no dedo que comeu, não por cause de fome, mas como tudo é fome - fome de alma, ou de amor, ou de flores, ou de águas, ou de retornos e lagostins.

Boa noite, amigos. O sono ajuda a escrever, porém meu travesseiro me chama, e é preciso sonhar com o dia de amanhã. Perdoem os erros de português, hoje não é dia de corrigir a vida. 




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Soneto sem ar

Tanto procurei, que tanto achei
Tanto quis, que enfim consegui
Tanto fui, que assim cheguei
Triturado, pelas pedras que segui

Tanto viajei, que acabei chegando
Tanto olhei, saturei meus olhos
Tanto naveguei, que fui parando
Aos poucos encalhando em abrolhos

Um mar de absinto me alucinou
Perdido, engatado aqui estou
Nas pedras do amor que 'inda respira

Respira, não sei como, mas respira!
O ar que disponho mas que expira.
E tonto, nado, sem saber o que me afogou

Got to scrape that shit right off my shoes

Come on sweet Virginia
Save me from my fall
But, too bad... you don't exist at all



Blackbird Cell

Blackbird fly...
In the hours of my mind
Do the thing, choose the tree
Get your wings, but dont feel free
For they are cells
Along your sky