sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Estátua de Sal

Sabe aquelas noites longas de trabalho, onde no fim de todo o esforço,  todo o ferro fundido na tentativa de  fazer cobre, você sai com uma amálgama errada? Quando é preciso abrir o ralo e descarregar por ele todo o seu suor que parece merda? Sim... as noites em que seu esforço valeu de nada, deu errado: fim.

Eu, sentado na mesinha da cozinha, observo humildemente umas formiguinhas, que nunca erram, rodeando felizes e loucas um resto de doce escorrido pela mesa. Penso em passar um pano e limpar, liquidar com tudo.

Bato com a ponta dos dedos na mesa tentando assustá-las. É o meu aviso. Saiam logo, fujam! Preciso limpar a droga da minha mesinha de cozinha, depois vou dormir. Saiam! E elas começam a fugir. Sem nada entender, elas começam uma dança catatônica, caótica, de salve-se quem puder. Mas nem todas parecem querer largar seu quinhão de doce. Outras pensam em correr, mas não conseguem vencer o desejo do mel. Algumas poucas realmente fogem. Eu então me canso, e passo o pano molhado por toda a mesa, limpando o doce junto com as formigas que resistiram, que ficaram matando seu desejo de sejá-lá-o-quê.

Diz a Bíblia Sagrada, Velho Testamento, na minha escrita precária e incerta: E Deus decidiu destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, devastando-as com uma bola de fogo vinda dos Céus. Porém, tendo Ele percebido um indivíduo justo, mandou anjos para avisá-lo da grande catástrofe. Avisou, então,  Lot que de forma alguma, durante sua fuga, olhasse para trás! De outra forma se transformaria em estátua de sal. E assim fez Deus; e assim fugiu Lot com suas duas filhas, e sua mulher, que olhou para trás e virou um pilar de sal.





3 comentários:

  1. Crônica linda!! A aproximação temporal dos discursos causou um efeito de sublimação na interlocução.

    Ivo viu a uVa!

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