domingo, 22 de julho de 2012

Divagação sobre o Amor

Vi na televisão um cientista dizer que o amor só é sentido pelo ser humano. Que apenas nós possuímos a dádiva de sentir amor. Será? Pois que quando um cachorro procria para mim isso é amor. Quando uma cadela está no cio, ou quando ela não deixa ninguém chegar perto dos recém nascidos, isso é amor. Dizem que não é amor, é instinto. Mas o que será que é o instinto? Coisa tão mais difícil de definir do que o próprio amor. Será que quando divagamos cientificamente sobre os outros animais não o fazemos com instinto? Instinto humano, não é? 

E o amor do ser humano, o que é? Alguém por acaso entende o amor? Há definições duvidosas. Mas que eu saiba, até hoje não desenharam uma fórmula matemática que provasse que o amor realmente existe, e que é nosso.

Existe amor numa pedra que se move num terremoto; existe amor numa árvore que dorme seu sono zen de mil anos; existe amor num penhasco, num orvalho que cai, numa aranha que tece a teia. O amor não é bom nem mau na natureza. Ele apenas é. O homem o definiu bom. Porque o Homem precisa de definições, e precisa tentar ser bom. Então para ele o amor é um símbolo. Mas quantas coisas erradas foram cometidas neste mundo de merda, e diz-se: com amor. Isso porque o amor é subjetivo. É pessoal e intransferível. É que nem carteira de direção. E pode ser comprada.

Eu acredito que há amor nas coisas boas. Mas a natureza não distingue o bom do mau. Na natureza uma aranha tece a teia para devorar outros insetos. É seu sustento, seu meio de vida, e, convenhamos - truque de engenharia mais que humana. Então penso eu: não existe o amor. Existe o bem e o mal. E apenas para o ser humano.

O amor que nós imaginamos, entendemos, praticamos, é uma receita do bem. Embora ele seja um ato psicológico, o amor não passa de uma alucinação psicótica benéfica. Quando não é benéfica é baixa auto-estima, ou qualquer outra coisa. 

Eu não sei ainda definir o amor. Muitas vezes pensei que o amor fosse fome. Pensei que fosse o preenchimento de um buraco pessoal. E ainda acho que o amor vem de uma necessidade qualquer.

Mas o amor realmente não tem a menor importância. Importa apenas o que você faz com ele, seja lá o que ele for. Pois quando faço música eu amo, sem amar ninguém. Amo o sentimento. Ter amor é amar o próprio amor. E amar o próprio amor é amar a capacidade de sentir-se cheio de amor. Amor recebido, ou amor doado, não importa.

Quando olho para o céu, depois de passar uma noite inteira trabalhando, eu amo. Quando vejo o mar, eu amo. Quando penso no meu futuro e gosto e tenho medo, e corro atrás dele mesmo assim, estou amando. Pois que amar é realizar. Amar é fazer acontecer o amor desconhecido que forma retas paralelas que se encontram no infinito.

Nunca desenhar-se-há uma fórmula matemática para o amor. Porque o amor não existe. O amor é uma idéia que vem pronta com a existência. Seja de um ser humano, seja de uma pedra. Pois que a Terra, não passa de um pó de areia que ama o Sol, que não passa de um fósforo aceso que ama a Terra. Então já sei o que é o amor. O amor é quando algo ama algo reciprocamente. Amor é o sustentáculo do próprio amor. Não existe amor solitário. Amar é acariciar as mazelas do outro, que te acaricia também. Assim como as pedras da lagoa amam a gravidade que as preservam. 

Um dia um velho poeta
Descobriu o amor de sua vida:
Amo o que tenho
Amo o que não tenho
Tenho o que amo
Não tenho o que amo
Amo o amor sempiterno
Sempiterno sou quando amo
Amo e me faço vivo
Porque não existe nada
Apenas anjos
Que desfolham pétalas
Sobre nós



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