sexta-feira, 27 de julho de 2012

Poema Cacófago Sexual

Sua voz é canto
Seu cabelo é canto
Sua boca é canto
Seu corpo é canto
Canto...
Onde quero me ter-te




terça-feira, 24 de julho de 2012

O Tiro de Carlos

Carlos trabalhou o dia inteiro no seu projeto. Por ser um projeto apenas seu, Carlos passava muito tempo sozinho. Em sua solidão havia poucos dias em que realmente encontrava alguém. Tinha alguns amigos bons, mas todos trabalhavam em projetos solitários e sofriam do mesmo mal. Era um mundo sozinho e vazio aquele.

Mas de vez em quando Carlos se encontrava com alguns de seus amigos pra bater papo, jogar um poquerzinho, beber, falar de mulher, e sair de sua solidão. Neste dia Carlos se divertiu até umas três horas da madrugada, bebeu pouco, o suficiente para relaxar e entender melhor a vida. Depois despediu-se de uns e outros e pegou um taxi acompanhado de alguns amigos. Iam estes para a zona sul, e Carlos morava no catete, e como era caminho dos três, rachavam o taxímetro, e assim saía mais barato e confortável para todos. Carlos era sempre o último a saltar.

Pegaram um taxista meio rabugento, meio fortão, desses que parecem lutar jui-jitsu nos fins de semana, e acompanhar lutas pela TV, e bater na mulher. Seguiram os amigos no taxi (mais o motorista rabugento), e um a um foram ficando em seus devidos endereços. Sobrou Carlos, que ia para o catete.

Carlos pensando no tipo de pessoa que talvez fosse o motorista, tentou puxar uma conversinha besta com ele, só por curiosidade. Como um bronco reagiria a uma pergunta insignificante, como por exemplo: "esse sinal tem pardal, ou os outros também?". É claro que o motorista respondeu, com o seu jeito ríspido e rude de quem na verdade preferia estar levando travestis no banco traseiro ao invés de um "nerd" como Carlos.

Finalmente chegaram ao seu endereço no catete, onde Carlos deixou um real a mais de gorjeta ao taxista, não se sabe se por pena de sua condição, ou se por síndrome de Estocolmo. Saíu do taxi, e foi embora, andando na direção de seu prédio onde esqueceria toda aquela noite num sono profundo.

A verdade é que o fim da história não se deu bem desta maneira, não. No meio do trajeto, Carlos fez uma pergunta retórica e pueril ao taxista, que não perdeu a oportunidade de ser áspero e curto em sua resposta. Era a tal pergunta sobre os pardais da cidade.

Porém, numa curva final, alguns quilômetos antes do taxi chegar ao seu destino, Carlos mirando o corpanzil sarado e superficial do motorista, abriu a boca e fez a ele uma singela pergunta: "Amigo, estou vendo que você é forte e saudável. Quem sabe, se você não estiver afim poderíamos estacionar o taxi em algum lugar. Você topa?"

O motorista ficou meio embatucado de primeira, mas logo depois fez brotar um sorriso em seu rosto, e respondeu: "Quer dizer que o magricela gosta de se divertir com taxistas? Interessante... porque não? Estou bem precisando de uma 'mulherzinha' mesmo."

O tom sarcástico da resposta soou engraçado a Carlos, que apenas respondeu com um "sim" audível e assertivo. Finalmente o taxi pegou um atalho mais escuro, e parou numa ruazinha de paralelepípedos do catete. Saíram os dois do carro, e na hora em que o taxista começou a abaixar o zíper da calça, Carlos puxou um revólver 38 e encheu o cara de balas. Descarregou o revolver todo no pau do sujeito, que gritou, caiu, e agonizou por apenas uns dez minutos antes de morrer.

Carlos então guardou o revólver no meio da calça jeans apertada, cuspiu no sujeito, e foi andando calmamente em direção ao ponto de ônibus. Será que às três e meia da manhã haveria algum ônibus para algum lugar?


domingo, 22 de julho de 2012

Divagação sobre o Amor

Vi na televisão um cientista dizer que o amor só é sentido pelo ser humano. Que apenas nós possuímos a dádiva de sentir amor. Será? Pois que quando um cachorro procria para mim isso é amor. Quando uma cadela está no cio, ou quando ela não deixa ninguém chegar perto dos recém nascidos, isso é amor. Dizem que não é amor, é instinto. Mas o que será que é o instinto? Coisa tão mais difícil de definir do que o próprio amor. Será que quando divagamos cientificamente sobre os outros animais não o fazemos com instinto? Instinto humano, não é? 

E o amor do ser humano, o que é? Alguém por acaso entende o amor? Há definições duvidosas. Mas que eu saiba, até hoje não desenharam uma fórmula matemática que provasse que o amor realmente existe, e que é nosso.

Existe amor numa pedra que se move num terremoto; existe amor numa árvore que dorme seu sono zen de mil anos; existe amor num penhasco, num orvalho que cai, numa aranha que tece a teia. O amor não é bom nem mau na natureza. Ele apenas é. O homem o definiu bom. Porque o Homem precisa de definições, e precisa tentar ser bom. Então para ele o amor é um símbolo. Mas quantas coisas erradas foram cometidas neste mundo de merda, e diz-se: com amor. Isso porque o amor é subjetivo. É pessoal e intransferível. É que nem carteira de direção. E pode ser comprada.

Eu acredito que há amor nas coisas boas. Mas a natureza não distingue o bom do mau. Na natureza uma aranha tece a teia para devorar outros insetos. É seu sustento, seu meio de vida, e, convenhamos - truque de engenharia mais que humana. Então penso eu: não existe o amor. Existe o bem e o mal. E apenas para o ser humano.

O amor que nós imaginamos, entendemos, praticamos, é uma receita do bem. Embora ele seja um ato psicológico, o amor não passa de uma alucinação psicótica benéfica. Quando não é benéfica é baixa auto-estima, ou qualquer outra coisa. 

Eu não sei ainda definir o amor. Muitas vezes pensei que o amor fosse fome. Pensei que fosse o preenchimento de um buraco pessoal. E ainda acho que o amor vem de uma necessidade qualquer.

Mas o amor realmente não tem a menor importância. Importa apenas o que você faz com ele, seja lá o que ele for. Pois quando faço música eu amo, sem amar ninguém. Amo o sentimento. Ter amor é amar o próprio amor. E amar o próprio amor é amar a capacidade de sentir-se cheio de amor. Amor recebido, ou amor doado, não importa.

Quando olho para o céu, depois de passar uma noite inteira trabalhando, eu amo. Quando vejo o mar, eu amo. Quando penso no meu futuro e gosto e tenho medo, e corro atrás dele mesmo assim, estou amando. Pois que amar é realizar. Amar é fazer acontecer o amor desconhecido que forma retas paralelas que se encontram no infinito.

Nunca desenhar-se-há uma fórmula matemática para o amor. Porque o amor não existe. O amor é uma idéia que vem pronta com a existência. Seja de um ser humano, seja de uma pedra. Pois que a Terra, não passa de um pó de areia que ama o Sol, que não passa de um fósforo aceso que ama a Terra. Então já sei o que é o amor. O amor é quando algo ama algo reciprocamente. Amor é o sustentáculo do próprio amor. Não existe amor solitário. Amar é acariciar as mazelas do outro, que te acaricia também. Assim como as pedras da lagoa amam a gravidade que as preservam. 

Um dia um velho poeta
Descobriu o amor de sua vida:
Amo o que tenho
Amo o que não tenho
Tenho o que amo
Não tenho o que amo
Amo o amor sempiterno
Sempiterno sou quando amo
Amo e me faço vivo
Porque não existe nada
Apenas anjos
Que desfolham pétalas
Sobre nós



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Com uma pequena ajuda dos amigos.

Olha pro céu - nada. No outro dia olha pro céu - nada... Um dia não olha e cai uma bolsa bem na sua cabeça. Os que sobreviveram à queda abrem a bolsa e encontram uma pedra. Ó, mágica pedra, resto, pedaço do universo, meleca de cometa, deve servir para alguma coisa. Colocaram ela em cima de um totem, e gravaram nela a frase: "Havemos de escrever algo."

Assim nasceu a História. Logo depois sofreram um dilúvio, construíram uma imensa torre, chegaram aos deuses e não encontraram nada além de um suicídio coletivo que dura até hoje. Matam-se todos, e Deus deve assisti-los, no bom sentido, é claro - nada de ajuda para tarefas nefastas. E aí veio Hércules e inventou a síndrome de Beatles, ou seja: conseguirás tudo e depois mais nada. Que merda. Mas é para poucos incrivelmente afortunados, e a turba baba desejando o que não querem mais. De que vale o sucesso se você  não tem culhão pra aguentá-lo?

Li muito comentário ababoseirado sobre a entrevista que um ator comediante (Qual o nome dele mesmo? - alguma coisa Cardoso, acho, sei lá, não assisto televisão.) no programa novo do Pedro Bial. O sujeito reclamando raivosamente sobre o abuso dos paparazzi. Porra! E nessa merda de sociedade todo mundo elogiando o sujeito, como se ele fosse Moisés atravessando o Mar Vermelho da dignidade. 




Eu acho o seguinte. Se ele não quisesse aparecer ele que não fosse ao programa - pra início de conversa. Segundo: o cara passa a vida inteira tentando fazer sucesso. É ator e perigava morrer de fome como a maioria dos companheiros da classe, e quando, enfim, dá a sorte tresloucada de conseguir ser um sucesso nacional, tem a indignidade de cuspir no prato que comeu, ou ainda come! 

Pergunto-me eu: será que ele achava que ia ficar famoso e ninguém ia querer fotografá-lo na rua, saber de sua vida, pedir autógrafos chatos, querer investigar seu sexo, etc.? Pode existir camarada tão burro assim? Quão paradoxal seria um sucesso que não atraísse os olhares curiosos? Pois pressinto que o Pedro Bial deve ter se perguntado a mesma coisa. E cá estou eu escrevendo sobre algo que não me diz o menor respeito, e que pouco me interessa, na verdade. Prova contundente de que o sucesso o atingirá, caso o consiga, pelo cu, evidentemente, ou pela frente se você for mais atento à hora certa.

Nada nesta vida possui apenas um lado bom. Tudo tem sua desvantagem. Mas ficarei feliz se um dia fizer sucesso com minhas músicas, e um turbilhão de pessoas quiser me fotografar quando estiver mijando entre andares no meio de uma viagem de elevador, como eu fazia quando criança. E se isso, por ventura, vier a sair numa revista, primeira capa, para vender e alimentar famílias de jornalistas idiotas, ficarei feliz, e não os considerarei idiotas, pois saberei inevitável o meu destino. 

Pior! Tenho certeza de que essas reclamações sustentam ainda mais uma fama falsa, ou servem para afugentar o medo, e a probabilidade que existe, de o tal ator cair nos números da parada de sucesso. 

Mundo falso esse. Protagonizado por pessoas manipuladoras de opinião. Cada um tentando garantir o seu quinhão dourado. Chutes, escarros e dedos médios em riste vendem mais do que sorrisos e agradecimentos. O Pedro Bial ficou constrangido. Ele que também faz sucesso e também é alvo de fotos desagradáveis pelas ruas da cidade. Mas ele entendeu o que acontecia. Ele viu que ali existia algo muito similar a uma pedra: o Ego. O Ego e a necessidade de na verdade SER fotografado e poder reclamar disso. Pois só xinga quem pode, xingar é poder.

Olho pra frente, nada. Olho para frente, nada. Cada vez mais nada. Até que um dia o nada venha a ser tudo. Fim podre e triste de um mundo um dia tomado pela cultura, e no outro invadido e sucumbido pelas asas dos subterfúgios. Ligo o youtube e assisto ao sorriso do John Lennon quando fotografado pelo mundo inteiro. Cansa? Deve cansar...........with a little help from my friends. Thanks GOD!

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Mosquitos

Toda a vez que eu mato um mosquito, e o jogo no vaso sanitário, nunca mijo em cima dele - sempre dou descarga antes. Mato o mosquito, mas não o humilho. Sei que ele já está morto, boiando sobre a água clara, e acho que isso basta. Ao fazer alguma necessidade em cima dele sinto que o estou aviltando. Sinto que ele, não podendo reagir, cabe a mim dar um fim digno ao seu destino de mosquito insalubre.

O Rio de Janeiro está infestado de dengue, e de mosquitos. O mosquito não tem culpa da dengue. Se pensarmos bem, ele nem sabe que pode carregar dentro de si um vírus maligno ao ser humano. A função natural dele é picar, e picar pra se alimentar e sobreviver. Coisa mais natural que esta não há. Porém o vírus age da mesma forma. Nenhum ser se alimenta de forma bonita. Temos sempre que matar algum ser para sobrevivermos. Seja uma cenoura ou um boi. Claro que dói mais matar um boi, pois o boi é quase humano, e muitas vezes melhor, até. Já uma cenoura, acredito eu, pensa junto com o universo, mas não tem a consciência disso.

Nem a cenoura, nem o boi fazem mal a mim. Na verdade, sou eu que faço mal a eles. Mas os mosquitos que me picam fazem mal a mim, e vivo em guerra contra eles. Até já desenvolvi uma arte-marcial para vencê-los na luta. Não, não é brincadeira, nem sou doido. Talvez só um pouquinho. Eu uso um livro fino e largo como uma revista. Os "Asterix" são os melhores. E desenvolvi uma técnica de chapar o mosquito em qualquer lugar onde ele possa estar. Se estiver no teto me olhando e rindo de mim, eu arremesso o livro e chapo o bicho lá mesmo. Minha mira e precisão estão evoluindo com a prática. Meu grau de acerto é de 90%. Sou bom em chapar mosquitos. Os mosquitos que não me picam, que apenas passeiam por aí, eu os deixo em paz - não me interessam. Agora...os que querem meu sanguinho eu não perdoo.




Já o governo do Brasil pensa diferente de mim. Me parece que este governo ao invés de matar o seu povo, apenas faz xixi em cima dele. Na hora da descarga apenas joga uma aguinha pra dar uma afogadinha de leve, e aí mija mais ainda na cabeça do povo. Não nos matam, porque não interessa (votos! votos! votos!). Isso é óbvio em qualquer lugar. Governo sem povo não subsiste.  A questão é que governo não foi feito para subsistir, governo foi feito para governar. E nós não deveríamos ser mosquitos. Quem nos suga é o governo-mosquitão.

A presidente vai à televisão dizer que o que importa é a educação e o conhecimento, e não o PIB. Então me expliquem... Para quê o governo possui uma super reserva de dólares acumulada, que não se usa para nada a não ser "ajeitar" o seu câmbio de acordo com os interesses dos exportadores, e manipular uma inflação baixa e falsa às custas da pobreza do povo (quem entende de juros sabe do que estou falando)? Claro que exportações são importantes sim. Temos que exportar. Mas o salário dos professores continua o pior, a educação nas escolas é péssima, as universidades formam idiotas em vez de elites diversificadas. A violência urbana - traço indiscutível da falta de educação arraigada num povo ignorante - é imensa neste país. Não apenas em áreas urbanas, mas em todo lugar. O norte/nordeste do país vive ainda o faroeste americano. E tudo nunca esteve tão caro quanto agora.

Eu saio às ruas e só vejo mediocridade a se espalhar por nós. Enquanto isso o governo segura o povo com bolsa-família e mentirinhas populistas. A verdade é que o mundo está mudando rapidamente e quem não mudar com ele tenderá a afundar. Ao nos enganar com retóricas que formam uma opinião errada sobre as coisas, estão na verdade mijando em cima de nós - pobres seres humanos do tamanho de mosquitinhos. Apenas carregamos o vírus da sorte na barriga, e mais nada.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aforismo 2

As Mulheres vivem a fantasia; os Homens a criam.



sábado, 14 de julho de 2012

Poema Egoísta

O amor não é verde
O amor não é azul
O amor não é amarelo
O amor não é roxo
O amor não é vermelho
O amor não é preto
O amor não é cinza
O amor não é branco
O amor não é chumbo
O amor não é grená
O amor não é dourado
O amor é espelhado


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Soneto para um mundo pior

Enquanto escrevo meus versos
Que não pertencerão a ninguém
Penso que o drama do universo
Não é Deus nem nada aquém.

Tanta História, tanta audácia
E só uma em mente me vem
- a lida da perpétua ganância
Dos que têm o que outros não têm.

Mãos dadas à desunião,
Uma alma vazia e perdida,
Caminha fingindo humanidade.

Como é triste este caminho vão!
Onde muitos têm vida
E outros só mortandade.




segunda-feira, 9 de julho de 2012

Aforismo I

Nem a inteligência, nem a ignorância têm limites.


sábado, 7 de julho de 2012

Desista!

.
Desista!

Desista sempre!

Porque desistir é a única maneira de recomeçar.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Andarilho (poema-performance)

anda
          andarilho
                         anda sem
                                         pestanejar
                                             
                                                          ^ ^ ^

                                                                    pestanejou andarilho
                                                           terá
                                    infelizmente
                   que
retornar




      (a vida é um jogo pra quem sabe jogar)


    (pra quem sabe jogar a vida não é um jogo)


de novo
        andarilho
              segue em frente
                             tanta gente
                                         a tentar
                                            vai sempre
                                                        andarilho
                                                                 sem
                                                                pestanejar

                                                                                 ^ ^ ^
                                                           pestanejou
                                                 andarilho
                      para a primeira casa
           do jogo
voltou....


     (o segredo, andarilho,...
....................................é andar de olhos fechados...

.................................
..............................................
..........................................................
...............................................................
                                                                o luar a te guiar).......





                                                                     

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Mago

O importante é sempre o final da estória. Ela pode ser horrível; entretanto, se bem acabar, ela será linda. Ou o contrário, também se aplica. Não basta ser linda, acabou de forma mal escrita, não será uma estória linda. Há também que se entender a diferença entre linda estória e estória linda. Pois há diferença - são dois conceitos, que não vou explicar aqui, para que vocês parem e pensem. 

Quem me ensinou isso? Há muitos anos atrás, foi um velho mago. Me ensinou através de notas musicais. E harmonia também. Em cima de um velho piano, que ficou incólume, depois dele se ir tão antes da hora. Mas um dia ele me disse: "Alan, você só não conseguirá o que deseja se não quiser." E me fez mago também. E aqui estou eu revolvendo meus mundos, que são mais importantes que os seus. O verdadeiro mago transforma-se a si mesmo, e a última nota da sinfonia é, de fato, a nota principal. A sinfonia por si mesma  não importa. Mas isso só se aplica à mágica e música. 

Um dia eu acordei, e me dei conta de meus poderes. E resolvi revirar meu deserto até encontrar uma semente ,há metros e milênios, abraçada pela escuridão da areia branca. Eu olhei para a Lua, e a transformei em sol. Olhei para o Sol, e o transformei em multidão. Pus florestas em copos de água, em vez de copos de água em florestas. Eu avistei o lacre eterno e o desgrampeei. Eu espetei meus dedos nos astros, e deles jorraram o sangue tinto e doce. O vinho divino não é seco como se acredita. 

Eu explodi meu cérebro milhões de vezes, e acordei nas asas de enxames de abelhas. Eu descobri uma cor ainda desconhecida pela nossa visão, e com ela tracei um labirinto de arco-íris, que me levou ao maior tesouro, feito de um metal mais maleável, mais lindo, e mais caro que o ouro. Metal que ao contrário do outro, se ligava ao oxigênio liberando uma ferrugem cor de púrpura e aroma de perfume de mulher.

Eu desenhei no papel do mundo caminhos e trilhas que levavam à felicidade dos outros, e atravessei vulcões trajando Mustangs amarelos envenenados de lava e pó de mundo. Eu escorri lágrimas de prata e sorrisos de luar. Fiz a música mais perfeita já composta, e a dei de presente ao meu mago eterno, que resta olhando de algum lugar. Feliz e rico, como ele devia ter sido. Eu salvei a eternidade.

Como eu fiz tudo isso? Foi simples como a última nota de uma grande sinfonia. Eu apenas fui cuidar da minha vida e mandei todo mundo tomar no cu.