quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Tempo e Sonho II

Quando abriu a porta, teve por um instante, a sensação de náusea no fígado. Deve ter sido a noz moscada e o uísque, e pensou: "como é bom e difícil morar sozinho". A velha se encontrava prostrada, sentada na cadeira de vime da ante-sala que continha o elevador.  Seu olhar de desdém fixos deram lugar a um olhar grande e amarelado, e por um segundo ela se transformou mesmo num avestruz. Teve que colocar a mão na cabeça, que doía imensamente, e pedir desculpas. Ela foi levantando-se com ajuda de uma bengala de madeira de lei, ao mesmo tempo que reclamava da demora no atender da porta, que havia tocado a campainha uma centena de vezes, e etc. Ele não se recordava disso.

É sempre melhor chamar uma mulher de "linda" do que de "gata", aconselhava o seu laptop. Gera uma sensação de cavalheirismo sem roubar a sedução do malandro. Mulher gosta de homens espertos, e odeiam cafajestes, dizia o laptop para ele. Quando abria o laptop uma luz irradiava dele, como uma energia, uma radiação, e com ela surgia um oráculo que respondia suas dúvidas, e muitas vezes traçava a linha psiquiátrica que destinava aos seus pacientes.



Acho importante que a velha se mude para uma fazenda, e comece a reproduzir avestruzes. Esta seria a maneira prática de constatar que os pobres animais não a querem sexualmente, pelo contrário, querem uns aos outros. E ainda é algo lucrativo! Dizia o laptop. A velha foi dispensada em apenas vinte minutos de análise psiquiátrica. Receitou a ela esteróides e uma alimentação baseada em carne de boi e muita creatina.

Nos seus dias de folga passeava pela orla do Recreio, onde não morava. Dirigia até acompanhado de seu chofer. Mas quem dirigia era ele. Conversavam horas a fio sobre diversos assuntos, e seu chofer tinha cara de pivete. Quando estacionavam o carro na orla do Recreio o chofer já havia desaparecido, e ele sem entender, ficava meio zonzo, fechava e trancava  a porta do carro importado e seguia sempre para aquele banquinho do calçadão - sempre o mesmo.

Sentava no banco, abria o seu caderno de anotações, e começava a rascunhar remédios e tratamentos e observações sobre seus pacientes. Quando possuía dúvidas sempre olhava ao longe esperando a chegada do grande velhinho. O velho barbudo sentava ao seu lado e tecia as melhores formulas e opiniões sobre os casos, um a um. Conversavam como loucos, e de repente sumia como nuvem. Então ele levantava, voltava ao seu carro importado, onde o chofer pivete já o esperava pronto para voltar pra casa. No caminho engolira uma semente de noz-moscada.

Possuía cinco pacientes. Um senhor de meia idade, uma garota de uns 20 anos, a velha de idade bem avançada, um menino de 15 anos recém desvirginado, e um senhor muito distinto de uns 60 anos. Todos bem tranquilos, talvez com exceção da velha cismada com avestruzes sexuais.

Quando chegou em seu prédio, subiu até seu andar, entrou em seu apartamento e se encaminhou para a biblioteca, lugar onde costumava atender seus pacientes. O garoto de 15 anos já se encontrava sentado numa poltrona o esperando atentamente.


(continua...)

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