sábado, 2 de julho de 2011

A Lua

A Lua, que tanto seduz os poetas como eu, só pode ser comentada de dia, pois que à noite é impossível desfocar-se dela. Lua. Tão louca. Não é tão louca quanto os que a admiram. Uma massa cinzenta de terra que deve nos seduzir talvez pela falta de atmosfera mais que pelas marés.

Lua dos que se perderam é guia dos que se acham nos mares. Sua luz de cozinha de refeitório atrai mosquitos a uma viagem eterna. Lua endiabrada, dos fados, das quimeras, é o que ilumina as fogueiras. Se o Sol queima a pele, a Lua queima a alma. Só os poetas a alcançam. Só os bardos a cantam. Possível criadora da arte, abriga a loucura nas suas fases. Face? Só tem uma. É o escuro-brilhante, o espírito galgante, o amargo alento, o cavalheiro galanteador. Uma rosa entregue a uma mulher não significa nada sem a Lua. Uma cerveja só não é brega se estiver sob a Lua. Lua bebível, comível, mal traçada, de circunferência que engana, traça presa no céu, devorando a noite... só não foi considerada buraco pelos antigos, dado o seu sorriso torto, que em milhas e milhas ulrapassa em enigma a Giocconda.

Lua dos mal-trapilhos, dos mendigos, dos errantes, dos judeus. Lua temida porque tráz a loucura em sua poesia. Um Homem deixa de ser normal ao avistá-la à primeira vez. Lua que circuncida a alma. Outro Homem nunca mais será são ao escrevê-la. Entretanto, como escrevê-la com sanidade? Lua...Poste de Deus, primeira parada ao espaço infinito, a Lua é a vertígem ao avesso.

A Lua pertence aos loucos, aos presidiários, das barras físicas e das morais, das barras introspectívas e das fenomenais, das impostas e das facultativas. A Lua é o labirinto onde um príncipe se esconde, e para onde as raposas úivam - Lua... tu és responsável por quem cativas! Sua raiva não existe. Sua dor é desconhecida. Seu amor amargo e doce. Uma vez por mês tímida, vai sair vestida de meretriz a qualquer momento. Lua puta! Se pudesse falar............. e fala! Diga-me então, Lua, responda-me a simples e impossível pergunta: Porque tão amada pelos poetas loucos?

- Porque se existe um preço para se estar na Terra, em mim pode-se estar de graça. Porque sou feita de pesadelos e sonhos bons. Sou o inatingível. Porque só existo de longe, e uma vez pisada perco a graça. Sou dos que precisam, sou dos que sofrem as desordens da mente, sou dos que caem em minha maldição, que é escrever-me e apagar-me. Vai me amar até entender-me, e terá que aguardar pela noite dos tempos! Estar na Terra, em solo firme, à luz do Sol, HÁ! Isso é fácil! É pra qualquer um. É para os medíocres. Só os inúteis, os vagabundos, os artistas, os fugazes, os perdidos me alcançam. Estar em mim é sonhar, é vagar, é sofrer e gozar. Sou de prata e Deus fez o ser humano apenas para me polir.

Já cantei a Lua. Já vivi em suas crateras. Já me perdi em suas cavernas. E volta e meia dou saltos de maizena. Todas as noites tento alcançá-la e me vou. Sou fruto de seu desapego, tornei-me maluco e mais humano por causa dela. Fiz música. Minha primeira música da minha vida. Vou e volto quando quero. Sem foguete. Sem contagem regressiva. Há que se aprender o caminho de volta. Há que se voltar! A Lua é um labirinto, há que se caminhar por ela deixando contas pelo caminho, senão perde-se. Cuidado! Há sempre que se deixar traços! Mas apague-os uma vez que retornar, pois o caminho deve ser secreto, e é de cada um. E nunca se esqueça! A viagem pode ser sem volta uma vez que ela for de queijo.






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