segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Era da Hipocrisia

Li no jornal outro dia que estão loteando o Ártico. As calotas estão derretendo muito rapidamente possibilitando a exploração de mais petróleo e gás e outras "riquezas". Dentre os países interessados e atuantes nessa nova colonização comercial estão os EUA, a Rússia, países do bloco europeu, e a Dinamarca, que inclusive já se autoassumiu dona de grande parte do território alegando alguma bobagem política qualquer.

Mas estão inscritas na agenda mundial outras reuniões em prol da saúde do planeta, agendas, estas, que não dão em nada e só servem para que políticos do mais alto escalão tomem cafezinho em frente às câmeras e mostrem seus olhinhos de "interesse" e "comprometimento".

A verdade é que o Homo Sapiens é mau. Na melhor das hipoteses é um indivíduo pouco neurótico, porém paranóico, com alguma síndrome psiquiátrica gravíssima. O ser humano corta os próprios pulsos para sobreviver.

Isso é visível na nossa sociedade onde as pessoas, cada vez mais falsas, constroem (cada vez mais) valores equivocados, que sustentam o mau caratismo como necessidade para se sobreviver. A hipocrisia sempre existiu. É só ler literatura antiga que lá está ela. "O primo Basílio", "Madame Bovary", "1984", "Contraponto" de Huxley, etc. Só que nunca na história humana a hipocrisia foi aplicada de forma tão profuda. Hoje, a própia hipocrisia pode ser hipócrita. O ser antes era um malvado assumido. Hoje todos somos hipócritas. Porquê? Porque não se vive sem ela. Não se ganha o pão nosso de cada dia sem sorrir no momento em que se deseja a morte do próximo. E essa é a base do políticamente correto. Eu odeio o políticamente correto. Que porra mal explicada é essa? Afinal, poucos sabem o que realmente significa a acepção da palavra "política". Política é como amor, não se explica muito bem. Aliás, quando as questões políticas do mundo vão de mal a pior, especialmente as do nosso país, porque dar tanto valor a uma expressão tão hipócrita quanto a que é ser "politicamente correto". Porém, temos que ser, porque, se antes eramos educados, e isso está claro que é necessário de verdade, hoje o conceito mudou. Não somos educados, somos interesseiros ao extremo. Sorrimos enquanto matamos.

E não é nossa culpa total não! Não há o que fazer! Ou somos assim ou não nos encaixamos, e se não nos encaixamos morremos de fome mesmo. Mas não foi sempre tudo assim? Não. Não nesse nível. Há muita gente nesse planeta. Não há mais lugar para ninguém. Em breve não haverá comida para todos, nem água, por isso a super valorização das commodities e, claro, dos países subdesenvolvidos, que,... perdão, serei politicamente correto: Em Desenvolvimento.

Por isso estão loteando o Ártico, e em breve lotearão as águas da Antartida também. Porque há que se alimentar o povo. Há que se alimentar um sistema de consumo que deixou de ser consumista para ser antrofagico-consumista. Nós estamos nos devorando sem perceber. Não estamos devorando a natureza, estamos devorando o Ser Humano.

Na televisão todo mundo deseja ser médico (House) ou advogado. Mas o  mundo hoje é dos economistas e dos marqueteiros. Uma comunidade de profissionais do nada. Alguém já viu economista acertar tendência? Claro que não. Porquê? Porque não é para acertar. É para divulgar a mensagem, a notícia errada. Porque a bolsa de valores é o lugar onde os otários botam a grana que os expertos ganham. E o marketing só é alimentado pela super febre de consumo que ao vender milhões de automóveis e geladeiras no mundo está dizimando nosso habitat natural. Mas pra quê tanta geladeira? Pra quê tanto carro???? Duram pouco porque foram feitos para quebrar rapidamente. O conceito é parecido. Os países desenvolvidos já estão botando as barbas de molho e preparando seus mercados, desenvolvendo aparelhos que funcionam com combustíveis mais baratos e mais limpos. Porém, voltando ao início deste texto, todos esses países estão de olho no petróleo do Ártico. Torcendo para que tenha muito petróleo a ser queimado ainda nesse planeta. E enquanto isso é preciso "empregar" essa gente, essa superpopulação, portanto o marketing!

É por isso que o seriado de mais sucesso é o House. Porque ele simboliza o contemporâneo pensamento, a hipocrisia, não divertida, ou inerente ao mau-caráter único, mas sim a generalizada, por si só necessária, a qual sem ela, morreríamos de fome num mundo cada vez mais competitivo e afunilado.

E todos gostam do House. As mulheres gozam quando o ouvem proferir frases de efeito devastador aos egos que o rodeiam  pelo hospital. O ideal hoje em dia é ser filho-da-puta. Quem vence não é o músico talentoso (sem recalque algum porque sou foda e sei que "conseguir" é bom, mas não é o mais importante), mas sim aquele que faz comédia, que anima a platéia idiota que não vai nem para assisti-lo, e sim pra azarar, e talvez consiga terminar a noite com algum amorzinho hipócrita instantâneo, e/ou para fazer "contatos" hipócritas que possam resultar no pão nosso de cada dia, ou o sushizinho, tanto faz.

Vivemos a era da mentira total. Onde as pessoas mais verdadeiras são as que não conseguem esconder suas invejas, babando seu ódio real pelos cantos da boca. E outras pessoas, o grosso, que se escondem por trás de um escudo de fachada, bonito (tenta-se, pelo menos ser bonito), falando mal pelas costas de quem tem valor e é humano e digno. Oferecendo mundos e fundos, todos mentirosos e hipócritas, porque o importante é "parecer legal". Muitas dessas pessoas vêm escondidas atrás de "profissões" de nomenclatura duvidosa, tipo "produtor de gestão", ou "jornalista de conceito", coisas assim. (???) E há aqueles que babam de raiva invejosa, e ao mesmo tempo dizem te amar. São cobertos pela aura da cor do estrume que ninguém vê.

O fim do mundo poderá vir de uma bomba atômica, ou de um cometa. Mas o fim da sociedade virá no dia em que pudermos ler pensamentos.



(O texto abaixo por Claudia Tonelli)

Cortinas podem ser trocadas, paredes podem ser pintadas, sofás podem ser reciclados, lustres podem ser polidos, cozinhas e banheiros podem ser renovados, além de quartos, que podem ser finamente decorados...mas e a alma? Quem reforma a alma? Será que uma pesquisa de mercado super especializada responderia essa pergunta? Para onde caminha a sensibilidade humana? Dá para medir em gráficos o quanto "vale" cada um? Não, não dá. Vai além do alcance dos homens (espécie). O mundo dá voltas. Tem coisa na vida que é melhor nem saber...

Jurandir com a Macaca

Jurandir trabalhava no zoológico da cidade. Tinha 55 anos de idade, cabelos grisalhos em forma de concha. Não tinha família, nem amigos. Morava perto do zoológico num buraco podre da cidade. Adorava pipoca e jujuba, mas quase nunca comprava porque sua televisão pifara.

Sua função principal no zoológico era varrer. Varria o chão com carinho fraternal e um saco-cheio de marido cansado da rotina. Usava uniforme azul e tênis por onde entrava água pelo bico em dias de chuva. Catava folha por folha, não falava com ninguém por vergonha. Era extremamente tímido e carente. Nunca na vida casara e seu maior sonho era ter um filho, mas se contentava com um porquinho-da-índia que roía suas meias já escurecidas pelo uso.

Passava muito pela jaula do leão, e achava a zebra o bicho mais inteligente de todos. Se dava melhor com os animais. Adorava o elefante e ficava extremamente zangado quando o público irresponsável zombava do macaco punheteiro. Mas não reclamava. Tinha medo de perder o emprego de sua vida, pois o chefe era mais punheteiro ainda.

Enfim, sua vida era insôssa. Não tinha mulher, Nem nunca uma mulher o teve dignamente. Jurandir era daqueles que precisavam de um remédio antidepressivo qualquer, ou talvez até um excitante, mas sua condição não suportava esses gastos luxuosos. Sofria de falta de ejaculação, e a ereção era coisa rara, quase nula, não existente. Por isso não dava muita importância a mulher. Já havia abstraído do sexo oposto. Sua auto-estima era péssima, e considerava sua idade o fim da vida. Sua vida era o zoológico e o zoológico uma vida inteira.

Um belo dia chegou no zoológico uma nova gorila. Fêmea, claro. Enorme, forte, peluda, um colosso de animal, vindo direto da África, comecara instantaneamente seu processo de adaptação. Jurandir ficou encarregado de deixar as redondezas do cativeiro muito limpas, mas foi advertido a não interagir com a fêmea gorila, que podia ser, e era perigosa durante esse processo de adaptação.

Passou um mês, e Jurandir cumpriu muito bem sua função burocraticamente. Nem olhava muito pra dentro da caverninha construída para a gorila, embora ela sempre se ressabiasse quando da sua aproximação ainda que longínqua, vassoura na mão, às vezes um ameaçador ancinho, com o qual, pacificamente, Jurandir colhia as folhas pelo chão. Jurandir não percebia, mas os olhos vermelhos da gorila se amarelavam ao vê-lo.

Um belo dia aconteceu um fato grave. O responsável pela alimentação dos animais símios sem querer esqueceu a chave da cela da gorila na fechadura, e a gorila, sendo meio humana, percebeu, abriu e fugiu. Trilhou o zoológico sem ser vista na escuridão da noite, e caiu nas ruas da cidade.

Não se sabe como, mas o bicho Homem tanto despreza os animais que fica difícil entender como foi que a gorila encontrou o prédio onde, num buraco, sobrevivia Jurandir. Deu uma porrada no porteiro e subiu pelas escadas até o oitavo andar onde ficava seu conjugadinho. Com um chute arrebentou a fechadura da porta e entrou.

Parecia uma visão do inferno aos olhos de Jurandir, aturdido e paralisado. Vendo aquele imenso animal à sua frente só conseguiu se imaginar pulando pela janela ou sendo esmagado pelo pescoço por mãos enormes e felpudas. Mas pular do oitavo andar não era uma boa e ao olhar bem para o animal Jurandir notou em seus olhos algo que não via desde garoto e que parecia amor. Os olhos vermelhos do monstro selvagem haviam se tornado amarelados e pareceu-lhe que uma lágrima brotara num canto. O monstro então andou calmamente em direção a Jurandir e o pegou no colo, sentou no único sofá que havia no conjugado, e o afagou. Neste momento Jurandir até lembrou de sua mãezinha, gorda e falecida, em um vilarejo de minas há 15 anos. E sentiu falta de medo.

Só que a grande macaca era freudiana, e começou a querer algo mais com Jurandir. E colocando jurandir sentado, quase quebrou-lhe as juntas ao subir em cima dele num esfrego de amor carnal nunca visto dantes entre um símio e um ser humamo, se é que existe essa diferença.

Jurandir, que era carente, e acima de tudo impotente, gostava de mulher e não de macaco, porém impossibilitado de se mover, não sabia mesmo o que fazer e começou a gritar por socorro.

Neste momento o porteiro, recuperado da agressão e do choque, junto com a polícia, subiam as escadas em direção ao grande macaco que urrava de tesão no oitavo andar. (Só que óbviamente eles não sabiam que era tesão).

Foi neste momento, segundos antes de chegarem ao oitavo andar que a imensa e fogosa gorila de forma indecorosa e inimaginável proferiu! " Te dou um milhão de reais se você me comer agora". E naquele momento, Jurandir, pobre, quase um miserável, e especialmente broxa, após anos e anos sem reação viu seu pinto depois de anos, subir! e com toda a força descascou a banana com a gorila enorme, sabe-se bem como.

E no momento em que a polícia junto com o porteiro chegavam no conjugado, via-se Jurandir no colo na gorila, agarrado ao seu pescoção, pulando pela janela, por um cabo desligado da Light como se fosse um cipó da selva africana.

E assim acaba a historinha, afinal, um amor e uma cabana nunca deram certo.

sábado, 28 de maio de 2011

Imortalidade


Há que se preocupar com o desejo de imortalidade. Uma pedra é imortal. Seguindo pelo espaço, soltando radiação; ou morto asteróide, tudo que sabemos ser nesse universo é pedra. Será que a pedra pensa? Porque se pensa é Deus. Mas se não pensa é nada. E o que é o nada senão a imortalidade também? Pois para o "nada" mesmo não há palavras que o possam descrevê-lo.

Somos seres radiantes? Radiantes sim. Mas seres? O que é um ser? Ser é algo mortal (ou não?). Conceitos novos aceitam uma pedra como parte de um "ser" maior, de algo "humano" ou divino, que chamamos de natureza. Essa interação poderia ser imortal. Ou não.

O grande drama do Homem é sua finitude. Pois é tão bom estar aqui, mesmo na mais evidente miséria, na maior consternação síndrome de down, etc. O ser deseja ser. Existir é uma faca de dois gumes. "Everybody Wants to Live Forever" dizia o sucesso musical dos anos 80...anos que se foram e acabaram.

Tudo morre, mas tudo se "desimortaliza"? E o amor? Sentimento tão fugaz pode ser imortal enquanto dure, ou eterno, não lembro bem. O poeta sabia, mas agora não sabe mais nada? Não segue, não acompanha a evolução ou desaparecimento momentâneo de sua arte? Porque a arte, essa é imortal. A verdadeira arte sobrevive mesmo numa gaveta trancada de um mosteiro do século XIII. Até que algum mortal a encontre, ela está lá, incólume. Ou não! Sendo comida por traças e vermes, pela erosão do tempo que na verdade não há, é apenas o movimento. Tempo é movimento. Não existe quarta dimensão. Não existe corrente que nos arrasta pelas vastidões espaciais. Tudo isso é uma imensa bobagem. Existe apenas o irreparável movimento das coisas, e a ilusão que esse movimento nos causa.

A pedra é o ser perfeito. A árvore quase. Nós somos os mais mortais de todos. No meio dessa farinha desorganizada num tecido que cobre a mesa de Deus, tenho muito medo de virar pão. Ou de ser expanado de repente, e tudo que compus ir embora com o tempo-movimento.

Às vezes acho que as pedras amam. Senpre tive uma relação fraternal com elas. Mesmo quando se dissolvem  e viram areia não deixam de ser pedra. Já nós, viramos alimento. Da pedra só de alimenta o limo e a erosão, o mar, o rio... mas no final acaba se transformando em sal mineral, que é pedra.

Tenho uma teoria de que o abacaxi, como qualquer outra planta possui o dom, a possibilidade da vida eterna, da imortalidade, e vou explicar como:

Quando você planta uma semente de  abacaxi brota um abacaxi, óbvio. Esse abacaxi cresce e vai dar num outro abacaxi. Um dia um pombo vai se alimentar desse abacaxi e levá-lo, sua cópia, seu clone, para outro lugar. O DNA será o mesmo? Acredito que sim. E assim se perpetua a natureza. Evoluíndo dentro de um conceito de imortalidade. Nós, humanos e também os bichos não. Nós nos misturamos e apenas podemos esperar coexistir no futuro dos nossos próximos. Até que um dia alguma pedra vinda do nada nos colida e nos transforme em nada. Porém a pedra, essa sim, matéria "orgânica" divina, esta se divide, se amálgama, vira poeira, mas nunca deixa de ser imortal.

Por isso o amor é tão importante em nossas vidas. Por ser ele possuidor das características das pedras.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

X.



O X. é um ser no vácuo. O X. nem é um ser, é apenas um personagem, que mesmo sendo não é. Ele é o K. tanto usado por Kafka, que tanto queria se assumir e não conseguia, o X. tem vergonha de aparecer, tem medo de ser. Ele não tem time, pois ninguém ama sem ser amado, e o X. ama sem deixar amar. O X. possui a vantagem da escuridão, mas não leva o crédito pelas suas belezas. O X. é puro, embora muitas vezes queira ser desafiante. O X. quer ser Deus. Quer ser polêmica sem machucado. O X. quer ser conflitante mas se perde na indiferença de um conflito sem dono. O X. quando gosta é um ser impedido de retorno. Não é homem, não é mulher, é pássaro. Ele voa, pois ninguém o vê, e sabe-se lá se chega ou se vai. Ele pode ser amor, pode ser guerra, pode ser admiração ou inveja, mas não é nada, e ao mesmo tempo pode ser tudo. O X. é o ghost writer. É o que merece mas não pode usufruir. Pode ser a mãe ou o cachorro super-dotado. O X. é um alien infiltrado tentando existir no meio diferente. O X. é um ser com uma timidez enorme, e que doí tanto que já virou identidade. É o ser trilhando um túnel, vagando sem alcançar a luz, e que quando o seguramos pela mão, e o puxamos pelo cabelo, só conseguimos arrancar a peruca.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O dia em que o diabo foi enganado




Uélington era um ser frustrado, pobre, suburbano, feio e triste. Não possuía família viva. Morava sozinho num conjugado perto do Complexo da Maré, que pra quem não conhece, é uma das piores favelas da periferia da cidade do Rio de Janeiro. Trabalhava como entregador numa empresa de caixotes de papelão. Sua renda só dava pra comer e se locomover e mal se vestir. Afinal, era um brasileiro desses que nunca desistem, e também nunca conseguem.



Parecia realmente que sua sina havia sido decidida no momento em que dona Mariângela lhe deu o nome: Uélington, Um nome pouco promissor. Começando com U... nome de erro de funcionário da repartição onde sua certidão fora emitida.

Uélington queria ser jogador de futebol. Queria ser um pop-star dos gramados. Passava os seus dias de folga assistindo aos jogos na TV básica e vendo fotos de jogadores em revistas que ele encontrava num lixão perto do seu prédio de três andares, imundo. Só que Uélington não sabia jogar bem o futebol. Era o maior perna-de-pau da rua. Era mirrado, e baixinho, e meio caolho, e não havia mesmo jeito dele melhorar ou aprender a jogar bola. Uélington parecia que ia ficar apenas no sonho mesmo.

Mas como Deus não dá asa para cobra, mas também não dá veneno pra esquilo, existia um porém nesta infelicidade tanta: Uélington não era burro. E fora dos campos de pelada Uélington era um sujeito bem esperto. Mas isso não basta no mundo de hoje, onde as pessoas são privadas de mobilidade social completa.

Então Uélington tinha prazer nos seus sonhos, no seu desejo de ser um grande atacante, de jogar no "Framengo", como dizia, e sonhava e dormia bem, e fazia muitos gols em seus sonhos, mesmo sabendo que sonhos são apenas sonhos pra um Uélington do Complexo da Maré.

O bairro onde Uélington morava era de ruas de barro batido, calçadas esburacadas, e há uns quinhentos metros do final de sua rua havia uma encruzilhada, que um dia foi ponto de drogas e que depois teve de se mudar com a instalação de uma unidade fixa da Polícia Militar (PM) no local.

Essa unidade durou um tempo, mas também teve que se mudar sabe-se lá o porquê. O fato é que o lugar, a encruzilhada era êrma, não possuia casas, mas também não era terreiro. Era um lugar onde plantas não nasciam, e sentía-se uma poeira, um tipo de atmosfera, que seria de tom avermelhado, caso fosse possível dar cor ao ar. Era um lugar esquisito. Quase funéreo, evitado pelas pessoas, e tão vazio e desencantado de vida que nem depacho de macumba se colocava por lá.

A encruzilhada era esquisita mesmo. E ficava mais esquisita à noite pois mesmo sem mais nenhum policiamento, de vez em quando passava um camburão antigo da polícia, daqueles que não se fabricam mais, e que se tornaram obsoletos frente aos modernos carros de hoje em dia. O veículo geralmente parava na encruzilhada por uns cinco segundos, e dava pra se ver um vulto dentro do carro, e apenas um. Coisa estranha, pois policiais geralmente vão em duplas. E quando o carro partia não se ouvia barulho, e nem rastro deixava, portanto era bastante ignorado pelos moradores das ruas contíguas, porém meio distantes do local.

Mas da casa de Uélington dava pra se ver bem, mesmo ao longe, a encruzilhada, e Uélington sabia bem a hora em que o camburão extinto passava. Sempre à meia-noite, o que o intrigava muito, mas também não o preocupava, pois Uélington não era um cara medroso e não acreditava em bobagens, e na sua cabecinha apenas uma coisa se passava, e era o futebol.

Numa quinta-feira Uélington teve um sonho muito estranho e incomum. Sonhou que jogava bola num campo de terra batida, e que naquele momento levava a bola para a marca de escanteio do time adversário. Uélington botou a bola na marca e ia bater o escanteio, bateu e marcou um golaço do tipo olímpico, que é quando a bola entra direto no gol sem tocar em ninguém. E logo após a cobrança, e o gol, não houve comemoração, todos os jogadores haviam sumido e agora Uélington se via ainda no campo, mas que não era mais um campo de terra batida, mas sim de grama, e quando olhou em volta era o Maracanã! Vazio porém era o Maracanã, e Uélington calçava chuteiras Nike com assinatura do Ronaldinho e uniforme completo do seu "Framengo" amado e querido. Mas sozinho no estádio Uélington viu que de longe, o único observador agora era o camburão, e que a marcação de escanteio do campo, que geralmente é uma meia-lua, agora era uma cruz, e que Uélington se encontrava de pé bem em cima da marcação, branca e encruzilhada, no campo de grama.

Na noite seguinte, sexta-feira, quando deu meia-noite Uélington avistou, de sua janela, o camburão na encruzilhada. Achou estranho porque desta vez o camburão demorava pra sair. Havia-se passado 5 segundos, 30 segundos, 1 minuto, 10 minutos e ele ainda alí. Uélington sentiu uma coisa estranha. Sentiu que o camburão esperava por ele. Que algo o atraía e que isso havia de ter com o sonho que sonhara na véspera.

Uélington, que não era um cara muito medroso, então saiu do prédio e se dirigiu à encruzilhada onde o tal camburão parecia o esperar.

Quando chegou perto da encruzilhada viu a porta do camburão abrir, e nesse momento Uélington chegou a sentir um frio na barriga e um impulso de voltar, e foi quando ouviu: "Calma, Uélington, não vou te fazer mal, aproxime-se, I am a man of wealth and taste, please to meet you, hope you guess my name." Uélington que não entendia nada de inglês apesar de ter um nome inspirado na língua britânica, resolveu chegar mais perto e ver quem era o sujeito do camburão.

Quando chegou perto e pôde ver o sujeito, viu que era um policial, apenas um PM, fardado normalmente. Uélington ficou num misto de confusão, intriga, dúvida, e chegou mais perto ainda sendo cumprimentado pelo sujeito com um educado aperto de mão.

Na encruzilhada, no meio da escuridão, havia uma aura de neblina, meio roxa, meio avermelhada, meio esquisita, e um cheiro de sabão de enxofre, dos mais baratos, que ele comprava no camelô pra lavar os pés depois das peladas semanais.

Foi então que Uélington perguntou: "Quem é você? Está me procurando por quê? Eu fiz alguma coisa?"

"Não Uélington, não precisa ter medo, eu não sou um policial comum, eu na verdade vim realizar seu sonho." Disse o PM.

"Mesmo? Mas afinal, quem é você?"

"Eu sou o Demo, o diabo, o senhor das Trevas!

Uélington então disse: "Ok, eu não sou religioso e não acredito muito nessas coisas, prove então que voce é mesmo o diabo!"

"Uélington... eu sei toda a história de sua vida embora você nunca tenha me visto e ache que nunca estive de olho em você. Mas para provar que sou mesmo o Demo saiba que vou transformá-lo no maior jogador de futebol da História".

Uélington então viu realmente que se tratava do Demo, pois em sua cabecinha como que um PM desconhecido poderia ter conhecimento de sua maior vontade na vida e, ao mesmo tempo, sua maior incapacidade?! E perguntou então: "Maior que o Zico, maior que o Pelé!?"

"Mas é claro Uélington, como você acha que se consegue ser o Zico ou o Péle nesse mundo capitalista de hoje? Só fazendo pacto com o Demo, ora bolas!"

"Só tem uma coisa, Uélington.." Disse o Demo. " Existe um precinho para isso. Você vai ter que vender sua alma a mim, e após o seu sucesso eu voltarei para levá-la comigo."

Uélington disse: " Só isso? Minha vida já é uma merda mesmo, e minha alma já vive num inferno, qual a diferença se vai ser aqui em cima ou lá embaixo? Eu aceito!"

"Ok, Uélington, então basta apenas que você assine este papel, que é nada mais que um contrato onde você me vende sua alma em troca do talento, e da fama com as quais você tanto sonha. Por favor assine aqui em cima desta linha."

Uélington, que tinha nome errado, mas que não era burro nem nada assinou...

Só que ao invés de assinar Uélington com U, teve a esperteza de botar mais um bracinho na letra e assinar Uélington com W - e no contrato ficou Welington.

O Diabo, que era inglês mesmo, vendo aquele W que parece mesmo com a forma tão familiar de um tridente nem percebeu. E foi assim que Uélington, com U, enganou o Demo, salvou sua alma, e joga hoje no Cambuquira Football Club de Massuripe, interior de Goiás.

Mas dizem as más línguas,... já foi convocado para a seleção.

sábado, 21 de maio de 2011

A gente somo correto.








Vou dar a minha opinião sobre essa polêmica, já muito comumente discutida nos meios e mídias, sobre a língua "brasileira" estar evoluíndo ou involuíndo.

Primeiramente leva-se em consideração o fato de que não existe língua "brasileira", é tudo lusitano mesmo.

Mas como deve existí gente que acha que a língua brasileira pode-se afastar da de portugal, simplesmente porque é pra frente que se anda, nóis sabe bem que já diz o poeta, "cada uns na sua". Mas sendo os homens reunido e discutindo, todo mundo junto, eu acredito que alguma hora essa missigenação entre inguinorância e ignorância há de encontrarem alguma parcimônia.

Afinal, pra quê tempos verbais quando podem se ter apenas tempo verbal? Pra quê preposições, pra quê regras boba que no final das conta serve apenas pra dividí nosso povo em imbecís e imbecís cultos?

Se somos todos farinha dos mesmo saco, qual o pobrema a gente se comunicar como se comunica os dotado de línguas pobre? Pra quê tanta literatura? Pra quê tanto passado glorioso. Xô regras inútel! Pra quê Machado de Assis, Eça de Queiroz, Erico Veríssimo, Clarice, Cecília...? Pra que se empenhar em falar "nós fodemos" quando o que nós faz mesmo é se foder? Porque países fodido por fodido não precisam se empenhar em bobage como conjugações. Pros que tá na merda isso é pouca bobage.

Afinal, nós tamo bem mermo, né-não? Nós somo flamenguista memo, né-não? Nós pode e pronto! E quanto à sala de aula, danem-se. Quem quer saber de plural? Pra quem tem tanto que não consegue nem contar, pra quê se preocupar com linguage? Linguage é coisas pra ensinar pros índio. Nós não somo índio, por isso memo podemo falar como eles. Afinal, eles têm as língua deles e se viram bem nelas. E nem devem ficar discutindo tamanhas bobage, enquanto tem gente que morrem de fome, tem professor que não podem comer na sala da aula porque os estados não paga. Então pra quê toda essa bobage de discussão? Vamos falar como der na telha! Pra quê gramática? Pra quê dificultar o que são difícil pra todo mundo. O negócio é facilitarem as coisas pra quem precisa, e dane-se os outro. Nós concorda e pronto!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Jardim das Borboletas

Espero conseguir transmitir em poucas palavras o que senti ao me apresentar, no último sarau Criar, acompanhado de uma menininha de nove aninhos. Na verdade preciso me corrigir. Fui eu que a a companhei ao violão, num solo vocal de sua parte, tão singelo e tenro, tão cheiro de talco e ao mesmo tempo de uma pretensa maturidade, que comoveu como nunca dantes visto por mim a todos que ali estavam.

Vou chamar este "relato" de O Jardim de Borboletas, porque acho que a melhor definição do que aconteceu entre mim e a menininha foi justamente o que senti: catando borboletas num parque de sonhos, lúdico e mágico, onde o mundo nos assistia, mas nós não assistíamos a nada, apenas tentávamos "colher" borboletas azuis, amarelas, prateadas da cor dos flashes que nos vivenciavam e passavam despercebidos tamanho era nossa concentração no sonho, na nossa troca entre nós dois, e a borboleta mais bonita.

Lá estávamos nós galgando uma trilha puxada por mim. A menina trilhando o inimaginável por ela, e que vivi tanto nas minhas andanças pelo mundo. Nessa floresta díspare e muitas vezes amedontradora, a menininha segurava a minha mão. E confesso que nunca na minha vida fui pai antes daquele dia. Eu que nunca nem fui e nem sou pai (pelo que sei até agora...).

A menininha foi ousada sim. Corajosa e rígida. Digo rígida porque lembro da primeira vez em que eu mesmo subi num palco e minhas pernas tremiam tanto que eu achava que iam desfalecer. Me senti tão sozinho, tão julgado, tão vulnerável que é impossível descrever. Tive dois momentos de iniciação. Um concedido por músicos simpáticos que tocavam música folk num barzinho underground de New Orleans e me concederam seus 15 minutos de descanso. Nessa noite toquei para duas mesas de no máximo 10 pessoas e tremi. Minha segunda iniciação foi durante a escola de música em Los Angeles, numa aula-show, com palco de verdade, luz, som bom, show mesmo!, voz e violão, uma pá de gente assistindo (todos músicos, plateia dificílima...) e dois professores julgando a performance no fim. Nesse dia tremi na base. Esqueci letra, acordes, tudo, mas consegui ir até o final.

Quando me encaminhei ao palco junto a Letícia Tonelli, a menininha, eu a perguntei se estava nervosa. Ela prontamente me disse que não. Mentira. Qualquer humano fica. E no vídeo dá pra ver o seu corpinho rígido, tenso, porém relaxado numa atitude blasé. Seus olhinhos vidrados num misto de concenração e corda-bamba. Linda criança, vencendo as dficuldades da vida com o queixo pra cima, olhando de frente, encarando o público como se nascesse pra isso, e eu digo do alto da minha humilde experiência, ela nasceu pra isso.

Eu, por minha parte me senti bem calmo. Sabia que tinha que guiá-la nas trilhas das borboletas, e quando sou guia, não sei porquê, mas assumo uma postura de presidente dos EUA: sou o BOM. Não nasci para ser guiado, nasci pra mandar mesmo. Mas quem mandou foi a menina. Dando o tom do meu violão, me fazendo obedecer a amplitude infantil de sua vozinha. Seguiu todos os meus conselhos, mas não deixou de me olhar de soslaio de vez em quando para saber o momento certo de entrar no compasso, ou como se buscasse minha mão na dela. Foi nesse olhar que senti suas mãozinhas segurando as minhas pelas trilhas de borboletas. Uma hora identificando uma maior e mais bonita, e eu então diminuía meu volume para que sua vozinha resplandescesse mais. Outras horas mais difíceis, com borboletas mais altas e pequenas eu a segurava com mais força para que não caísse e desafinasse. Vocês não podem imaginar a dificuldade de não desafinar quando se tem pelo menos umas 150 pessoas olhando para a sua cara. Pessoas positivas, pessoas negativas. Inveja, admiração, misturas de sentimentos, e uma música relativamente difícil...etc.

Lembro que antes do show eu quis dar a ela um amuleto que nos protegesse e nos desse um show legal. Ela não quis. Ela no fundinho da sua alma sabia ser ela mesmo o amuleto. A criança amada pela mãe, que a observava de longe catar borboletas, pronta para resgatá-la a qualquer momento inoportuno. Olhos vidrados de mãe que vê filha casar, fazer batmitzvah, defender tese de mestrado, dançar balé no municipal, sei lá. Quem tem mãe tem tudo. Não houve diferença entre aquele barzinho singelo de botafogo e o municipal. As borboletas seriam as mesmas, as trilhas, sempre perigosas seriam vencidas, e no final encontraríamos e capturaríamos a borboleta maior, a da iniciação. Aquela que não se pode prender, pois ela passa e se transforma em segunda vez. Tenho certeza de que serão muitas vezes na vida desta menininha. Não vai ser sempre comigo, mas pelo menos me sinto honrado de ter tido a coragem de botar Letícia Tonelli no palco, pela primeira vez, cantando num dueto mal ensaiado (porém com a letra já decorada por ela há dias, o que muito orgulha meu ego).

E depois a menininha magrinha e alta para a idade, que reluta tanto em comer, traçou sorvete com bananas carameladas e depois batata frita. É... nada como a adrenalina no sangue!



Assistam ao vídeo!




quinta-feira, 19 de maio de 2011

Estilo B.

Sinto-me penalizado por mim mesmo. Tenho sentido inspiração a escrever bem às cinco da manhã quando era o meu sonho que deveria estar me contando histórias e não eu pra qualquer um. E essa pena dói porque embora vagabundo, tenho uma pá de tarefas a serem cumpridas amanhã, e um esforço enorme pra suceder na vida como sempre me encheram aqueles que me pregaram na cruz e me alimentaram ao mesmo tempo.

O fato é que eu entrei no quarto e logo vi que não tinha nada pra beber. Fui até o boteco mais perto da Hollywood brasileira, que dista umas 2 milhas da onde moro e finalmente consegui ver umas garrafas. Só tinha merda. Voltei pra casa com um rum Bacardi do bom, e um vinho do porto. Cumprimentei várias "trabalhadoras" noturnas no caminho. São gente fina. Se eu fosse jornalista só entrevistaria puta. Acho a profissão mais digna do mundo: ser puta. Ser puta é tudo o que uma mulher deseja quando ela nao deseja ser puta. Uns travestis vieram tentar roubar meu porto, chutei-lhes os bagos e acabei com suas profissões. Agora eles podem se mandar pra China que lá os eunucos têm cargos altos, ou pelo menos tinham há uns 2000 anos atrás. Quando o imperador morria era sepultado com seus serviçais vivos. Acho isso o cúmulo do egocentrismo, ou da baixa auto-estima. O cara nem na morte consegue vencer o medo do escuro. Eu sempre tive medo do escuro. Quando era criança disseram que eu era um idiota, um retardado, que deveria pular um ano escolar para trás. Me mandaram a uma psicóloga, muito da gostosa, mas na época eu nem sabia que isso existia, tinha 5 aninhos apenas (se fosse hoje traçava ela), e ela além de perder tempo me aliciando com "aulas" de educação sexual, me fez um teste de QI. Resultado? Fodão. Sou um Einstein embora mesmo assim ninguém acredite. Nem mesmo minha mãe. Mas não há nada que o Bacardi não cure, e meia garrafa já entrou por essas linhas mal traçadas.

Espera! Acho que estou ouvindo batidas na porta. Não pode ser, o pessoal aqui tá dormindo que nem paralelepípedo. Sempre quis usar esta palavra num texto: consegui. Huahuahua! Não, fiquem tranquilos, a vizinha está fodendo e o namorado dela é um gay muito do King-Kong. Eu conheci uma vez uma menina muito louca, porém asseada e culta, que saía com um cara de alcunha King-Kong. Um dia liguei pra ela e ela atendeu num motel. "Espera Alan que to no motel com o King-Kong... ih cacete o cara quase engoliu a garrafa de coca-cola inteira! Putz... que arrotão! Não sei como saio com homens assim, Alan, eu devia é parar de trair o meu namorado, que tem grana e me trata bem. Bom, tenho que ir, pois o King tá de volta e tá nervoso."

Porra, acabou o Bacardi, vou ter que partir pro vinho! Será que álcool combina com Rivotril e "brochest? Bom, enquanto se escreve não se morre. Então tá tranquilo. Se eu tivesse em Hollywood agora eu ia dar uma volta no meu antigo e imenso quarteirão. Coisa enorme. Só a circunferência dá a praia de copacabana inteira. Mas eu gostava de perambular que nem um otário curtindo a minha solidão, depois de encher a cara com cerveja irlandesa bem forte, tipo Ale, que quase chega a ser considerada licor e são ótimas. Melhores que as merdas que se vendem aqui nesta cidade de merda. Cerveja brasileira é mijo. Acho que na fábrica ficam uns negões mijando e a torcida do flamengo acreditando que aquilo alí é lúpulo. Se bem que tem quem tome mijo e goste. Dizem que faz bem à saúde. Se fizesse a gente não expelia, é ou não é?

Lembro que um dia em L.A. depois de um show meu, às 4 da matina, entrei num supermercado e fui aliciado por uma velha bebada e alcoólatra que me jurou que era da indúistria fonográfica. Me encheu o saco e deixou um telefone pra eu ligar naquela mesma madrugada. Liguei. Atendeu o suposto marido da louca. Blablablou 3 horas seguidas sobre o mercado fonográfico, e eu só tentando identificar alguma verdade naquilo. Sabe como é né? Músico deseperado naquela cidade dos "sonhos" só não vira stripper porque é feio e homem. E não é que o sujeito entendia mesmo do business! Até acreditei no palhaço, mas é óbvio que não deu em nada. Dias depois a mulher me ligou e confessou que só queria me comer. Resolvi minha frustração profissional tocando uma punheta. LA é um grande lugar. Sinto falta das gangues de rua, das prostitutas que ao contrário daqui, tentam parecer donas de casa e te namorar. Isso aconteceu comigo, mas já bebi muito pra contar. Só me resta um cálice de vinho e daqui a pouco o dia vai clarear e essa merda de sociedade vai levantar e fazer as mesmas merdas de sempre, e foder as suas mulheres idiotas e nojentas e por obrigação.

Só pra terminar eu gostaria de dizer que estudei numa merda de colégio chamado Max Nordau, o qual eu desprezo e que foi incorporado a um outro um pouco mais digno. Fica na rua Prudente de Morais em Ipanema, e sempre que eu pego um ônibus eu sinto o prazer de estender meu dedo médio sempre que passo por ele. Antro de marginais que não merecem o uísque que eu desencavei agora no armário da minha sala. Um dia, há mil anos, eu quis entrar no colégio M-A-X-N-O-R-D-A-U pra botar uns flyers de aula de violão. Tentando ganhar alguma graninha com a meninada ingênua que não sabe onde se meteu. Fui barrado na porta. Não adiantou dizer que sou judeu, nem que cursei naquele lugar purulento à vida inteira. Me trataram como um pústula periculoso que poderia invadir a escola e aliciar meninos com panfletos de aulinhas de violão. Logo eu que sofri na mão daqueles covardes que tratavam crianças de acordo com suas reminiscencias de perseguições judaicas, possivelmente. Tudo que eles merecem agora é o meu dedo médio a cada viagem de ônibus por Ipanema. Pelo menos relaxo.

Bom, acabou o álcool. Vou dormir. Meus amigos de verdade sabem que eu só tomo chazinho de camomila e coca-cola. Mas vocês vão ou não vão acreditar nisso, hein?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Tomadas

Quando eu era menino e olhava pras tomadas nas paredes elas também olhavam pra mim. Eram como dois olhinhos me desafiando, troçando a tocá-los, então eu colocava meus dedinhos naqueles olhinhos de carinha de robô e tomava aquele choque de 110 tão comum como surra de mãe que estremece mas não mata.

Hoje não sinto mais esses choques infantís. Os elétricos continuam, e por isso não coloco o dedo nas tomadas das paredes, mas sim nas da vida. Os da vida são mais sinceros. Os olhinhos eram lúdicos, mentiam mesmo, diziam que eu ia morrer e eu não morria. Hoje eu morro todo dia sem nem tocar numa tomada.

Uma vez, menino, caiu uma chuva danada no momento da saída da escola, e lembro eu, que naquele dia eu e um amigo havíamos decidido ir para casa a pé. Geralmente pegávamos o 433 de Ipanema pra Copacabana, onde eu morava. Mas naquele dia decidimos andar, e como éramos meninos, e a distância era tão lúdica como as tomadas das infâncias, pareceu uma andada de cidade inteira. Hoje ando países e nem sinto. Mas voltando... lembro que, por algum motivo, fiquei descalço, e no meio do caminho, a umas duas ruas de casa encostei a mãozinha num poste para descansar. Não é que levei o maior choque da minha vida?! Meu fôlego foi todo embora, tremi como se um terremoto passasse por mim, e botando a mão no peito, senti meu coraçãozinho quase interromper seus batimentos. Juro até hoje, sem nunca saber se teria mesmo sido, que quase morri, e que se não fosse apenas um menininho, provavelmente teria deixado o mundo naquele momento. Passada a tontura me recuperei e me encaminhei para casa.

Nunca esqueci aquele dia, nem o poste, nem o choque, nem o que senti. Até hoje tenho receio de tocar em postes, e descalço, e com chuva, não toco nem que me paguem.

Mas foram muitos choques que tomei na infância, e ainda tomo. Acho incrível como podemos existir num universo onde tanta energia pode te matar numa fração de segundo. Choques reais, ou melhor dizendo, choques de realidade, choques reais, aqueles que você aprende com a vida, tocando nos postes e morrendo. Hoje todo choque mata, ou pode matar. Na minha meninice os choques por piores que fossem eram choques lúdicos. E quando não havia jeito havia a minha mãe pra me salvar. E mal eu sabia que isso devia ser um choque de poste grande pra ela. E era mesmo. Mas os choques lúdicos da miha infância também deixaram marcas inexpugnáveis muitas vezes até com anos de análise intermináveis. Minha analista outro dia me deu alta. Disse que eu já analisei tudo que podia, que agora é botar a mão na tomada e ver no que dá. Cheguei à própria conclusão de que são anos de análise apenas para se chegar à entender que a coisa é simples. A vida é pra se levar choques. Mesmo quando eles podem matar.

Mas não é de morte que eu tô falando, porque não pretendo morrer nunca. A questão é que tomei tanto choque de tanta tomada diferente.... e hoje sei tanto dos traumas que tomei nos choques da infância, que acho que minha analista está completamente equivocada, e eu não vou ter alta nunca.

Camus dizia que a vertígem é na verdade a vontade de pular. É por isso que eu botava a mão nas tomadas. Eu queria saber o que ia acontecer. Eu achava que ia morrer se botasse, mas eu também sabia que não ia morrer coisa nenhuma, pois minha mãe nunca ia espalhar armadilhas pelas paredes que pudessem me fazer mal.

Mas levei choques que não tive coragem de contar pra ninguém (a não ser minha psicanalista que continua comigo). Choques de uma infância lúdica, choques que matavam por dentro, e que eu tinha vergonha de levar. Desses eu, muitas vezes não tive a coragem de "testar" a morte. Pois esses não haviam sido espalhados pela minha mãe pela parede da minha casa. Esses não acendíam luzes. Esses as apagavam, e me davam medo de morrer de verdade.

Que se fodam as tomadas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Nu

Eleonora e Etevaldo eram ricos. Muito ricos. Gostavam de se divertir com isso. Passavam o tempo filosofando a existência e comendo tirinhas nos sushis da cidade. Entravam molambos, causavam impressão e tinham mania de provocar desconforto social como forma de se divertir e matar mais ainda o tempo que o dinheiro sempre tende a alongar.



Uma vez Etevaldo, num arroubo de saquê, insistiu que ia tirar a roupa toda dentro de um daqueles espaços reservados escondidos para os milionários que desejam discrição dentro de um shushi. Eleonora ria-se e engasgava-se com peças de salmão cru, e apostava mundos e fundos que Etevaldo nunca teria coragem de cometer tamanha loucura. Pois que o milionário tirou tudo. É claro que o maitre entrou, “reclamou” de forma constrangida, pois afinal, tratava-se de dois altos consumidores e o mundo é capitalista mesmo (nada contra). Daí em diante isso virou rotina na vida de Etevaldo e Eleonora.



A diversão dos dois se resumia em comer sushi e ficar pelado. Mas nada de sexo em público, nem entre paredes. Isso eles desprezavam. Consideravam coisa animalesca devida aos bichos, e que dentre os humanos apenas os “paraíbas” nordestinos a praticavam, aliados aos indianos e aos comunistas cabeludos. Até porque para os dois esta era a manifestação primária de um prazer visceral, digno das caravelas (não as de Port du Cal) que se esfregavam até que outra nascesse, e é claro que não é assim que acontece... Mas para Eleonora e Teobaldo que já tinham mais de 85 anos, comer sushi e mostrar as carnes flácidas era mais orgástico que sexo.


Pois é, eram dois velhinhos com carinhas boas e olhar arrogante, e que conseguiam conjugar felicidade e fim de vida, coisa que só é possível com uma conta polpuda no banco e alguns anti-depressivos, e sushi, é claro.


Pedro era um sujeito pobre. Não tinha nada, e nada o tinha. Trabalhava num prédio como ascensorista. Ganhava salário mínimo e seu único laser era namorar com Fátima, empregada doméstica do 501, pois o prédio era misto e conjugava prostíbulos, advogados, médicos e gente de bem também. Mas Pedro era extremamente puritano. Vinha de uma família pudica e tradicional de Minas que execrava (hipocritamente, pois faziam de montão) o sexo à toa. Fátima era safadinha, mas Pedro era até meio virgem, se é que isso pode existir. Pedro era na verdade um tímido do cacete, literalmente, e tinha até uns problemas de ereção aos quais atribuía a sua profissão de subir e descer tanto de elevador, que o deixava maluco. Dizia que isso devia deixar as veias confusas e o sangue ralo demais, além de dar dor de cabeça, e que de tanto apertar botão às vezes não conseguia apertar mais nada. Portanto este laser que Pedro tinha era um laser meia-bomba. Coisa de pobre mesmo, que transa vendo o flamengo na TV. Para finalizar o parágrafo, Pedro era incapaz de expor seu corpo, a não ser para Fátima, e mesmo assim com uma certa mineirice protocolar. Tímido até doer.


Num belo dia de sol, verão brabo do Rio de Janeiro, domingão de praia cheia, de ruas entupidas por turistas fugidios das crises mundo afora, e muita gente daqui mesmo, gente passeando, comendo, suando, fedendo, e se aglomerando pelas ruas de uma Copacabana que já foi Leblon, e que agora já é Centro, Pedro e Fátima vestidos, ele de roupa grossa de trabalho, e ela de roupinha delicada do Saara, almoçavam seu banquete mensal traçando um galeto, juntinhos numa padaria bem vagabunda, porém grande, e que fica na esquina da Santa Clara com a Av. Nossa Senhora de Copacabana.


Neste momento único nas vidas de todo o mundo começou a chover quíntaros, daqueles de causar tsunamis nas garagens dos subsolos dos prédios de classe média de Copacabana. E naquele mágico momento Eleonora e Etevaldo, saídos de um taxi, num bairro muito pouco freqüentado por eles (mas fazer o quê né? Acontece..) entraram correndo na fatídica padaria em busca de abrigo pois haviam esquecido os guarda-chuvas na cobertura de Etevaldo no Alto-Leblon.


Ao entrarem na padaria deram de cara com o casal, Pedro e Fátima, traçando o galeto como se fosse a maior e mais polpuda das iguarias de toda a gastronomia mundial. Etevaldo e Eleonora ao se entreolharem emergiram aquele sorrisinho de troça típico dos que não têm o que fazer com a vida já ganha, e no mesmo momento fizeram a Pedro uma oferta: que ele ficasse completamente nu em troca de um milhão de reais. Pedro no começo riu, duvidou, ficou até zangado achando que poderia ser alguma proposta indecente, sei lá... mas com tudo explicado e o cheque bem preenchido na mãozinha dele, olhou bem nos olhos de Eleonora e de Etevaldo e viu que ali havia a desvairada verdade dos que possuem alguma coisa e ficou completamente nu. E já sem roupa, num riso louco, seu pau, há tanto tempo meia bomba, subiu. E sob os olhares perplexos da multidão, e de sua namorada Fátima, saiu pela avenida em direção ao banco.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tudo Igual

Quebram-se as pedras
Inundam-se as pastagens
Mármores explodem
Viram-se os Homens
Comem-se as selvas
Explodem-se as coragens
Alteram-se as forças
Novas forcas são criadas
Mas o mundo continua o mesmo

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fabulinha inventada agora

Existe uma história folclórica do futebol brasileiro que diz assim: Durante um jogo importante entre um time grande (que não me lembro) e o Botafogo, com os dois times empatados, o juíz marcou um penalty. Segundos antes da cobrança o artilheiro botafoguense pega a bola e vai em direção à marca. No caminho um jogador do outro time sussurra-lhe no ouvido: "se perder você recebe 10,000 "dinheiros da época". O artilheiro, fantástico jogador, nunca perdia penalties, e além disso era honesto e mandou o outro à merda. Botou a bola na marca, deu distância, correu, e... chutou pra fora. Furioso, que ele ficou, se jogou no chão e esmurrava a grama loucamente quando o outro jogador adversário (o que fez a proposta) volta-se a ele sussurrando de novo no seu ouvido: obrigado, cara, o dinheiro estará disponível no vestiário.

Moral da história:

O subconsciente da gente é muito louco, confuso e mandão.

Dai-me




Deus dai-me um jardim
Com flores e borboletas azuis...?
Pois então... me deu a Avenida Atlântica...
Bom, existem borboletas nela
Não as que me apetecem, mas a alguns corvos, ou cornos, sim.

Deus dai-me exposição na mídia, sucesso como artista, etc, etc.
Pois então... deu-me o Facebook, e um monte de amigos que publicam seus manjares maravilhosos e cagam pra minha música.

Deus dá as coisas de formas esquisitas: Slip Slidding Away, dizia o músico. E vai ver, o santo daime talvez seja chamado assim por que seus seguidores têm a ilusão de que estão recebendo alguma coisa divina: daime.

A verdade é que Deus não dá, Deus pede. E muitas vezes não concedemos a ele a decência de sermos nós mesmos. Atolados por compromissos e obrigações de morte ou vida, somos aqueles que acreditam em qualquer coisa que nos faça sentir melhores. Nossa auto-estima é uma merda e Deus sabe disso.

É por essas e outras que os judeus cruzaram o caminho mais difícil até a terra de Canaãn. Porque Deus "pediu" que fosse assim. Que mostrassemos nossa vontade. Deus é na verdade existencialista. Sartre não inventou nada.

Este não é um texto religioso. E muitas vezes acho que Deus está em Teresópolis passando o fim de semana e esqueceu sua plantinha sem água. Mas lembrem-se que as plantas se movem em direção ao Sol, e nem músculos têm para isso.

domingo, 8 de maio de 2011

A Minha Mulher Furta Cor

A minha mulher feliz é um cetim furta-cor. Nela se esconde o indefinido, o que não se pode pegar tão escorregadio é a alegria diversa em cores que no fim nem são cores, são como uma aura de algo que não dá pra explicar. A minha mulher triste é como um balde que busca água de um poço num sertão qualquer, onde a caatinga predomina e o povo já emigrou faz tempo com medo das enchentes dos ventos vazios e empoeirados. A minha mulher feliz é a água que existe de repente no fundo deste poço e que por algum motivo ninguém viu, ou apareceu como um milagre, talvez chuva, e que vai fazer retornar à vida o vilarejo inóspito do lugar insólito e perdido que se salvou. A minha mulher triste são óculos de grau quebrados, uma moeda de um real num canto que o mendigo não consegue ver, é a felicidade tão próxima e tão perdida, é a casinha humilde na letra da música do Vinícius, é a dança solitária numa praça iluminada por um poste amargo. A minha mulher feliz dança por essa praça sozinha, e o poste amargo e amarelo sabe que é farol, e que a nau vem, está atravessando a rua apesar dos carros desvairados e das bicicletas na contra-mão, e dos punguistas à espreita, que ela vem, a nau, e que vai destroçar a frota de francesa e vai realizar num abraço tão forte o sonho do universo. A minha mulher triste é uma criança sentada na sarjeta de um meio fio, chorando, e implorando por dez reais que faltam para que a família não seja despejada de algum buraco no Bairro de Fátima. A minha mulher feliz é o homem que chega e oferece esses dez reais, e encosta o dedo na lágrima de criança e diz: existe um mundo, embora não exista humanidade. Que a felicidade é uma guerra entre a alegria e a tristeza. E que embora um aluguel não possa ser pago com amor, um amor também não pode ser alugado. A minha mulher triste é feliz porque existe e sabe disso.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Wiskey in the jar




Entravam pela minha cabeça. Carregando martelos, picaretas, ancinhos e outras parafernálias. Procuravam o meu ouro, ou talvez o meu urânio. O meu urânio come meu cérebro. Demora mil anos de corrosão, de radiotividade. No fundo vira chumbo. E pesa, ai... como pesa. Devo ter sido um dinossauro de tão antigo e pesado que sou. Já o ouro... roubaram, ou foi perdido por um tataravô que nem sei se existiu, tamanha as lendas e o peso do chumbo que embota minha mente familiar.Lendas são sempre radioativas e somem em partículas com o tempo. O ouro é lindo, mas só serve pra vender música, que na verdade é o que importa, e é o único mineral oriundo de algum outro planeta, e que um dia caiu na Terra. Bom... entravam pela minha cabeça e saíam cantando: "There's wiskey in the jar, there's wiskey in the jar..."

terça-feira, 3 de maio de 2011

Bin Laden

Não acho que isso resolva o problema. Tenho certeza de que as vidas perdidas nos ataques terroristas são irreparáveis.

Mas graças a Deus, esse idiota do Bin Laden se foi. Morreu.

Thanks God Bin Laden is dead!