segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O tempo não há

O tempo não existe
O tempo está parado
Apenas nós, os ladrões do tempo,
O roubamos a cada passo
Com nosso movimento
Giramos a incrível esfera
Gastamos o concreto com nossos sapatos
A massa da nossa terra
Desgastamos
Cozinhamos o pão
Comemos e morremos
Alerta, irmãos, alerta!
Não há quarta dimensão!
Há apenas o tempo que não existe
E aquele que nós fazemos

domingo, 23 de novembro de 2008

Outro dia vi a foto de uma moça que eu conheci. Na foto estavam ela, o filho de uns 5 anos, e o ex marido. Ela é uma mulher alegre e bonita. Muito bonita até. O filho é alegre como a mãe, e o pai parece ser um cara legal e cuidadoso. O pai, que também é ex marido, e ela aparecem na foto olhando o filho de forma orgulhosa e extremamente amorosa. Mas o que tem tudo isso a ver? Porque escrever sobre uma coisa corriqueira dessas?

Por nada, não. É que ao ver a foto eu pensei numa coisa interessante e paradoxalmente bela, ou talvez nem tanto, mas acomodadamente bela nos destinos da nova humanidade de cada dia.

As pessoas achavam que o ideal era sempre os pais juntos, casados em amor, e criando os filhos juntos, todos compartilhando desse amor maternal e ideal. Eu sempre achei que essa forma de união fosse a melhor para os filhos. Que só com muito amor desse tipo eles poderiam crescer saudáveis, e possuir uma idéia boa do que simboliza o amor eterno. Achei que a únicaforma de uma criança crescer feliz seria através de pais casados e que se amassem.

Mas olhando essa foto eu vejo a coisa toda de outra forma. Os pais dessa criança não se amam mais, não da maneira "ideal". São amigos. O amor mudou, viraram grandes amigos que compartilham algo indescritível.

E essa criança poderá crescer até melhor do que as que possuem a sorte de terem pais unidos no amor e em casa. Essa criança vai crescer com a exata medida do amor. Ela vai saber que o amor existe, mas acaba. Vai saber que embora acabe ele pode se transformar, e que nem tudo que se transforma vira algo canalha. Mas que pode virar sim.

Não acho que a outra criança, dotada de tudo certinho deverá ter uma vida hipócrita cheia de mentiras. Mas acho que não estará condizente com o mundo em que vivemos hoje. Ou se estiver, pelo menos não estará tão preparada para os infortúnios e degraus da vida. Cada vez mais cheios de buracos de espinhos e buracos de algodão.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obamaaaaaaaa!

Ontem no seu discurso de vitória Obama disse: "We as a people are gonna get there!. " Disse dessa forma. Não disse: "We as a country, are gonna get there." Uma sutil mudança, uma ligeira maneira parecida de dizer uma coisa diferente.

Tenho certeza de que poucas pessoas devem ter se ligado nesse detalhe. Houve outros. Mas este sintetiza o discurso do Obama. A mudança (change) que ele prega é esta. Antes os Estados Unidos eram um país, agora são um povo. Um povo misturado sim, que se auto segrega, que briga, de divide em vários, mas que acima de tudo, especialmente agora, são um povo. Essa noção hebraica de povo é algo que poucos conseguem entender, poucos conseguem realizar, botar em prática.

Ontem eu vi um momento de confluência histórica. Há quarenta e poucos anos atrás um negro e uma branca fizeram um filho mulato. Se Obama fosse completamente negro o momento histórico pontual de ontem não teria se dado. Pareceu que o destino realmente havia sido traçado por alguma conspiração universal. Foi preciso também oito anos de um fracassado governo típico redneck. Foi preciso que acontecesse na era da super e total informação, da internet fácil, rápida a ponto de poder ser usada como mecanismo arrecadador. Foi num momento em que o mundo se cansava irremediavelmente dos EUA. Se Bush pisou na jaca de forma forçada e escrupulosa, Obama pisou no arco-íris de forma inevitavelmente por acaso. Ou nao.

Sou um cético. Sempre tenho a impressão de que estão armando um teatro e que vão me enganar. Isso é um bem, e um mal que possuo. Mas acompanhei tudo ontem, consciente do que estava acontecendo. Consciente do momento histórico que se escrevia na minha televisão, aos meus olhos. Eu que vivi alguns anos nos EUA, e entendo como eles são, como pensam, como expressam seus sentimentos ambíguos de racismo e liberdade. A figura física deles nada mudou. Quem viu pela CNN o mapa azul (democrata) e vermelho (republicano) da eleição percebeu que é o desenho dos EUA durante a guerra civil. O nordeste superdesenvolvido e industrial votou no Obama, enquanto o sul patriarcal e "escravizante" votou no McCain. O centro longínquo e reacionário votou no republicano, com exceção da região de Kansas, que é um pouco mais cultural sim. A costa oeste da California votou no democrata.

Os americanos não mudaram de um dia para o outro. Não foi um milagre o que aconteceu. Foi um desenho de uma contrução histórica, que aos poucos vai traçando um novo rumo naquele país, para aquele povo. Hoje são uma maioria feita de minorias. Minorias que cada vez mais se interligam, que aumentam em volume, em quantidade e não há mais como não se fundirem. E se sobrepôem aos pilgrims iniciais.

Vai ser difícil vermos um presidente europeu negro. No dia em que isso acontecer aí sim o mundo realmente mudou de verdade. Depois de oito anos de um governo comprometido com os interesses de um segmento tradicional, pioneiro naquele país, racista, segregador e fracassado intelectualmente, o povo americano optou por fazer a diferença. Obama foi o sujeito certo, que fincou o pé certo no local certo, no momento certo. A luta ontem foi travada pela ignorância contra a inteligência. Felizmente ganhou a inteligência. Me emocionou ver americanos negros abraçados com brancos. Me arrepiei ao ver as familias dos futuros governantes no palanque (palco); louros e negros juntos num país onde eu vivi, e nunca imaginei isso pudesse acontecer. Não tão rápido, pelo menos. E nada ali foi teatro.

Tudo vai ser difícil. Ninguém sabe qual será a qualidade técnica deste governo, mas uma coisa é certa. A personalidade está aí, e ela é rara em nossos tempos, é preciso aproveitá-la. E há algo que temos que admirar no povo americano: o povo americano aprende com seus erros. Precisamos fazer o mesmo por aqui.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Meus caros amigos!
Uma grande amiga
Pessoa de olhos na luz
E luz na vida
Quis me filmar tocando uma de minhas músicas para colocar no seu lindo e interessatíssimo blog!
http://lulixpandaglia.blogspot.com/
Procurem por Alan Sommer no blog.
Um beijo
Alan

domingo, 26 de outubro de 2008

Um dia de votação na vida de um carioca verde de medo

Você acorda de manhã, bem cedo mesmo. É dia de eleição para prefeito do Rio de Janeiro e você quer ser ver logo livre desse estorvo democrático. Você sabe que essa obrigação na verdade não tem nada a ver com democracia, quanto mais com realização da cidadania, e você na verdade gostaria que enfiassem a constituição no cu, mas deixa pra lá. Você acorda e na verdade, ao contrário das últimas eleições, desta vez você está até ansioso, esperançoso, podendo-se dizer até um tanto feliz, porque acredita no Gabeira, que é o seu candidato. Na última semana você até desperdiçou um pouco do seu tempo ocioso para fazer um pouquinho de campanha para esse candidato, Gabeira, em quem você realmente acredita. Você não saiu nu pela rua gritando o nome do Gabeira, mas você mandou e-mails para os amigos iniciando uma possível corrente daquelas chatas, mas nesse caso democraticamente útil. Ah... quem sabe agora o Rio não terá uma chance de crescer, de dar adeus aos governantes enfadonhos e sacanas, suas mãos nefastas em cima do dinheiro público, seus semblantes canalhas, tudo isso evidente nos seus traços de cariocas criados nas quinas dos subúrbios, seus olhinhos sempre meio puxados como que sempre mirando microscópicamente o interstício, a fresta onde o dinheirinho se encontra. Você sabe que o Gabeira não é assim. Pelo menos espera que não seja assim. O Gabeira usa tanga que é igual a mulher que também usa tanga, que resulta no Gabeira sendo igual a mulher, e mulher é um negócio legal, silogismo democrático, isso aí. E essa espera já dura um mês. O mês do segundo turno foi marcado por altas discussões entre amigos, e a certeza da vitória do Gabeira, ao ouvir um porteiro falar a outro numa rua dessas enquanto você passava a caminho da praia: acho que vou votar nesse putão do Gabeira. Então você acorda cedo e vai pra rua votar. Na verdade você não acordou cedo nada. Você chegou da esbornia, onde passou com uma menina, que também é Gabeira por sinal, claro!, e você tentou dormir um pouco mas não deu, a emoção da votação era grande então porque não ir ao encontro das urnas logo, acabar logo com essa ansiosa liberdade compulsória? Foi o que você fez, e agora você se encontra acordado se vestindo para o grande momento de apertar o botãozinho e ver o Gabeira levar o caneco pra casa. Você entra no carro e vai à sua zona eleitoral que fica longe por motivos que não convém a esta história no momento. Você dirige quilômetros pelas ruas vazias da cidade e aí você se dá conta de que não é dia porra nenhuma, nem cedo droga nenhuma, e que você está tão atrasado para a votação que vai ver é por isso que de repente esse vazio na avenida das Américas culminou num puta trânsito do caralho, um congestionamento automobilístico de proporções cardíacas e que talvez você não consiga votar no Gabeira a tempo, sem que a cidade antes faça uma ponte de safena na Avenida Niemeyer. O que fazer? Pobre do Gabeira, pobre de você? Será que vai dar tempo de ter um tempo? Eis que surge uma brecha no asfalto e por um destino de filme de ação você consegue estacionar seu carro em Copacabana e correr para a sua zona eleitoral. Você chega na zona eleitoral na hora certa, no derradeiro momento em que ela vai fechar, seu bravos trabalhadores e felizes voluntários designados pelo modelo democrático brasileiro o aguardam exaustos e felizes por faltar apenas um minuto para o término da eleição. No momento em que você assina seu nome na lista de participantes é que você fica sabendo através de uma menina bonita e gostosa de olhos verdes e cara de safada, voluntária da mesa, que a votação está empatada e que resta apenas um voto a decidir o futuro do Rio de Janeiro, e que este voto é seu. O voto de Minerva é seu afinal! (Importante dizer que isso tudo não seria possível se não fosse a maravilhosa computação instantânea dos votos eletrônicos que funcionam melhor do que na realidade, e apenas nesta historinha). Você, pasmo, de repente se vê frente a urna, o voto de minerva na mão, o silêncio na alma, o olhar da menina safada na cara, o número do candidato na cabeça, e uma multidão inteira esperando ansiosamente pela sua peremptória decisão. É agora, cara! A bola está nos seus pés, e neste momento até o Gabeira está a te mirar, implorar, vote em mim, seja mais um, dê uma chance ao Rio, a sí mesmo, à turba intelectualóide do baixo gávea, às massas da pizzaria Guanabara, ao fim da dengue na zona oeste, às plantinhas, a alguém, pe-la-mor-de-De-us! Número 43! Número 43! Número 43! O PV e o povo verde de medo pede! Você olha para o povo com orgulho de não ser um gorgulho como alguns são, e caminha, pisando com decisão para o lado obscuro da urna, onde há a solidão do cidadão. E aí você de frente para a geringonça eletrônica afia o dedo, pensa no Gabeira, número 43, e é aí que de repente algo acontece e você não sabe o porquê, mas você vota no EDUARDO PAES! Faz-se uma comoção, pessoas choram, tentam te linchar, mas entre cuspidos e sacos de arroz você foge, entra no seu carro e some do bairro.


*** *** ***

Que pena que o Gabeira perdeu.

Não se sabe que tipo de governo ele ia fazer, mas a sua eleição seria uma demonstração de repúdio à continuidade inerte e antiga do Rio de Janeiro.

O Gabeira fez uma campanha bonita, limpa de porcarias pelas ruas, pelas praias... sem a invasão sonora e visual da campanha de outros, invadindo nossos ouvidos, nossos olhos, nossa paciência...

Hoje de tardinha, quase noite, eu fui dar uma volta na praia da barra e fiquei, mais uma vez, abismado com o grau de sujeira e falta de educação do carioca médio, que frequenta a sua tão valiosa praia de domingo.

Na areia fina da Barra, garrafas em profusão, canudos aos milhares apontando o céu, restos de comida, latas esperando às ondas servirem de comlurb natural...

O Rio de Janeiro vive há anos o dilema da cidade que perdeu o seu título, perdeu o seu valor...
É uma cidade que parece que quer, mas não quer ser melhor, e sempre morre na praia da ingnorância.

O carioca é um ser mimado pelo império, ultrapassado pelos novos tempos, romantizado pela maladragem do "bem" que não é mais do bem, e nunca foi realmente.

Um povo que sofre nas filas da dengue, mas é incapaz de fazer uma revolução, ou mesmo optar por um governo alternativo, novo, diferente.

O carioca é um porcalhão que suja a própria areia onde senta.

É claro que esse carioca na hora da urna não ia votar no Partido Verde. Ilusão minha...

Ingenuidade de quem esperou...

O carioca, na sua maioria, não está preparado.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Argemiro perguntou pra Dorotea: com quantos barris se faz uma taça de vida?
Argemiro era pobre. Dorotea também.
Argemiro morava numa casa que era um buraco. Argemiro perguntava para Dorotea: com quantas casas se faz um buraco?
Dorotea era parda, tinha um olho azul de luz e o outro azul de escuridão.
Tinha cinco filhos e uma cadeira. Redes penduradas em paredes de taipa e um furo na alma.
Com quantos furos se faz uma alma?
Dorotea catava a comida, Argemiro plantava o que podia. Os filhos morriam de vento. Noite de vento, noite dos mortos, dizia o poeta. Com quantos mortos se faz um vento?
Dorotea ouvia música. A música do chão, da terra crescendo, se espalhando, cobrindo tudo. Essa terra que dá e toma. Argemiro tocava uma viola de uma corda só. Mas sabia o que era música, música é farinha doce. Um dia passou um avião por cima do costado. Bateu um vento do oeste que deixou o piloto maluco. Abriu-se a portinhola e choveu dinheiro na cabeça dos descabeçados.
Com quantos dinheiros se faz um Argemiro e uma Dorotea? Só sei que hoje dormem melhor. Não é sono de morte, é sono de vida. Com quantos barris de faz uma taça de vida?

sábado, 18 de outubro de 2008

NÃO!

Quem se lembra da epidemia de dengue do ano passado e deste ano ainda? Quem se lembra da cara do governador Sérgio Cabral pedindo desculpas na televisão à população, pelo descaso das autoridades, enquanto pessoas inocentes iam morrendo ou padecendo nas filas paradas da burocracia e da precariedade dos hospitais cariocas?

O candidato a prefeito Eduardo Paes é o candidato do governador e representa a continuidade do seu governo à toa.

Quem votar nele estará votando na continuidade de um governo ruim. Quem votar no Eduardo Paes estará pedindo pra que soframos de novo uma epidemia de dengue, quem sabe ainda pior.

Pior! Todo mundo sabe, mas poucas pessoas se atentam a isso. Se o candidato desse governo inerte for eleito prefeito, as chances deste se transformar em governador num futuro próximo são enormes, já que é sabido que quem comanda a máquina governamental tem mais possibilidades de se eleger.

Queremos uma continuidade de mais 12 anos pelo menos??? Com Sérgio Cabral e Eduardo Paes se alternando no poder?

Por favor. Eu não sou de fazer campanha pra ninguém, mas não votem nesta continuidade!

Vamos dar uma chance ao Rio de Janeiro, tão estragado e nosso....