quinta-feira, 31 de maio de 2007

Te quero sozinha. Porque minha vida é só. E a vida é só para qualquer um. Te quero sozinha, como a um pasto. Grama solta e baixa, mas aos joelhos afunda. Eu quero a loucura de caminhar só. E caminhar já é loucura, porque o fogo queima a mata que é seca, e tudo que é seco é só. Te quero sozinha, como arde a brasa dos meus anos eternos. E tudo que é eterno acaba um dia. Um dia só. Quero inaugurar a folia do carnaval atômico. Aliviar as preces dos palhaços atônitos. Mendigar a última moeda do infinito que me resta. Receber minha solidão sozinho. Sem ninguém a barca voa. Quero me juntar ao vácuo dos tempos. E me precipitar no chão onde a chuva há de cair. Só. Tudo que cai cai só. Te quero sozinha, porque me excita a tua solidão. E do fundo do meu coração componho uma rosa de verão. Não existe canto além do canto só. A interseção da sala vazia, o princípio da mesa só. Te quero sozinha e mágica, como a árvore dos dias, a cor dos interstícios, a harmonia dos cânticos que restam. A anatomia do trágico é uma queimada. Quero te só, pois só assim estarás comigo.

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